sábado, 31 de dezembro de 2011

Um mundo melhor.

Mais um ano. 2011 à poucas horas de seu término. A sensação de estar sendo manipulado pelas grandes ofertas, ainda sentindo o ritmo alucinado das compras do natal, dos shopping centers sempre solícitos em "bem-servir" seus usuários, a individualidade dos amigos e familiares, correndo atrás de seus próprios interesses, os pastores da igreja e suas membrasias, a falta de compreensão do que é Amor dos chamados cristãos, sempre procurando e clamando a Deus mais bençãos individuais e achando que Ele só tem interesse neles mesmos, são clamores que Jesus classificou como "não sabem pedir, pois, pedem para si mesmos...", tudo isso, me deixa mais pensativo, mais introspectivo, mais isolado. Penso, sempre, que Deus está em relação com tudo e com todos, mas, o homem acha, sempre, um meio de isolá-lo cada vez mais do nosso contexto de vida, e, cada vez mais afundamos em nossas mazelas e misérias. Um dia, um amigo me disse: "Estou tão feliz por minha vida, porque, tenho a certeza que Deus gosta muito de mim, pois, a riqueza de minha família fala por si só. Tenho pena dos outros que não tiveram ou não têm essa oportunidade na vida." Parece um tanto absurdo o pensamento desse amigo, mas, é isto que fazemos todo instante. Clamamos por uma vida melhor que a dos outros e no natal, ou na passagem do ano novo, damos a estes outros um pouco de comida um tanto de dinheiro e achamos que nossa missão nesta vida se resume a isto.
O tempo passou e um dia encontrei o "protegido" de Deus totalmente sem dinheiro e sem perspectiva de melhoria na vida, pois, todas as portas haviam-se-lhe sido fechadas, assim, passara para o bloco dos desprotegidos de Deus.
Os ricos, conforme alguém falou, têm por trás de suas riquezas crimes, sejam pequenos ou grandes, mas sempre um crime qualquer. Aos pobres, seja porque for, faltará sempre as oportunidades comuns aos ricos, e, isto é válido tanto individualmente quanto coletivamente, como no caso dos paízes, quanto mais ricos mais massacrantes, mais "bondosos" no natal e na virada de ano.
"É mais fácil um rico passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar nos reino de Deus..." dizia Jesus.
"Se queres entrar no reino de Deus, vai vende tudo o que tu tens, distribui entre os pobres, e, depois, vem e segue-me. E o jovem rico afastou-se, triste, porque era dono de várias propriedades..."
Saibamos pedir a Deus, sem pretensão individual, sem pretensão de sermos melhores que os outros. Essa é a oração perfeita, aquela que Jesus nos ensinou:
"Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome.
Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade, tanto na terra como no céu.
O pão nosso de cada dia dá-nos hoje.
Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.
E não nos induzas à tentação, mas livra-nos do mal; porque teu é o Reino, e o poder, e a glória, para sempre. Amém! (Mateus 6:9-13)."
Deus abençoe ricamente aos leitores dessa crônica, esse gemido contra a grande opressão pela qual passa nosso mundo, tenebroso, mas, que guarda a esperança de um dia ser melhor.
Maranata, Senhor.


segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Ano Novo, quem sabe?

O ano está findando. O tempo, inexorável, não poupa nada nem ninguém. As festas natalinas cedem o lugar para as de final de ano, onde continua-se desejando, saúde, paz, dinheiro e estabilidade para todos os conhecidos, amigos e familiares. Dia primeiro, de cada ano que inicia, a comemoração do dia universal da paz. Paz entre os humanos.
- Feliz ano novo, dizem os homens, entre si, e, apertando as mãos, sinal de que há um desejo bondoso, uma vontade de evolução positiva, em todos os níveis, do ser humano.
Os momentos do natal findo, materializados nos presentes, nos desejos, nos sonhos, projetos, influindo decisões, ainda que por pouco tempo, tentarão sedimentar esses pensamentos bondosos no homem, mas, logo, logo, há um retorno ao normal esquecimento das promessas bondosas. A correria da vida, investimentos, trabalhos, projetos novos e antigos se misturando, países, assim como os homens em sua individualidades, voltam à busca desenfreada de poder, de soberania hegemônica sobre os outros e a destrição, auto, continua, e, como o homem que diz que para ano vai ajudar as crianças com câncer e nunca ajuda, assim os paízes também agem, e, as guerras, mortes, fome, continuam sem controle ajudando a neo-formação e sedimentação de problemas como a destruição da camada de ozônio, mudança climática, aquecimento desorganizado do solo, derretimento do gelo das calotas polares, etc..., suicídio lento e doloroso, tão lento que possibilita aos homens mentirem para si próprios dizendo que não estão sentindo nenhum dos sinais que a ciência evidencia e continuam a praticar todo tipo de auto-destruição. A natureza reclama, esperneia e avisa como pode. São terremotos, tsunamis, furacões e toda sorte de reação, natural de quem está nos estertores da morte.
São Pedro profetizou acerca disso, do final dos tempos, acerca do final dos tempos, "vi os céus se enrolando como um pergaminho...", metáfora para nosso anseio científico de que a matéria está sendo "sugada" por buracos negros, voltando ao nada de onde saíra?
Ano novo, que cada um crie projetos de preservação, de distribuição de um Amor mais permanente, de real interesse pelas necessidades uns dos outros. Quem sabe, por livre iniciativa, arbítrio, como no Éden, onde destruimos tudo, mudando a vontade de Deus, agora também, aprendendo com a História, possamos reverter esse quadro tão trágico, em um outro melhor para todos, inclusive para nossos descendentes.
Maranata, Senhor.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O primeiro Natal.

O primeiro natal. Algo de grandioso aconteceu a mais de dois mil anos atrás. Finalmente chegara o dia do grande acontecimento previsto pelos antigos profetas, como Isaías:
" O povo que andava em trevas viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra de morte resplandeceu a luz.
Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o principado está sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. (Isaías 9:2, 6 ARC)".
O nascimento daquele que teria sobre seus ombros a responsabilidade de quebrar todos os grilhões, em diferentes áreas, do pecado no mundo. Pecado entendido como quebra da relação do homem-criatura com Deus-criador. A restauração universal. Todos os maus sestros, os maus vezos, a vilania, as transgressões, a mentira, a falta de humanidade, a corrupção, o corruptível, as sombras do perveso, os dardos do mal, os impérios, os poderes, todas as abominações, todo mal vencido por uma mostragem do plano redentor de Deus, nosso Pai, executada por Jesus em toda sua vida.
O primeiro natal. Os anjos a anunciar a todos as boas novas:
" Ora, havia, naquela mesma comarca, pastores que estavam no campo e guardavam durante as vigílias da noite o seu rebanho. E eis que um anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor. E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo, pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos será por sinal: achareis o menino envolto em panos e deitado numa manjedoura. E, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão dos exércitos celestiais, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens! E aconteceu que, ausentando-se deles os anjos para o céu, disseram os pastores uns aos outros: Vamos, pois, até Belém e vejamos isso que aconteceu e que o Senhor nos fez saber. (Lucas 2:8-15 ARC)".
Ali estava a reconciliação do homem com Deus, relação quebrada no Éden, milhões de anos atrás. O primeiro natal, com os cânticos dos anjos a ressoarem pelos céus trazendo alegria aos corações que entendem a necessidade de restauração da raça humana, e, isso se põderia veer nos mínimos detalhes do dia a dia. Os cristãos precisam demonstrar a esperança dessa reconciliação no modo humanizado de atendimento aos que dele necessitem, de mostrar-se preocupado com o mal uso, por parte de todos, das riquezas, das terras, com a fome no mundo, com a miséria dos povos menos desenvolvidos, com as grandes catástrofes, terremotos, tsunamis, o empobrecimento espiritual dos milhões de pessoas na solidão, dos que não têm com compartilhar nada, dos que sofrem frio e morrem por isso, dos que não sabem pedir, dos desamparados, enfim, do homem.
Precisamos demonstrar um pequeno gesto de amor a alguém. Agostinho, em suas confissões, diz que Deus que é o maior, o grande, e, ele o menor, sem condições de ao menos olhar para cima, só o Amor o faz sentir-se capaz de esperar numa outra relação, essa redentora. São Francisco de Assis entendendo esse enorme poder, da redenção, reza:
- Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz
onde houver guerra que eu leve a paz...
Senhor, faze com que eu ame mais do que seja amado
Comprenda mais que do que seja compreendido...
Pois, é morrendo que se vive para a vida eterna...
E, em São Paulo, o Amor também é manifesto:
- " porque tenho para mim que o morrer é ganho... Com referência de poder encontrar-se com esse mesmo Jesus que um dia o derrubara de seu cavalo, esperando que essa nova relação é que a verdadeira, como a de Jesus se apresentando ao mundo:
- " E, levantando ele os olhos para os seus discípulos, dizia:
Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus.
Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque sereis fartos.
Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir.
Bem-aventurados sereis quando os homens vos aborrecerem, e quando vos separarem, e vos injuriarem, e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do Filho do Homem. Folgai nesse dia, exultai, porque é grande o vosso galardão no céu, pois assim faziam os seus pais aos profetas.
Mas ai de vós, ricos! Porque já tendes a vossa consolação.
Ai de vós, os que estais fartos, porque tereis fome!
Ai de vós, os que agora rides, porque vos lamentareis e chorareis!
Ai de vós quando todos os homens falarem bem de vós, porque assim faziam seus pais aos falsos profetas!
Mas a vós, que ouvis, digo: Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos aborrecem, bendizei os que vos maldizem e orai pelos que vos caluniam. Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra; e ao que te houver tirado a capa, nem a túnica recuses. E dá a qualquer que te pedir; e ao que tomar o que é teu, não lho tornes a pedir. E como vós quereis que os homens vos façam, da mesma maneira fazei-lhes vós também.
E, se amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? Também os pecadores amam aos que os amam. E, se fizerdes bem aos que vos fazem bem, que recompensa tereis? Também os pecadores fazem o mesmo. E, se emprestardes àqueles de quem esperais tornar a receber, que recompensa tereis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, para tornarem a receber outro tanto. Amai, pois, a vossos inimigos, e fazei o bem, e emprestai, sem nada esperardes, e será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os ingratos e maus. Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso.
Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; soltai, e soltar-vos-ão. Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando vos darão; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo. (Lucas 6:20-38 ARC)".
Façamos nossa parte. Jesus fez a sua. Ainda dá tempo de restaurarmos alguma coisa em nossas vidas.
Feliz Natal, que este seja que nem o primeiro, redentor, e, criador de esperanças.
Maranata, Senhor.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Conexões e Conectividades

     Estou escrevendo em meu editor de texto e estou conectado à internet, porém, sem poder usufruí-la, pois, apesar de conectado a rede não fornece conectividade, a ação do estar conectado, e, portanto, sem nenhuma finalidade, a não ser a de gastar bateria do aparelho. É bom quando há conexão e concectividade, e, é melhor ainda quando há uma conecvidade alta, pois, a navegação se torna mais apropriada, mais célere e prazeirosa.

     - A internet está bombando..., dizem.

     Gosto de estar conectado e ao mesmo tempo escrever ou ler algo de interesse e de importância para mim ou para os outros, os que lêem minhas crônicas. Não pode haver uma deficiência nessa relação, pois, senão, surge uma angústia, uma ansiedade, uma vontade de ser e estar, mas, sem sentir-se completo, uma sensação de impotência, de urgência na resolução de quaisquer que sejam os anseios da precisão da internet, um sentimento de não relação com o universo, um enorme vazio com sensação de não preenchimento, uma enorme solidão. A solução está na volta da conectividade. Algo que o conecte novamente com o mundo, com o universo e com sua consciência, e, então, a paz interior retorna.

     Há uns que apesar de estarem conectados e com a conectividade alta, não se sentem bem, pois, suas ações são más. Usam suas conexões, suas ligações com os outros para fazerem o mal. O prazer deles é simplesmente transtornarem a vida alheia. Assim, já ganharam, como diz Jesus, os seus prêmios, já têem o que mereceram, e, suas vidas continuam a fazer o mal até o dia no qual a grande massa o julguem.

     Jesus veio a este mundo com uma finalidade, a de reconectar-nos à grande rede, onde Deus, como o administrador, distribui de igual modo todas as condições necessárias para o conforto daqueles que navegam na tranqüilidade de sua conectividade, fazendo o bem àqueles que precisam de ajuda, perdoando àqueles que precisam ser perdoados, amando àqueles que precisam ser amados, chorando com os que choram, com os que estão presos e sem esperança, aos que não conhecem o poder desta conectividade e andam vagando pelo mundo como zumbis, sem terem a onde ir, nem podem ter descanso. 

     Ainda dá tempo, ainda há esperança, ainda podemos amar e sermos amados, ainda podemos nos sentirmos seguros nessa maravilhosa conectividade, urge essa necessidade de sermos veículo de comunicação em paz com todos, com o mundo, com o universo, consigo mesmo, e, principalmente com Deus, ainda pode-se ter conectividade, relação pura entre o Criador e criatura.

     Buscai ao Senhor enquanto se pode achá-Lo, invocai-O enquanto está perto...

     Maranata, Senhor.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Leitura

Recebi de alguns leitores congratulações acerca dos últimos assuntos recentemente publicados. Fico feliz de saber-me lido e compreendido em assuntos, às vezes tão complexos. A vida impõe a viventes, adversidades duras de serem absorvidas e é salutar expo-las para a compreensão e defesa futura de outras pessoas, gerações, nossas, de grande sofrimento. Fico feliz de poder de alguma forma estar contribuindo, pelo menos para que outros pensem nesses assuntos, o que resultaria, sem nenhuma veleidade hipócrita, numa enorme compensação, essa de forçar o leitor a interpretar o texto livremente, sem os apeios do fanatismo, e, portanto chegar à conclusões individualizadas, para o bem do global. Esse é o anseio do escritor.
Imagino a satisfação dos escritores que conseguiram, na História, deixarem registros de seus pensamentos, e, onde os outros pudessem, sem muito esforço, com prazer, chegar a termo a leitura de seus textos, pois, o livro ou o texto a ser lido, não pode ser maçante, sem vida, de difícil entendimento, isto é, um dos requisitos do bom texto é exatamente o prazer de lê-lo, esta interface de quem escreve com o que lê.
As bibliotecas estão cheias de bons livros, pois, estes tratam de combinar os pensamentos escritos com o pensamento de quem lê. Nesse caso os autores se confudem com os leitores, pois, a imaginação de quem lê não é menos importante da de quem escreve. Assim, podemos, eu escritor e os leitores, transgredirmos, sermos outros, vivermos experiências inusitadas, ensinarmos, aprendermos, sonharmos, voarmos, chorarmos e sorrirmos, salvarmos, perdermos, ganharmos, e, sempre mostrando nossa verdadeira face, encaminhando-nos para o que mais nos agrada.
Espero poder continuar a contribuir, nesse mundo mágico da criação, amalgamada, como já disse, à do leitor, relatando crises, amores, sonhos, pensamentos, enfim, tudo, escrito, que possa ajudar nessa caminhada tão ríspida que é viver.
Maranata, Senhor.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Beto, parabéns prá você...

É algo maçante escrever sobre assunto já escrito, mas, há um, não nego, que gosto, não só pela facilidade que me imposta para escrever como pelo tema que em qualquer situação me empolga e remonta a uma época que, acredito, em todas pessoas, é bom assunto, a adolescência. Refiro-me à data de aniversário de uma personalidade que nem que não queira faz parte minha vida e de muitas outras, desde a infância até os dias de hoje, o aniversário de Humberto Michiles. Nascido em São Paulo, mas, criado em Maués, interior de nosso estado, tornou-se de coração e de vivência interiorano, amazônida dos bons. Preocupado com sua gente, principalmente de Maués, estudou, observou a vida dura dos ribeirinhos, mesmo dos cidadinos, e, sensível resolveu ajudá-los através da política, atividade que herdou na luta do dia a dia do avô e depois do pai: Darcy Michiles, homem de índole e coração tão bons que sedimentou esta atividade política tanto na sociedade quanto no coração e alma do jovem filho.
Não é demais contar, relembrando fatos dessa época de ouro no Colégio Ida Nelson, tempo bom onde praticamente não existia a cobrança do trabalho, este entendido como sustento para casa, e, só os estudo era o principal. Conversávamos, empolgados, eu, Humberto, o Banana e o Gambá, gastando assuntos do dia a dia, em plena aula de desenho, quando o professor, um sujeito briguento, abordou-nos:
- Os quatro aí, para cá. Vou fazer uma pergunta valendo nota. De zero a dez.
Olhamo-nos e fomos até a frente, perto da mesa do professor.
- O que é linha? Perguntou rapidamente.
O banana, o mais sábio de nós todos respondeu, na bucha:
- Professor, linha é deslocamento de um ponto, e, olhou orgulhoso para nós que pelas expressões não saberíamos o que responder.
- E você?
- Eu? Dissera eu esperançoso que a pergunta fosse destinada ao Beto que estava o lado.
Ele assentiu com a cabeça e eu simplesmente respondi o mais lógico que a situação oferecia:
- Concordo com ele..., disse apontando para o Banana.
- E o senhor, seu Humberto?
- Concordo com ele também.
A mesma resposta do Gambá e o zero estava dado. Ninguém acertara a resposta da pergunta.
- Professor, e, o que é linha? Perguntara, quase sem voz, o Banana chateadíssimo de ter sua resposta recusada como certa.
- Linha é uma sucessão de pontos. Zero para todos.
Não tinha o que reclamar, o jeito era estudar para tirar dez, dividi-la por dois para passar "raspando".
Beto, ou, Humberto Michiles, parabéns para você nesta data querida.
Deus lá do céu sonda teu coração e sabe que teus sonhos são puros, como os sonhos daquela época maravilhosa que tive o prazer de compartilhar contigo e haverá de realizá-los.
Parabéns e que nosso Senhor, todos os dias de tua vida, cubra-te de bençãos, que sei distribuirás com os teus, trazendo felicidade a todos quantos te rodeiam, isto é, o povo que tanto amas.

A tristeza de Deus.

Então é natal, como diz a música. As cores firmes e fortes da época estão em todos os lugares dando uma visão colorida à vida. As lojas, grandes ou pequenas, se esmeram em oferecer artigos de toda espécie e que satisfaçam as necessidades dos consumidores. Por todo canto uma euforia se espraia na população elevando o moral e uma virtual felicidade. Papai-noéis que dançam, mecanicamente, ao ritmo das músicas de época, dão boas-vindas aos consumidores, nas entradas das lojas. Tudo é alegria, agradecimentos a Deus por vitórias individualizadas, Deus gosta muito de mim, pensava uma senhora remexendo as caixas de brinquedos em promoção naquela loja, em busca de algo para presentear os netos.
O mundo está em festa, nasceu o redentor, estamos salvos, pensam todos em suas individualidades. Lá longe uma bomba explode matando civis, soldados, crianças, mães, filhos, avós. Matam crianças, esperança do mundo do futuro, ao mesmo tempo patrocinam projetos de arrecadação de fundos para a garantia de um mundo melhor. Lá longe a miséria, paízes inteiros morrendo à mingua, de fome, campeia e as crianças morrem ante a telinha das televisões do mundo inteiro, e pessoas piedosas resolvem que para o próximo ano elas contribuir nesses projetos contra a fome. Lá longe uma comissão decide que trilhões de dólares servem para salvar alguns bancos da falência que prejudica o mundo todo.
Lá em cima Deus observa a tudo, as guerras, as corrupções, a fome, o mal intencionado, as mortes desnecessárias provenientes do egoismo, tanto de individuos quanto de nações, a de generação da terra, os tsunamis, os terremotos, a destruição da camada de ozônio, os pais matando filhos, filhos matando pais, a prostituição em larga escala, etc..., com uma grande tristeza, não pode interferir na vontade humana, como no passado reflete o quanto o homem se desviou de seus propósitos.
Há tristeza em Deus, penso eu cá embaixo, tristeza por não poder ou querer interferir nas ações sempre maléficas do homem. Um dia talvez haja consolo para tão grande tristeza, posto que seu hospedeiro, Ele mesmo, é grandioso, magnânimo, benevolente, bondoso, e, em Jesus pai da eternidade.
Maranata, Senhor.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Socorrita, feliz aniversário.

Hoje é um dia especial, pois, é data de nascimento da Socorrita, minha esposa há trinta e seis anos. Éramos estudantes, recém-passados no vestibular, ela cursando medicina e eu odontologia, misturados às dezenas de outros tantos, quando um dia de aula comum, nossos olhares se encontraram e nunca mais desencontraram.
Imagino a discussão no céu, com nosso Senhor a comandar a descida de um anjo à terra. Alguns ciumentos querendo furar a fila, mas, em nenhum se encontrara as virtudes que se encaixassem nas pretensões de nosso Senhor:
- Branquinha, como um escandinavo, com o carácter bem firme a ponto de chamar a atenção de outros, de boa índole, de boa saúde, de bom coração, temente a Deus, tudo que a fará ser boa filha, boa mãe, boa esposa, boa profissional.
Depois de muita discussão os outros anjos concordaram que o Mestre falara de Socorrita e com a unanimidade Socorro foi enviada à terra para que efetivasse a vontade de nosso Senhor.
Conheci-a ali na faculdade, encostada à uma parede, perto da sala onde teríamos aulas, e, com um simples sorriso quebrou-me a alma, abriu-se-me o coração e amei-a para sempre. Este é o amor que me interessa, esse sem o domínio do corpo, das formas, algo que não seja tão volátil que logo se apague, posto que é chama, como quer o poeta, que seja eterno, compreendendo o eterno como algo transcendental, durável o tempo que Deus julgar necessário.
Socorrita, Deus satisfaça os desejos do teu coração, nesse momento que se chama de agora, te dê paz, e, que possas, com satisfação, contar os teus dias com sabedoria.
Feliz Aniversário.
Te amo

domingo, 11 de dezembro de 2011

Vaidade das vaidades, tudo é vaidade!

O momento mais importante da vida do homem é a proximidade consciente com o envelhecimento, por volta dos sessenta anos. Os cabelos, a barriga, os braços, a voz, os sulcos do rosto, o claro envelhecimento da pele com suas manchas e pigmentos que antes não apareciam e que agora abundam nas mãos e outros locais. O certo é que a passagem do tempo deixa suas marcas e o homem tenta de todo jeito dribla-la. Uns pintam os cabelos, outros fixam botox nos sulcos da face, outros enxertam silicone em regiões onde aparentemente a natureza já declarara seu Grand finale, outros cirurgiam pálpebras, seios, glúteos, coxas, tudo com a única finalidade de rejuvenescer. A quem enganas? A ti ou mim?
Dizia que o momento mais importante na vida do homem é o envelhecimento essa fase de descarte da natureza. É uma fase onde a reciclagem não é bem-vinda. Quero parecer mais novo. A mente manda e o corpo não obedece mais. Onde jogo só joga os de minha idade. são colocações de puro devaneio, onde a idéia de parecer mais jovem é maiorque o impulso de sobrevivência. A quem enganas a ti ou mim? Talvez o exterior engane a quem olhe mas nunca ao interior, este que não aceita tinturas, pinturas, repuxamentos musculares ou quaisquer cirurgias estéticas, esse leitor de tempo fidelíssimo não engana e não se deixa enganar.
Vaidade das vaidades, tudo é vaidade.
Viva hoje o que tem-se para viver, talvez, aí resida a felicidade

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Depois de algum tempo, eis-me novamente envolvido em teimar a escrever. De equipamento novo, um Samsung tablet, que acabou por me conquistar por sua performance e agilidade, quedo-me a essa impulsividade incontralável que é escrever, esse manejar constante das letras e sílabas e, também, das rígidas normas e adversidades que a vida nos impõe a toda hora, limitando-nos a cada vez mais sermos alienados, por não entendermos nada de nada, irresponsáveis a ponto de destruirmos de livre e espontânea vontade nosso meio ambiente, lugar onde vivemos e onde nossos filhos e netos viverão, por isso, restando-nos somente a esperança de um porvir melhor, um doce viver, onde o ser respeite o ser e onde todos e tudo se nivelem por cima, na compreensão exata do que é vida, que só pode ser compreendida quando de forma relacional, pura, como é a relação Deus-homem, a pureza mais pura, Amor infindo que nos conforta, e, nos dá essa firme esperança de vivermos sem o peso do pecado, esse mal que nivela a todos por baixo e massacra de forma marcante a vida e viver dos homens.
O cuidado com o global, com o que é público, produziram, por sua falta, uma visão equivocada, um eterno prometer, e, não estar envolvido de fato na promessa é como se fazer enormes e dispendiosas campanhas contra a fome no mundo e deixar a continuidade do massacre econômico, imposto pelas grandes potências às pequenas e médias economias, e, a resolução do problema, por não fazer parte dos interesses maiores dessas grandes nações, nunca se resolve, e, a fome continua a campear o mundo inteiro e pouco a pouco contribuimos para um grand finale do que entendemos como nosso mundo.
" Ensina-nos a contarmos nossos dias com coração sábio..." talvez nossas percepções, o modo pelo qual percebemos nossos dias, nos atrapalhem o viver, no dia a dia, mas, com este sonho, com esta vontade, não de não fazermos por onde merecer consciência melhor, mas, consubstanciados na Vontade de nosso Senhor, a qual independe das nossas, e, vendo melhor as coisas, possamos, dispostos e alegres, Viver realmente, nos preocupando com o próximo, vivendo em paz com todos.

sábado, 15 de outubro de 2011

A utopia revelada-Jesus, nosso Senhor.

Há que se pensar numa nova aproximação na abordagem cristã, essa que vivenciamos todos os dias em nossas relações , seja em casa, seja na igreja, seja no trabalho, seja em quaisquer lugares, pois, a venda de imagem tem, em muito, e, às vezes, muito mesmo, superado as expectativas de quem nunca pensou Jesus, ou Deus como solução para a multiplicidade dos problemas, a maioria social, de nossa sociedade, considerando-a como global, pois, o problema de fome e miséria universalizado, envergonha a Igreja, o âmago, a coluna vertebral do mundo. A falta de sensibilidade dos governantes, dos políticos, dos que detém poder, nada interfere no bem estar da sociedade. O venha a nós é o senso comum, a corrupção, a luta desordenada para o enriquecimento, tanto de países quanto de pessoas, a má distribuição de renda, o ensinar a somente receber e não trabalhar ou estruturar algo que dê sustentação familiar; a má educação, onde as notas de teste de conhecimento dos alunos, nas escolas, principalmente públicas, são burladas por professores, porque sofrem todo tipo de agressão, por parte dos alunos na ânsia de alcançarem nota, e, assim perpetuam o maior dos enganos na sociedade, porque se pensa em que tudo está bem, e, a educação está atingindo suas metas, quando na verdade não está e na verdade está longe de atingi-las, dando uma visão virtual dos projetos educacionais; a má qualidade da área de saúde, onde os médicos e suas equipes fingem que trabalham para o Estado e o Estado finge que paga-os, transtornando por completo o sistema, falido e sem perspectiva de melhoria, e, piorando cada vez mais á medida que anos eleitorais se aproximam, prejudicando radicalmente os projetos, estudados e re-estudados, em longas reuniões, onde a teoria esmaga qualquer idéia prática; a impunidade dos criminosos, a certeza de que nada acontece a quem ao praticar um crime na maioria das vezes não é condenado, diminuindo o conceito geral do poder judiciário; tudo contribuindo para a eternidade da ignorância e a falta de perspectiva, o que dá no cidadão um conformismo doentio de que tudo está bem e que um dia tudo há de melhorar.
O sonho continua na esperança de um porvir melhor, onde a Igreja sirva ao homem, sem o cabresto do capitalismo, do neoliberalismo, da globalização irracional, onde quem manda é o grande capital dos banqueiros, as grandes indústrias, num manobrar de fâmulos homens, eternamente, de geração em geração, e, principalmente sem ficar à mercê do Estado. É na idéia de uma sociedade eclesiástica, como a da Igreja primitiva, onde a pureza do Amor se manifeste em toda tenda, e as almas juntas cantem e adorem em espírito e verdade, ajudando uns aos outros, entendendo que todos somos iguais e que assim Deus ama a todos uniformemente. Talvez, essa seja a utopia revelada, Jesus nosso protótipo de Homem, criatura ideal, para viver todos os dias na casa do Senhor, em paz e harmonia, na servidão do Amor.
Maranata, Senhor.

domingo, 9 de outubro de 2011

Oração diária.

Ó minha alma desorganizada e pecadora,
bendize ao Senhor, pois, Ele tudo criou,
e da misericórdia e benevolência do Seu Ser, te perdoa,
todo o tempo, nessa irresistível, tendenciosa vida pecadora.
Estupefato fico, aparvalhado ante tal generosidade,
fâmulo desse mal genético, o pecado, causador de vezos e sestros massacrantes, nímio para carregá-lo.
De um lado a consciência d'alma, de outro as tentações, tão fortes, destruidoras.
Lhano, lembro de Ti, a me consolar a cada morte:
- Hoje estarás comigo no paraíso...
Alma lembra-te constantemente do Senhor, Salvador.
Perdoa-me os pecados, ó Senhor, e, lembra-te dos meus descendentes e não esqueça-os e abençoa-lhes até o infinito das gerações vindouras que certamente não conhecerei.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

O cabular a aula.

A aula transcorrera normalmente. D. Rosinha teimava em desasnar a turma toda. No meio da aula, por volta das nove e meia, os alunos não suportavam mais a espera da hora do lanche. Finalmente a hora chegara e agora a ansiedade virara para o término das aulas. As horas passavam lentamente. Meu olhar vagando, percorria toda sala, à procura não sei de que. Uma borboleta tentava desesperadamente sair por uma janela, mas, batia e rebatia no vidro fazendo um barulho, com suas asas, quase inaudível, porém, irritante. D. Rosinha, de costas para os alunos escrevia alguma coisa na lousa, talvez, o dever para casa. Amelinha, pequena terrivelmente danada, sentada à esquerda de minha cadeira, e, quase de frente, mostrava sua calcinha branca e fazia-me pensar coisas que já ouvira fala, mas, ainda não as praticara. Os seus dentes eram branquíssimos, evidência de tempos pueris.
A tarde chegara e a hora da aula particular se aproximava. A professora, d. Nely, nossa vizinha do lado esquerdo, já pronta conversava algo, através dos muros de nossas casas, e, terminando dissera:
- Está na hora... Até logo mais, Nadehyde.
- Tchau, Nely.
- Alé, era minha mãe, olha a hora da aula. A Nely já vai.
- Já vai, mamãe, respondera eu, pensando o quanto seria maravilhoso se pudesse não ir à aula.
Em Manaus o clima estava beirando os quarenta graus. O calor era insuportável. Irritado, saí à rua. De longe vi d. Nely saindo pelo portão de sua casa, e, instintivamente recuei, me escondendo no umbral do portão de nossa casa até sentir segurança de que não seria visto por ninguem. Corri até a esquina, onde existia o bar do "seu" Sandorval, onde comprávamos refrigerantes e outras mercadorias. Estúrdio, me sentindo o suprassumo da inteligência, corri para o grupo de garotos que embaixo de uma mangueira, em sua sombra, jogavam "bolinhas de gude". Retirei as minhas de minha bolsa e esperei aquela partida terminar para então começar a jogar. Jogavam ronda-mate. O jogo era simples. Consistia em depositar-se o número de bolinhas previamente apostadas em um círculo e atirar suas ponteiras, bolinhas de tamanho maior que as depositadas, o mais perto possível de uma linha desenhada a uns tres ou quatro metros do círculo, depósito das bolinhas. A ponteira parada o mais perto da linha era a primeira a ser usada, a segunda mais perto a segunda e assim por diante.
As horas foram passando e à tardinha, por volta das seis horas, dezoito na verdade, senti que extrapolara o tempo, pois, aquela altura d. Nely já voltara e minha mãe devia estar desconfiada de que alguma coisa acontecera comigo. Recolhi as minha petecas e corri para casa.
Não sabia que d. Nely, ao chegar em sua casa, antes de mais nada, lá do fundo do quintal, gritara por minha mãe:
- Nadehydeeee..., e, repetia o grito.
E, assim, o meu cabular da aula, daquela tarde, fora descorberto, e, eu, inocente, entrando pelo corredor.
- Alé, como foi a aula hoje?
Bronca, surra e a jura de nunca mais cabular aula alguma.

domingo, 2 de outubro de 2011

Obrigado, Deus.

Agradeço a Deus
Todos os dias,
todos os momentos,
alegres ou tristes,
na abundância ou no faltar,
nas vicissitudes ou no normal,
por filhos e netos tão lindos,
por a neta que vem,
por amigos,
por pacientes, tão pacientes,
por ter mesa farta,
o poder de ajudar,
a saúde,
as dores,
ao Amor, que vem de Deus.
Então, obrigado meu Deus e Senhor.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Acalanto para Alexandre Neto.

O bisturi do médico fez um corte reto de uns prováveis vinte e cinco centimetros na barriga pélvica de minha nora, que agora sedada, depois da anestesia peridural, dormitava e fazia força para manter a consciência ativa, mas, a sonolência era grande e possivelmente ela não vira ou sentira o neném nascer. O choro grosso e firme do bebê chamava-a para a realidade e ela sentiu quando a enfermeira trouxera e encostara o recém-nascido em seu rosto. Nossos olhos se encontraram e ela riu depois que disse que era um garotão, o que bastou para que, enfim, ela se entregasse à pressão do sedativo, e, então dormiu profundamente.
Esse fato faz treze anos. Alexandre Neto nasceu e logo após, quando a enfermeira levou-o para a aspiração, peguei-o em minhas mãos e corri para a porta do centro cirúrgico e levantando-o acima de minha cabeça, já à porta de entrada do centro, gritei para meu filho que, alegre, no mesmo corredor conversava com seus amigos:
- Alexandrinho, disse-lhe mostrando o menino, é um menino... A voz embargada, meia rouca.
Voltei e entreguei-o para a continuidade dos procedimentos normais.
A alegria era enorme.
Dias depois com aquele ser tão pequenino no colo ninava-o com uma música que compusera para ele numa noite escura, cheia de cansaço, prenuncio de outras trabalhosas, porém, cheias de amor e carinho:

O sol já foi embora
A lua apareceu no céu
A estrela já brilhou
Dorme meu amor.


Dorme cachorrinho
Dorme cachorrão
Dorme meu bebê
Dorme assim tão lindo
Dorme cachorrinho
Dorme por favor.


Lá fora é escuro
E faz muito frio
Aqui dentro tá quentinho
Dorme meu neném.

Parabéns prá você
Nesta data querida, meu neto querido,
Deus te abençoe e guarde do mal.
São meus desejos e minhas bençãos para você que apesar de estar morando longe fisicamente, no meu coração está bem pertinho, tão pertinho que sinto-o, ainda, pequenino, dormitando, em minhas mãos, como se fosse treze anos atrás, e, você em resposta só rir, lhano, lindo como diz a música...

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Rua Luis Antoni-O Gárgula

À noite todos os gatos são pardos, diz o ditado popular.
O gárgula ataca em noites frias e escuras como essa, era o dito pelos pequeruchos, na casa escura, quando a luz era desligada em toda cidade, pois, nessa época Manaus ainda vivia sob o peso da falta de abastecimento de eletricidade, em alguns momentos. Era comum o desligamento da rede elétrica por volta das dez da noite, e, os pais, das crianças, forçavam o dormir mais cedo o que gerava um descontentamento na criançada que queriam continuar as Oobrincadeiras.
O velho casarão, às escuras, assombrava, nas silhuetas sombrias, e, quando o tempo ameno fazia correr uma brisa fria, talvez, vinda do rio, mais fantasmagórica a casa ficava. Nesse contexto assustador, por ele mesmo, nasceu o Gárgula, uma mistura de héroi e monstro assustador, porquanto, era admirado e muito temido pelos menores. O Gárgula tinha uma agilidade felina. Aparecia aqui e logo estava ali numa demonstração quase de onipresença, o que para a garotada parecia passe de magia. Nascera de uma idéia aterradora...
Naquela noite fria, os adultos reuniram-se no pátio anterior da casa, e, bebendo chá mate com limão, colocavam a conversa em dia, assim, quando a luz fora desligada a cidade inteira mergulhara numa escuridão abrandada por um raio tímido de luar que meio iluminava a cidade, evidenciando as sombras e os vultos. A criançada em vez do contumaz recolher-se corriam e brincavam no pátio interno da casa, inocentemente, e, do telhado da casa, o Gárgula monitorava o movimento de cada uma delas, esperando o momento exato para o ataque. Uma das crianças vira o vulto assombrador do Gárgula passar rapidamente, num piscar de olhos, no telhado da casa. O grito fora mais assustador que a visão. Todas as outras, imediatamente entraram em pânico instantâneo e ao mesmo tempo correram na direção do pátio anterior, onde os adultos, ao ouvir o grito e depois a gritaria de todos, em pé, dispunham-se a entrar na casa, quando a enchurrada dos oito meninos e meninas, gritando e falando ao mesmo tempo os apavorando também.
A idéia do Gárgula nascera dessa necessidade, não sei porque, dos da puberdade, assustarem os mais novos. Tony, meu irmão mais velho o criara exatamente para isso. Eu, conivente, observava os movimentos, principalmente dos adutos, para através de sinais, sons e gestos, avisa-lo dos movimentos.
Dizia que a criançada correndo invadira o pátio anterior e externo da casa. A reação dos pais, sem saber exatamente o que acontecia, era de proteção, e, o mais corajoso, o Veloso, nosso tio, casado com tia Branca, resolvera ir até o pátio interno, foco do assombro. Cautelosamente, pé ante pé, bem devagar, tentando enxergar na escuridão, ia na direção exata onde o Gárgula o esperava com um balde de água, em cima, no telhado. Como o combinado emiti o piado, um som, mistura de apito e piado de pinto. Lá de fora ouviu-se o grito desesperado do Veloso. Era um grito esganiçado, cheio de pavor, um grito de alguém pego na surpresa do ataque. A cena ficara hilárica, o Veloso, encharcado, dos pés à cabeça, irado, parara no umbral da porta que dava acesso ao pátio externo, e, tentava falar com meu pai:
- Manoel, é o Tony, esse moleque me deu um banho de água fria e merece uma lição, bem dada... e, continuou, com seu acento portugues, a exigir uma punição para tal audácia.
Era verdade, mas, quem se atreveria a ir até o pátio atrás do Gárgula?

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Rua Luis Antony-A Casa

Chegáramos do Rio de Janeiro havia pouco tempo. O verão mal começara e já o povo, principalmente os migrantes, reclamavam da quentura, e, ainda estávamos no final de agosto.
- Imaginas esta quentura em setembro, ufa! Minha mãe conversando com D. Neném, nossa vizinha da casa da direita, nas pontas dos pés, junto ao final do muro, lá no fundo do quintal, onde um socalco tornava o terreno mais alto nessa região possibilitando a comunicação entre os vizinhos.
A casa, fora cedida por um tio, irmão de minha mãe, situada à Rua Luis Antony, centro de Manaus, e, tenho a impressão que construída aproveitando o corte feito quando da feitura da rua pelos tratores. Todas as casas, de fato, aproveitaram tal corte, o primeiro pavimento era no topo do corte, portanto, quase todas tinham o portão de entrada ao rés da rua. Na nossa casa uma escada no meio de sua largura conduzia até um pátio dividido pelo vão da escada, em lado esquerdo e lado direito, sendo que na parte mais frontal uma lage uni-as, de maneira, que podia se passar de um lado para outro por cima dessa pequena ponte. Tanto de um lado como de outro minha mãe cultivava bouganvillés, um amarelo e outro vermelho. No natal essas árvores eram enfeitadas com lâmpadas pisca-piscas, que eram vistas de longe, à noite.
Eram poucos cômodos, distribuídos no máximo de organização que o engenheiro pôde engendrar para tal espaço. Um corredor do lado esquerdo quase do comprimento da metade da casa levava à sala de visitas e uma porta lateral, logo à entrada conduzia aos quartos. Da sala, descendo um degrau, um patamar abrigando dois banheiros, depois, a sala de jantar, finalmente a cozinha e um quintal que ao seu final um socalco levantava-o deixando que alguém do nosso pudesse conversar com o vizinho da direita, no caso a D. Neném, pessoa de bom coração e mãe de minha professora particular, a D. Nely, personagem de histórias incríveis e uma em particular, comigo, que conto depois.
À tardinha, as mães sentavam-se em frente suas casas em cadeiras de macarrão, de embalo, depois de aguarem as frentes de suas casa, e, colocavam os assuntos da cidade e do mundo, das famílias, em dia. Era uma fofocada só.
Meu pai fizera vir do Paraná um piano, Essenfelder, para Necil, minha irmã, estudar. O piano viera numa caixa de Madeira, enorme, e, que em nossa mente criativa, acabou por virar um castelo, onde a mesma irmã era nossa rainha e um de nós, eu ou meu irmão mais velho, o Tony, revezava-nos nos cargos de invasor do castelo ou defensor. Depois do almoço, nossos pais saíram, parece-me foram ao supermercado completar o rancho do mês. Necil brincava no corredor fazendo bonecos com massa de modelar. Para que os tais bonecos ficassem em pé ela alojava em seus interiores uma vareta, daquelas do jogo "não pode mexer".
- Tony, vamos brincar de castelo?
- Vamos... Disse ele correndo para separar sua espada, de madeira, feita por nós mesmos, e, também seu escudo, que na verdade era tampa de lata de lixo que naquela época era feita de latão e servia muito bem ao nosso propósito. Enquanto ele ajeitava nossos apetrechos de guerra corri para o corredor para chamar a Necil, pois, tínhamos que colocar ao redor de seu pescoço uma toalha, seu manto de rainha, e, como cetro um boneco de boliche.
- Vamos brincar de castelo?
- Não, estou fazendo bonecos...
- Vamos logo, o Tony está terminando o castelo...
- Não vou...
Quando ela terminou sua última negativa, não sei porque, me atinou de chutar tais bonecos, para destruí-los e assim deixá-lá livre para ir brincar de castelo. Chutei. A dor foi intensa. A vareta traspassara meu pé, literalmente. Quando olhei o pé atravessado pela vareta comecei a gritar, a Necil correndo para o pátio onde estava o nosso castelo, o Tony, depois, de ver o acontecido, chegando até o fundo do quintal e gritando por d. Neném:
- D.Neném, socorro a vareta varou o pé do Alé...
D. Neném era uma senhora de idade e muito forte, quase obesa. Com dificuldade subiu apressadamente a escada de entrada de nossa casa e quando viu meu pé, gritou, com sua voz característica, pois, prolongava as palavras o que a tornava muito engraçada:
- Meuu Deuus, Alééé, o quee fooi issoo? Vamoos ao pro tôo socorroo, rápidooo...
Fomos. O médico puxara de uma única vez a vareta e o sofrimento fora muito grande e eu, quando voltei para casa, os meus pais querendo ver o acontecido, supervalorizei a dor, buscando perdão pelo que fizera.
Nunca mais chuto algo sem saber o que há dentro dele. Prometi e cumpri, talvez por isso nenhuma seqüela ficou em meu pé.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Tudo é Vaidade.

Saber, sem dilentantismo, conhecer profundamente um determinado assunto, apreciar, sem moderação, o belo, ouvir entendendo, ver vendo, apalpando e sentindo o que se toca, degustando verdadeiramente o sabor das coisas comestíveis, amando e sendo amado, vivendo intensamente vida do jeito que ela se apresenta, enfim, tudo o que se faz com afinco é vaidade diz o pensador. Tudo é vaidade, porque, tudo passa e é canseira, nada há de definitivo, tudo vem e logo já não é, como na mesmice das águas do rio que infinitamente não param de correr no talvegue e se repetem infindo. Tudo é vaidade.
Chego de duas viagens: uma à São Paulo e a outra à Boa Vista, onde fui reviver momentos alegres com meus netinhos, que agora já estão enormes, e, já não são netinhos, um adolescente e grande para sua idade, outro menor, mas, cheio de vida, quer jogar bola e se esforça para isso. O maior:
- Vô, vamos tocar violão?
E, eu de pronto:
- Vamos. E pegando o violão, depois de afiná-lo, toquei uma música dos Beatles: Yesterday e, daí fomos tocando e cantando muitas e muitas outras. Que momento lindo, mas, vaidoso, pois, o tempo não congelou aquele momento, a não ser nos nossos corações, por isso, mesmo com um baita de um sono, relembro cada segundo com muita ternura.
O menor:
- Vô, vamOs jogar bola? E, eu com um sorriso, daqueles de disfarce que ocorre quando nos julgamos incapazes ou menos capazes de realizar determinada tarefa:
- Vou para seu treino, na escolinha de futebol, e lá vejo você jogando, está bem?
Fui e vi, alegre, dezenas de crianças, ali, correndo atrás da bola, quase sempre em bloco, na tentativa ora de defender seu campo, ora atacando e querendo fazer mais gols.
Que enorme prazer poder estar ali com três dos meus quatro netos, pois, comigo foi o João Gabriel, filho de Gabriela, o mais velho dela, e, que tinha a maior vontade de voar, e, voou para a terra onde seus primos moram. Foram dias prazeirosos, mas, dias que deixam saudades imensas, profundas e mexem com o interior do coração.
Tudo é vaidade, porque, para aonde vamos, depois da morte, não há essas sensações, percepções tão boas e que nos fazem bem, mas, como diz o pensador: tudo é vaidade, então, vivamos nossos dias sabiamente a cada segundo, acumulando conhecimento, saber que nos deixa mais fortes, mais sonhadores, mais sensíveis à vida, agradecendo a Deus cada dia no qual possamos estar juntos uns dos outros.
" Esse é o dia que Deus fez para nós, alegremos-nos e regozijemo-nos n'Ele..."

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Sonhar, vale a pena...

Os deuses do Olimpo certamente ficariam irados e mandariam pragas e mais pragas para o conserto dos erros dos humanos. A antropomorfagem de Deus é muito antiga, e, a disputa por um lugar de honra dos deuses das civilizações sempre foi muito acirrada. Há momentos de extremos, como quando a ordem dada à Moisés para levar o povo de Israel para um lugar tão bom que nada precisava ser feito para que Israel estivesse sempre bem confortável, e, em paz consigo mesmo. Era a chamada terra da promessa, mas, eis que surge um problema, um teorema a resolver, a terra da promessa já era ocupada por outros povos, outras civilizações, que lá estavam a milhares de anos. Seria, então, justo tirá-los de sua terra Natal para alojá-los em outro cantão? Haveria justiça nessa promessa? E somente através da matança e espada é que Israel poderia se fixar ali, na base da violência, porque nenhum povo entrega suas terras, de boa vontade, rindo, alegre, para os que desejam toma-las. Assim, depois de muitas batalhas e guerras, e, logicamente muitas mortes, o povo de Israel consegue se fixar, e, de lá para cá, há uma guerra, latifundiária, sem fim. Na História, muitos outros povos têm se intrometido nessa polêmica, outros que nada têm a ver com esta guerra entre os árabes e judeus. Potências mundiais têm se intrometido, por interesses particulares e de obtenção de mais poder, como o controle do petróleo, essa energia tão ambicionada por todos, naquela região. Os franceses, ingleses, americanos, e outros tentam desesperadamente, numa época de crise energética e moral, se apossarem do controle real dos poços de petróleo.
A Bíblia diz que ali naquela região não pode ter paz, existir ou coexistir civilizações em paz: " querem ter paz onde não pode ter paz...", isto é, com este corpo e com esta matéria, que teimamos em carregar, porque se busca tudo que é material, consubstanciando a materialidade, não haverá paz em quaisquer lugares terrenos. A humanidade, o homem, rapace por excelência, não permitirá paz em nenhum lugar da terra, pois, sua alma imoral, como diz o rabino, nunca se contentará com o que tem, pois, sempre desejará mais e mais, sestro ganho no Éden, mais eu sei, mais feliz serei, conhecendo o bem e o mal.
Mara ata, Senhor.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Feliz aniversário, mamãe.

Dia 14 de maio, próximo, era o dia de comemoração do aniversário de nascimento de minha mãe. Às vezes, esse dia coincidia com o dia das mães. Esse ano o dia das mães foi comemorado dia oito, mas, é como se estivesse sendo no mesmo dia de seu aniversário. Lembro, ainda, devia ter uns cinco ou seis anos, de um desses dias, comemorado na casa grande da Av. Joaquim Nabuco. Era uma casa de grandes cômodos, com um pé direito muito alto e que metia medo na gurizada, pois, as sombras, projetadas nas paredes, normalmente à noite, eram muitos maiores que a realidade, e, davam uma sensação fantasmagórica, mas, quando se é criança tudo se desvanece rapidamente e as sensações ruins eram logo destruídas pelas brincadeiras, quase de tempo integral, tal a quantidade de meninos e meninas convivendo diariamente ali. Éramos onze crianças a bom se danar o dia e parte da noite, no quintal, na sala, na cozinha, na varanda, que arrodeava a casa quase em toda sua extensão. Manjas, queima, esconde-esconde, barra-bandeira, desenhos, brincadeiras de todo tipo enchiam nossas vidas ali. Mamãe ficava por ali, atenta, sempre por perto, corrigindo os excessos.
Á noite, a casa toda iluminada, parecia um enorme castelo, daqueles de conto de fada. Os quitutes e bolos preparados por D. Nadehyde, já colocados à mesa, esperavam somente a ordem de poder começar a degustação. É, claro, que alguns do moleques já tinham, antes da tal ordem, feitos algumas incursões à mesa. Os convidados chegando. O pessoal, da Igreja, os parentes, alguns que eu ainda não conhecia, o pastor, enfim, todos os do círculo de amizade dela e de papai. Nesse tempo, papai se metera a estudar conversação de inglês, e, contratara um barbadiano para tal fim. Estávamos todos brincando, correndo, numa interminável brincadeira, quando ele chegou. Era um desses negros altos, da colônia, e, vestido de paletó, coisa não muito normal para a época, pois, fazia muito calor naquela noite. Lembro de um botão de rosa, cuidadosamente aposto na lapela de seu paletó e o que mais chamou atenção, um enorme buquê de rosas, vermelhas, brancas. Paramos todos de brincar para admirarmos a figura elegante do barbadiano, que inclinado, depois, de entregar o buquê de flores, beijava o dorso da mão de minha mãe.
De repente, não sei bem de onde veio tal alergia, meu rosto começou a edemaciar-se. Todos se alegrando, com minha mãe e meu pai, as crianças, endiabradas, a correr e brincar de todo tipo de brincadeiras e eu ali, sentado numa cadeira, num canto da sala. Os olhos quase fechados pelo edema, meio embaçados não me deixavam enxergar direito, e, quando em vez, minha mãe:
- Alé, não sai daí que estás doente.
Antes, me dera uma colher de um remédio, um desses medicamentos anti-alérgicos. De onde estava tinha uma visão privilegiada de quase todos os convidados. De longe via o secretário de segurança de nosso Estado, Dr. Moacir, conversando algo com meu pai, o pastor e o barbadiano que eu não conseguia ouvir. As mulheres ao lado, colocando as novidades em dia, numa alegria imensa e as bandejas de salgadinho e refrigerantes passando entre eles. Virando minha cabeça para o lado direito um bando de meninos e meninas corriam numa disparada disforme, isto é, cada um correndo em direções diversas, acho que tentando achar um lugar melhor para servir de esconderijo.
Ao piano, animando a festa, um velho conhecido da família, o Petrolisses, enlevava a todos com o som incrível que conseguia tirar do piano. Era um Essenfelder, um piano que papai comprara para incentivar a Necil, minha irmã a aprender a tocá-lo. Era um som magnífico.
O jantar servido, as conversas animadas, a sobremesa, e, um por um, os convidados foram saindo, sorridentes, alegres. Quando o último saiu, eu ainda estava sentado, com olhos, o rosto menos inchado, mas, ainda inchado.
Querida mamães, onde você estiver, feliz aniversário, e, que Deus, em sua infinita bondade, incline Seu rosto sobre você, lhe paz e lhe guarde em Amor.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Hipocrisia.

Essa enorme vontade de transgredir é muito antiga. Começou, conforme o relato Bíblico, com a morte de Abel por Caim, seu irmão. O motivo: ciúmes do correto que ele não conseguia ser. Inveja de não conseguir ser igual ao irmão, que como nos diz o tal relato, seria justo, com coração justo. Esse tipo de transgressão, violência, vem se perpetuando através dos tempos ainda mais entre os árabes e cristãos. Em nome de Deus se tem matado mais do que se tem ajudado outros semelhantes; as cruzadas, pela libertação da Palestina, as interpretações do Corão de forma beligerante, em ambos os lados a vontade maior de mostrar-se melhor que os outros diante de Deus, Todo-Poderoso. Quanto mais violento, melhor é o indivíduo, a cidade, o estado e o país. A sociedade vibra, ou de maneira sentida, quando o objeto da violência é ela mesma, e, com júbilo quando é outro que não ela. O mesmo observa-se em nível individual, e, o vezo está formado, a cizânia por conta da hipocrisia, do ciúme do homem em relação a Deus; - Senhor, olha para mim, zelo pelo Teu nome, mato todos os que não seguem os meus caminhos. O conúbio da violência com a hipocrisia. Nas igrejas e mesquitas, e, nas reuniões familiares, os beatos, os que foram purificados e estão vestidos de branco, representando a paz e, os que esperam recompensas no Paraíso, no íntimo juram perseguições, mortes, roubos, propinas, formas de lesar o próximo, adultérios, fingimentos, risos abertos, onde todos os dentes são mostrados, mas, por dentro, como dizia J.C., verdadeiros túmulos, caiados por fora e podres por dentro.
Em todos os níveis de relação humana, com pouquíssimas exceções, o paradigma da hipocrisia e da venda de imagem é o que conta. Este quadro, representado agora com a morte de Osama Bin Laden, esta euforia ante a morte de um outro ser humano, nada mais é que a repetição do que aconteceu no dia 11 de setembro de 2001. Em quase toda população árabe, todos, inclusive crianças, foram às ruas e pulando comemoravam a morte de pelo menos quatro a cinco mil pessoas, com o massacre das Torres Gêmeas. Agora, um revides. A morte de Bin Laden, comemorada exaustivamente, alegremente nas ruas dos E.U.A.. Reações iguais, que, retratam a natureza humana tal qual ela é. A busca cristã da santificação, do ser melhor, mostrou que se nivela por baixo.
Um dia desses conversando com uma senhora, trabalhadora, ela raciocinou assim:
- Por que será que os E.U.A. só atacam os países que têm petróleo? Porque será que aqueles que são miseráveis e pobres, não tendo nada a oferecer, são poupados da extrema violência com que os E.U.A. tratam os seus interesses?
Quão insinceros são os corações de nós, os humanos, e, quão grandemente interesseiros são nossos pensamentos. Ah! se Deus, interviesse realmente no mundo: será que há mais de cem justos na terra? E cinqüenta? E vinte? Como em Sodoma e Gomorra:
- Eu, certamente, pouparia a terra, mas, ...
Maranata, Senhor.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Casamento da Maysa

Ia escrever sobre a violência do mundo, a propósito da morte de Osama Bin Laden, mas, primeiro devo escrever sobre a felicidade do casamento da Maysa, minha filha. Tive que ir buscá-la no hotel onde ela estava hospedada, lá na Ponta Negra, e, numa enorme limusine. O chofer abriu a porta para nossa entrada e logo nos deu umas informações acerca do potencial acerca de seu veículo:
- À direita, o senhor vai encontrar uísque, e, do lado esquerdo fermentados, inclusive vinhos. Aqui está o controle do home-theater. Fique à vontade...
- Obrigado, disse eu, aboletando-me ao lado da bonita garrafa de uísque e servindo-me de uma boa dose.
O gole quente, e, o sabor forte do álcool, me aliviou a tensão. Maysa, minha filha, demorara mais do que o devido, e, sei que meus amigos, lá na tenda, servindo de Igreja, deveriam estar bastante impacientes, pela demora. Antes, estava sentado em uma poltrona defronte o elevador panorâmico a sua espera, quando menos espetei, olhei e vi-a no elevador panorâmico do hotel. Linda como uma lua nova, vista de uma praia, e, o observador deitado, olhando para cima e vendo-a inteira, prateada. A limusine esperando tal estrela, deslumbrante, vivendo essa experiência maravilhosa. Entramos, então, servindo-me do uísque navegamos finalmente para a Igreja. Distância não era grande e logo chegamos. Depois da entrada dos padrinhos e pajens, entramos e o pastor Manoel Filho, começou a cerimônia com uma oração de benção, depois o meu pai, com 86 anos usou a palavra, baseado em Genêsis, da formação do homem e da mulher, e comoveu a todos com sua palavra. Ao fim o célebre:
- Declaro-os marido e mulher.
O beijo e então a recepção. Lembro de alguém de televisão me perguntando o que eu gostaria de dizer à minha filha e ao Heitor, meu genro, naquele momento, e, embora uísquezado, falei:
- ... que ela e ele dêem continuidade à esse maravilhoso mandamento:
- Crescei e multiplicai, o que significa: nos perpetue, e, dê continuidade a essa maravilhoso milagre que é a vida.
Obrigado, Senhor, por tudo, em nossas vidas... e por todos os amigos que lá estavam comigo, se alegrando.

quarta-feira, 30 de março de 2011

O real anseio da alma.

As igrejas tradicionais têm se empenhado, de toda maneira, neste mundo tenebroso, onde o chamamento do mundo racional e mais material é muito forte, a pelo menos manter os jovens, seus filhos, sob o controle de suas vidas e almas, tão tradicionalmente aceito na maioria dessas igrejas. A teoria do inferno pleno, aquele onde não se pode ventilar a idéia de perdão, a rigidez teológica, onde o que manda, ainda são as normas e dogmas da instituição impregnadas nas cabeças jovens dos imaturos cristãos, com seus medos e tremores emocionais, consubstanciam marcas psíquicas eternas, e, principalmente a negativa de poder, sabiamente, fazer perguntas acerca do ensinamento do Deus aprendido, do Deus paradoxalmente bom e complacente e ao mesmo tempo inexoravelmente iracundo e raivoso, vingativo e desumano em suas ações, tratando de acabar com um relacionamento que poderia gerar cristãos autênticos, seres humanos sensíveis e corajosos. Há algo dicotômico.
Tenho conversado com pessoas comuns, com líderes, com a mocidade das igrejas, e, vejo aterrorizado o quanto a energia despedida pelos ancestrais, pelos profetas e congêneres, toda a pregação esvaziou-se completamente e o que aflorou nesse momento é o esfriar do Amor, expresso na omissão social, na falta de atitude em relação a problemas que afetam diretamente o intercâmbio entre Deus e o homem, na procura exacerbada de conciliação, isto é, uma volta ao Édem, no caso totalmente unilateral, humana, porque provinda exclusivamente do homem, sem participação efetiva de Deus, o que resulta em frustração. Em vão, líderes bem intencionados em suas ações, mesmo boas ações, tentam reverter a hipocrisia da tradição, oferecendo novos caminhos de reconciliação homem-Deus. Uma parte das igrejas tradicionais, acho que por não entenderem as novas exegeses e hermenêuticas, ficam indiferentes e outra, mais consciente, logo tentam apagar o fogo de um entendimento mais aberto, como soe deve a mente de Deus, sem querer entende-Lo, pois, pensam conhecer e ter a exata dimensão das propostas de Deus para a Humanidade, resultando em cismas doutrinárias e formação de igrejas mais doentes que seus seguidores, onde, pensam, a venda do céu, com desculpas de manutenção do reino, aqui e agora, é uma necessidade espiritual, e, enganam a muitos.
Convém estreitarmos mais os laços e reaquecermos o Amor entre nós, homens e mulheres, o qual reprimido, rebela-se; desrespeitado, insurge-se; ferido, estende a mão; cansado, ainda anda mais duas léguas, esbofeteado, oferece a outra face; desacreditado, faz milagre; e, desanimado brota a esperança que com a fé reacende o brilho e a quentura que só Nele perdurará para sempre, eternamente.

sábado, 26 de março de 2011

Cafés.

Adquiri ao longo da vida alguns vezos, sestros, que, ainda bem não são perniciosos ao próximo. Todos os dias, sempre após a saída da Assembléia Legislativa, local aonde trabalho logo cedo do dia, e, antes de ir para o consultório, paro em um desses cafés, para degustar uma boa moca. Algumas pessoas acham que o café vicia e que tanto mais forte, mais vicia. Ganhei esse hábito, mas, sei que não vicia, no entanto, devo confessar que quando não consigo parar para saboreá-lo, sinto uma certa inquietação, uma falta, que sei é mais psicológica que falta física da cafeína.
É bom chegar, sentar em uma mesinha, dessas que os cafés se equipam, e, são tão aconchegantes, pedir uma moca e fazer-se acompanhar de algum amigo para conversar amenidades. Talvez, a idade, a oportunidade de tempo, às vezes, a vontade de achar-se só, seja isso que me impulsiona a diariamente sentar e curtir o degustar de um bom café.
Percebo que como eu, há muitas pessoas que também usam desse magnífico mecanismo de descompressão mental, diminuição do estresse do dia a dia. Lógico que num ambiente pequeno, como soe serem os cafés, acabamos por conhecer, individualmente, pessoas que assiduamente freqüentam-os. Há o empresário que busca um lugar para tomadas de decisão, um outro que busca companhia, outro que somente quer ler jornais, outro que não tem o que fazer, outro que precisa desse impulso matinal para fumar, outro que ganhou o vezo de simplesmente tomar um bom café. Normalmente há os que usam-os para se conectarem à internet, e, colocam os assuntos virtuais ou não em dia e o que conta é o conforto de ter ao alcance um wi-fi à disposição, numa boa velocidade.
De qualquer maneira cafés são bons lugares. Se você gosta de saborear um bom café, descubra um lugar tranqüilo e calmo. Aqui em Manaus, gosto do Frans Café e do Café do Ponto do Shopping Manauara, e, também do Le Café da Livraria Saraiva, sendo que no Café do Ponto há uma poltrona vermelha, lá no fundo do Café, que é a minha predileta. De qualquer maneira aproveite os cafés e o café, pois, esses momentos são de extrema utilidade vital.

domingo, 20 de março de 2011

Não quero produzir cismas...

Ontem recebi um e-mail, postado por um grande amigo, de infância, o qual convocava amorosamente os protestantes a entrarem no rol dos que apóiam a preservação das Lages. É uma história que se desenrola há a algum tempo, pois, foi politicamente envolvida, misturando comercialização e má venda de imagem, pois, o porto a ser construído naquele local tão amplamente abençoado por Deus, tal sua beleza natural e por ser também local de desova de peixes, o que naturalmente acontece. A reclamação é justa, não podemos simplesmente aceitar que o particular avilte o social, o total. De imediato, quando recebi o pedido de apoio, via internet, alistei-me no rol dos que repudiam a implantação de um porto, cais, ali naquelas imediações. O movimento logo ganhou força nas partes mais sensíveis da sociedade, como a Igreja Católica, através da Campanha da Fraternidade, seguimentos intelectuais importantes também aderiram ao apelo. Como é contumaz, a Igreja Protestante, para usar o termo de meu amigo, retirando-se algumas denominações sabidamente envolvidas em política partidária, e, que portanto não vêm nenhum problema em fazer parte de políticas nem sempre condizentes com a práxis cristã, se fecha, como um caramujo, ou um tatu bola, em sua carapaça, porque, em seu meio sempre há aqueles que interpretam numa ação como essa a intromissão da Igreja em movimentos políticos, o que não é verdade. Há que se fazer diferença entre ação política, que diz respeito à cidadania e tudo que está embutido na salutar busca de igualdade, fraternidade e liberdade, o que redunda num meio social mais democrático e cristão, no mais puro conceito de cristianismo, e, a mistura maldosa, injusta, com outros meios não cristãos, que só buscam o poder a todo custo.
Fiquei alegre com o levantar do assunto, e, principalmente vindo nesse amoroso pedido de uma pessoa importante na luta a favor de uma sociedade mais justa, seja em seu campo de atuação, é médico psiquiatra, quanto no mais simples exemplo de cidadania ao criar associações, que hoje, Graças a Deus, andam por si só, como a Associação dos Aidéticos do Amazonas, a luta desenfreada pelo fim dos manicômios e uma saúde mental mais humanizada, a luta pelos que sem ter a quem recorrer, como agora recentemente o caso dos haitianos que ao chegar aqui em Manaus, não tinham nada, nem mesmo alimentos e foram socorridos por ele, Rogélio Casado, e outros militantes do bem, empenhados na resolução desses problemas. Chamo isto de amor. Amor desinteressado, cristão, sem ser cristão, puro, porque não visa lucro, ou nada em troca.
Os fariseus ainda perambulam por nosso meio, dão dízimo de tudo, mas, são como covas de cemitério, brancos ou caiados por fora e podres por dentro. Não aceitam saírem de suas redomas, suas pequenas sociedades, sem o deixar que a idéia do amor lhes arrebate o coração, enquanto isso, o objeto de seu pretenso amor cristão está fora da Igreja clamando por ajuda desinteressada, Igreja não vinculada a partido político, capaz de Amar.
Já o agradeci, em seu blog, rogeliocasado.blogspot.com, e, aproveito o meu para agradecer mais uma vez a oportunidade, dada a nós outros, chamados protestantes, de pensarmos e repensarmos nosso papel histórico, uma vez que estamos inseridos em um mundo impiedoso, cheio de artimanhas e de desvios sociais que dependem de nossas atitudes e ações cristãs, às vezes tendo que ser duras como a de Jesus açoitando os vendilhões do Templo e da fé.
N'Ele.

sábado, 12 de março de 2011

Coitado de nós.

Estou perplexo com as ondas que chegaram à costa do Japão. Apesar de saber que os japoneses, profundos tecnólogos, apesar disso, sofreram e continuam a sofrer com as contínuas notícias de desolação que se abate sobre eles. Sou vezo em manifestar, nessas horas, um lamento, um choro à Deus, nosso Senhor, a respeito de tal intensidade, tal calamidade, sem explicação real, plausível à racionalização do que pode e o que não poderia ser.
Que situação. O homem miseravelmente entregue à sorte do tempo e de suas próprias más ações. Jesus fez algumas referências a respeito deste tempo, o tempo de Deus. Ele chamou-o de princípios das dores, com referência ao que se pode chamar de ápice da destruição imposta pelo ser humano ao seu redor, isto em todos os sentidos. Nunca vimos tal intensidade de perversidade imposta por uma mente não muito clara, como a do homem, o qual em busca da plenitude de seu próprio ser arruina e destrói tudo o que encontra em sua frente. As consequências naturais decorrentes de sua posição central na criação, ô, ignorância, a qual o mantêm comandante supremo no planeta, o tornam masoquista e refém dos seus feitos, atrozes feitos que o dominam mais amiúde, deixando-o e à terra, seu planeta, muito vulnerável às intempéries provocadas por essas infindas mexidas em todas as partes do globo, seja na destruição da fauna, da flora, na indução de íons ou suas retiradas das camadas protetoras do planeta, deixando-o cada vez mais vulnerável aos assédios maléficos dos produtos naturais advindos disso.
Coitado do Japão. Coitado de nós. Será que vamos deixar que 2012 seja mesmo nosso apocalipse? Estamos mesmo perto de nosso programável fim? Será que na vaidade de nossos intelectos ficaremos satisfeitos com nossa suicida caminhada? É isto que queremos legar para nosso descendentes? O que já foi gerado de ruim no mundo não é mais remediável, mas, ainda poderemos nos esforçar para que o resto, o que ainda temos, seja sadiamente e convenientemente salvo. É uma questão política, é uma questão social, onde o que não deve contar é a vaidade de ser isto ou aquilo, ser general ou soldado, não interessa, simplesmente o que interessa é nossa sobrevivência. Somos todos iguais, braços dados ou não. Chega de brincadeiras individuais, essas que pensamos só em nós mesmos, e, esquecemos o mundo futuro, o mundo onde os nossos descendentes vão nascer, crescer e morrer ou não.
N‘Ele.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Dengue ou Malária

Grassa sobre nossa cidade uma doença, agora epidêmica, chamada dengue. Não, não é uma dengue qualquer. É uma dengue mudada, com outras faces, outras manifestações. Tem morrido gente, pessoas que certamente não mereciam morrer antes da hora. Epidemia é a palavra. Algum tempo atrás alguém riria disto. Nunca imaginamos que o descaso, na saúde pública, fosse chegar a esse patamar, que vem crescendo governo após governo, pois, criou-se um vezo, de não acreditarmos em prevenção efetiva. Isto aqui não acontece. Somos imunes às picadas, às malvadezas que as mais variadas "mexidas" na natureza podem traduzir para nós, pois, podemos cuidar disto depois e essa verba, destinada a isto, pode ser de mais valia em tais e tais áreas.
Pessoas têm morrido, com dengue hemorrágica. Depois da epidemia instalada a correria atrás daquela verba que fora para outro programa é grande e às vezes não dá tempo de achá-la. E os profissionais da área? Coitados, acostumados a uma vida profissional de poucas preocupações com a população, de tantos trabalhos, de tantos plantões, não estão preparados para a brusca vinda de uma epidemia e a cobrança do governo, das instituições, em relação a horário, a forma de abordagem que a doença requer, o aumento dessa demanda, a necessidade de mudança na visão profissional, transtornam todo sistema que de caótico passa a ser mais infernal ainda.
Um dia desses, acordei mal, com dores de cabeça, febre, um mal estar geral e como existe a epidemia, cedi à pressão, feita por familiares, de ir a um hospital especializado e fui ao Hospital Tropical. Logo, entrei, com dezenas de outros, numa interminável fila de zumbis. Um gemia alto, amparado pelo que parecia sua esposa, ou, alguém bem próximo, outro deitara no chão, ali mesmo, esperando socorro, ao seu lado uma senhora também gemia baixinho, lá no fundo do corredor uma outra fila esperava e esperava...
Finalmente, depois de muita espera chegara minha vez.
- Boa tarde, queria fazer o exame de sorologia da dengue, por favor.
- O Sr. já fez o exame de malária?
- Ainda não, mas, me parece que o que tenho é algo parecido com dengue. Tem algum médico, com o qual possa falar?
- Só às três horas.
- ... São quase doze horas, moça.
- Senhor, por favor, olhe o tamanho da fila. Vá para a fila da malária e depois se der negativo volte aqui.
Baixei a cabeça, impotente, sem vontade de nada e sem nada pensar, sentindo somente a grande dor na cabeça e nos músculos, encaminhei-me para meu carro e dirigi-me de volta à minha casa, meu refúgio, meu hospital, meu lugar ideal para morrer, me ocorreu por um momento, pensamento nada consolador.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Diagnóstico errado.

Hospital, 5:00 hs da manhã. O plantonista fora acordado e chateado levantara-se e encaminhara-se para a recepção na esperança de que o paciente recém chegado não fosse de tratamento complexo. Perguntou à recepcionista aonde ele se encontrava e rapidamente se encaminhou para a sala de urgência.
Ele observara que a respiração, apesar de fraca, era contínua e estável. A fisionomia era descansada. A musculatura facial estava relaxada. Pedira os exames de sempre. Hemograma completo, com contagem de alguns íons, plaquetas e hematócrito, etc... Depois de os pedidos feitos fora para o conforto médico tomar um café preto e forte, o que o manteria acordado por um bom tempo. A enfermeira aproximou-se com os resultados dos exames. O hematócrito e plaquetas deram resultados baixos, o que o levaram a pensar em perda de sangue e considerando a idade do paciente, talvez o homem estivesse fazendo um enfarto das mesentéricas. É isso, o homem fez um enfarto. Pensando assim levantou-se e encaminhou-se para a sala de urgência onde os filhos e parentes estavam.
- Tenho que levar seu pai urgentemente para o centro cirúrgico, pois, ele fez um enfarto das mesentéricas e carece de no mínimo de uma laparotomia exploradora. Ô, enfermeira, por favor providencie o centro cirúrgico para este paciente, urgentemente. Chame o anestesista de sobreaviso, uma espécie de plantão de espera. Se houver pacientes o hospital o avisa, e, então, ele apressadamente se dirige ao hospital.
O telefone tocara com um som aparentemente fraco, porém, irritante, acordando-me quase de imediato, e, me fizera dar um pulo, me levantara instintivamente e pegara o aparelho. Eram 4:30 hs da manhã.
- Socorro, gritava a voz apavorada e descontrolada de minha madrasta, implorando por um socorro que não poderia ser tão breve, pois, todos moravam uns longe dos outros, e, ainda tinha que mesmo numa velocidade anormal, demorariam a chegar até lá.
- O que houve? perguntara eu tentando achar a razão de tanto transtorno. Que aconteceu?
- Acho que seu pai morreu. Ele está no chão da sala, imóvel. Acho que ele não está respirando. Corre, vem logo para aqui. Eu acordei e não o vi na cama.
- Estou indo...
Não, não morrera, estava ali deitado, com respiração curta e muito lenta, todo sujo, pois, em sua tentativa de sobreviver, ao sair do quarto, seus esfíncteres soltaram-se e por onde ele passara deixara um rastro, inconsciente, de sujeira. Carreguei-o e depois de um ligeiro banho e a colocação de uma roupa limpa, o colocamos, eu e meu filho mais velho, no carro de minha irmã. Logo após a porta ser trancada, arrancou em uma velocidade que ela não usava. Acelerando o meu carro, tentei acompanhá-la, mas, quando cheguei ao hospital os enfermeiros já o tinham tirado do carro e já na maca foi encaminhado para a sala de urgência.
- Calma, doutor, dissera eu para o médico. Gostaria que o senhor, antes de levava-lo para o centro cirúrgico, me dissesse como o senhor chegou a esse diagnóstico.
- Olha, não podemos ficar parados, pois, o tempo está passando e nesse caso pode haver uma infecção generalizada por conta da contaminação violenta que este trombo poderia ocasionar aos intestinos.
- Doutor, não sei o que é enfarto das mesentéricas, assim, gostaria que o senhor, rapidamente, me dissesse o que é o enfarto das mesentéricas, por favor.
- As mesentéricas são as artérias que irrigam os intestinos. Se houver uma interrupção nesta alimentação, o intestinos se decompõem muito rapidamente. É o que está acontecendo com seu pai. Agora, me dê licença que tenho que ir para o centro.
- Doutor, levando em consideração a escassez de exames que comprovem sua teoria e que a laparotomia exploradora é uma cirurgia e portanto uma agressão muito violenta para a idade de meu pai eu lhe digo que não concordo com a cirurgia e peço que o senhor reconsidere seu diagnóstico. Não pode haver cirurgia sem uma melhor apreciação, desculpe-me.
O rosto do médico avermelhou e fitando-me, disse:
- Seu pai vai morrer em horas e tenha certeza que você vai ser o único responsável.
- Doutor, peço desculpas, de novo, mas, neste caso vou ter que chamar outros médicos.
Assim foi feito. Meu pai não morreu, pois, depois, de muitos diagnósticos errados, como AVC, Câncer de Próstata, com muita coragem, que não sei de onde veio tamanha, chamei outros profissionais, com outros métodos de diagnósticos, os quais detectaram uma violenta infecção urinária, a qual depois de tratada devolveu por completo sua saúde.
Depois desses anos passados, consolidado o correto diagnóstico, louvo a Deus a oportunidade, rara, de com coragem, ter defendido a vida de meu pai que até hoje, três anos depois desse fato, está entre nós.
Tudo contribui para o Bem daqueles a quem Deus ama.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Segunda-Feira de Carnaval.

Segunda-feira gorda. Bom dia para sentar-se e curtir-se uma boa palestra com amigos, e, tão importante quanto, o aroma e o sabor de um bom café. Meio feriado, meio parada a cidade, escolhi, à guisa do shopping, um café aconchegante, no Vieralves, o Franscafé, minha segunda escolha de sabor de café, o primeiro, todos sabem é o Café do Ponto, do Shopping Manauara. Sentados, eu e Miquéias Fernandes, meu amigo, quase irmão, fizemos nosso pedido e logo, sem demora, entra no café outro amigo, esse de infância, o Rogélio Casado, um médico psiquiatra, militante, fundador de tantas causas de cunho social, como a da AIDs, a da nova percepção no tratamento de doenças mentais, a que franquia a palavra às prostitutas, homossexuais e outros tantos trabalhos importantes.
- Alexandre de Souza Cruz Silva... disse ele vindo direto em nossa direção.
- Rogélio Casado Marinho Filho... disse eu, me levantando e abraçando-o para matar a saudade, esta por força de tanto tempo sem nos vermos.
Conversamos sobre todos os assuntos do país, de nosso estado e cidade, as dificuldades pelo qual se passa querendo beneficiar as classes abandonadas, e, quase resolvemos os grandes problemas do país e também do mundo. Rapidamente Miquéias se inteirou, sentindo-se à vontade com a conversa, participando e dando idéias acerca dos assuntos, coisa que ele maneja muito bem.
Há enormes dificuldades para quem milita nessa área social. As igrejas, as guardiãs terrenas das bençãos celestiais, que decepção, em nada ajudam, principalmente as chamadas evangélicas, a não ser que seja a promoção de própria denominação, e, a cidadania, o bem estar real, o ser gente propriamente dito, fica à margem, marginalizando ainda mais essa gente esquecida em todas as horas e que só merecem atenção em horas terríveis, catastróficas. O tempo passa, a caravana continua passando e nada se faz, a não ser em tempo de campanhas.
A semente, ou, as sementes estão lançadas, necessário se faz uma nova linha de frente, uma nova vontade política, onde o cidadão, o homem seja, realmente, o centro nervoso, e, assim sendo possa viver melhor, com acesso à informação, ao incentivo ao trabalho, ao estudo, à cultura e principalmente possa viver em qualquer situação por ele mesmo, conhecendo e convivendo com outros conhecedores da vida.
- E aquele teu problema... Falava de uma ameaça sentida por ele, Rogélio, a algum tempo atrás.
- Estou de dieta severa, está sob controle.
Enquanto ele falava, eu pensava, talvez, de tanto ouvir as mazelas dos outros, ele tenha desequilibrado o incrível conúbio entre a alma e o corpo, e, somatizado tal doença, mas, imediatamente, cortei o fio da meada do pensamento porque ele certamente diria, simplesmente, que eu estava "viajando na maionese". Ri por dentro e perguntei a respeito do tombamento do porto das Lages, e, assim mudei o assunto.
Que bom, pensei. Ganhei o dia, conversando com essas duas ilustres cabeças, e, pensei: ainda bem que não temos o encargo, ou o peso de resolvermos problemas tão complexos como esses, sobre nossos ombros.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Negativismo ou Realidade?

Negativismo ou Realidade?
Nossa cidade tem sido atingida pela mesma onda de violência que impera no mundo, seja nas atrocidades individuais de um assalto, seja na covardia dos governos totalitários que de forma rude e brutal têm, na tentativa desesperada de permanência no poder, provocado fratricídio sem precedente na História. Na lástima da impotência individual, eis que a esperança renasce da coletiva, na soberania do Estado e da sociedade civil, com vistas a uma espécie de resgate humano diante das atrocidades impostas por governos totalitários. A passividade social ganha novas caras. O povo, no mundo todo, une-se para o breque de tais governos, para cumprir sua vocação libertária, seus anseios de liberdade. Ao mesmo tempo não há nada em toda cidade mundial, sendo feito para estancar a hemorragia dos corpos vítimas da violência urbana. Cada vez mais e mais há uma proliferação dos governos paralelos, que peitam os oficiais, que teimam em ter o que teoricamente não poderiam ter, isto é, um espaço destinado aos mais éticos, aos mais socialmente integrados.
Ficamos à mercê de foras-da-lei, como no tempo da colonização do oeste norte-americano, onde o que prevalecia era a lei do mais forte. Vemos, abismados, diariamente, o terrível braço da contravenção avançar cada vez mais adentro da sociedade, criando seus heróis, seus capitães, avultando seus atos, diminuindo nosso terreno, nos deixando a triste realidade das balas perdidas e o jargão de que estávamos na hora e no local errados. Criamos vezos, sestros de defesas, pois, deixamos de sair de nossas casas, em determinada hora do dia, para diminuirmos a possibilidade de quaisquer possibilidades de sermos assaltados, mortos, e, principalmente, fingimos que não é conosco, portanto, é algo tão longínquo, tão longe de nós e de nossa família e crianças que não, realmente, não nos engajamos nessa guerra civil, em nossas cidades, em nossos estados e em nossos países, etc.
O fenômeno é global. A prensa tanto de governos autoritários, quanto a má distribuição de renda, em governos tradicionais, a falta de oportunidade, via educação, a facilidade do ter na contravenção, e a falta de compromisso das autoridades com a ética, a impunidade campeando e dando brecha para a continuidade da quebra das leis, a desesperança força uma vida muito menos sã que a humanidade anseia.
Realmente, há um anseio global por uma estabilidade tanto emocional quanto física, com as vidas tendo condições de viver. O apelo religioso, tão freqüente na sociedade, de longe não chega mais a intimidar ou mesmo gerar cidadãos comprometidos com a chamada ética cristã. O cenário mundial se enquadra na esperança de que o homem por si só seja capaz de se redimir e assim fazendo redime também o planeta terra. Talvez, o mundo esteja se encaminhando para um governo único, totalitário, forte, para demandar os anseios de segurança e de esperança do homem, em todo mundo, na redoma de uma época promissora, progressista, moderna e com uma ciência efetiva, de pesquisa infinda, com desdobramentos incríveis, onde a morte aconteça, quase que somente por motivos acidentais, e, nessa fortaleza Deus tenha morrido, porquanto o homem não necessita mais de um Pai.
Essa é a profecia de Jesus. Estamos nos encaminhando a passos largos para seu cumprimento. Pensemos nisso, enquanto há tempo, pois, o quadro é caótico e sinistro, o princípio das dores começa em 2012? O que foi feito para a destruição de nosso planeta é irreversível. A fome, as guerras e a destruição dos terremotos e tsunamis se alargam e tomam conta das manchetes dos meios de comunicação. Pensemos, meditemos...
Buscai ao Senhor, enquanto se pode achar, invocai-O, enquanto está perto.
Paz e Amor.
N`Ele.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Estudar é bom, mas...

Não há condições de estudar em casa em meio ao alvoroço realizado por dois incríveis garotos que passam o dia inteiro sacudindo o prédio, as áreas comuns e todo apartamento, onde moramos, balançando-o aos seus bel-prazeres. São muito rápidos demais para serem detidos por outros. Agora mesmo um avião de fabricação caseira, passou raspando minha cabeça, obrigando-me a abaixar-me, e, assim, quase bati minha testa na ponta da mesa, onde estou, pelo menos tentando estudar, e, os dois passaram como bólidos supersônicos, zumbindo na passagem por mim, disputando o primeiro lugar na pegada do avião. Pensei em sair e ir para um lugar mais tranquilo como uma biblioteca de alguma dessa inúmeras faculdades que hoje compõem nosso maravilhoso universo de pretensão de estudo, em nossa cidade.
- João, cuidado com a ponta da mesa, olha teu irmão menor, cuidado...
A resposta é um acelerar de passos e gritos provenientes de uma caçada que ambos estão fazendo. Querem prender o chefe de uma galáxia distante que fugira de seu território e resolvera infernizar o nosso, e, os dois, que coincidência, eram os últimos terráqueos detentores de poderes tais que poderiam prende-lo.
Entraram, correndo, na cozinha, onde D. Léo, acabara de passar seus deliciosos quitutes, e, a levaram ao chão em suas correrias.
- Oh! João, cuidado... Tarde demais. Quase uma tragédia, pois, a panela desequilibrara e por um triz não virou na cabeça dos capetas.
Tive de intervir.
- Os dois para cá, já, já...
Os dois sérios, passaram rápidos por mim e o mais novo, talvez, preventivamente, levantou os braços, miúdos, num sinal claro de que gostaria que eu o pegasse para meu colo. Imediatamente o coloquei no colo e ele apertou com seus dedos a ponta de meu nariz me fazendo dar um pulo e esquivar minha cabeça para o lado.
Não em jeito, pensei. A idade deles é eletricidade pura, não dá para para-los. Lembrei-me de minha própria infância, após os almoços diários, quando sentava-me com meu irmão, um frente ao outro, e, criávamos incríveis estórias de outros mundos, imaginários, personagens que brotavam de nossas cabeças e que impressionavam os outros.
- Vamos à base, um de nós dizia ao outro.
- Vamos, pois, há uma ameaça de invasão... e, assim passávamos as tardes quentes de nossa cidade inventando estórias tão fantásticas quanto o momento de meus netos mais novos, agora.
Quedei-me na tentação de brincar um pouco com eles, pois, por um momento tive a impressão de ver o tal invasor espacial passar correndo entre as paredes do corredor do apartamento...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Dia de Alegria.

Estou, novamente em Boa Vista. A formação dos meus pequenos, grandes homens daqui, me dá a impressão de que a distância não é condição sine-qua-non para a desestabilização dos sentimentos e a força de vontade dos que moram longe uns dos outros e que perseguem a necessidade de comunhão permanente entre si, é o que conta. Assim, baseado nisso, na quantidade de vezes que se pode estar juntos é que propus a idéia de quando em vez passarmos algum tempo uns com os outros, daí a origem de minha estada aqui.
Não é verdade que não estou à vontade com isto, pois que, gostaria mesmo que todos morássemos na mesma cidade e de preferência bem pertinho uns dos outros. Os meninos estão enormemente maiores do que o previsto e logo, na ordem natural das coisas estarão de minha altura. O Alexandre Neto, o meu neto mais velho, já ombreia comigo e sua voz dá demonstração de mudança real com momentos de engrossamento, que logo, logo se transforma, rapidamente em um som, com tom agudo, o que, para o menos avisado é engraçado.
Que bom podermos estarmos juntos mais uma vez. A semana toda, deliciosamente, me dediquei à deixá-los e a buscá-los na escola. O Enzo, à guisa de estar dormindo, logo de manhã cedo, diz-me, semi-acordado:
- Vovô, não estou acordado me leva no colo?
- Claro, digo eu; era o que eu queria, então, pacientemente o coloco no colo, curtindo o momento, que sei não é eterno.
Depois de deixá-los aquietados na escola, rumo direto para uma conversa com o "Seu" Jonas, o vigia da escola e o guardador, em todos os sentidos de todos os meninos e meninas que por ali passam.
- Como vai, Seu Jonas?, pergunto eu puxando conversa. O Sr. está melhor? Uma das últimas vezes que aqui estive o sr. estava mais mole que "bosta" de pata. Disse quase me embolando de rir, intimamente.
- Ah! o Sr. não esqueceu isso, heim?, estou bem, Graças a Deus.
Venho embora.
- Olha, mocinha, ainda não está na hora de brincadeiras. Já para dentro... e, assim, sua vida de eterna paciência com aqueles meninos e meninas da escola se efetiva, na compensação, talvez, do que ele não tenha tido em sua infância.
O sol brilha, dando a entender que não haverá chuva, como previra a moça do telejornal. A brisa quente, da manhã, anuncia um dia de muito calor, então, penso que o dia pode ser anuncio de muitas alegrias.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Caboclo

As barrancas do Rio Amazonas são abrigadoras dos habitantes da região, os ribeirinhos. Há os ribeirinhos nascidos, às vezes, no próprio local e há os desbravadores ou seus descendentes que teimosamente se alocam nessas paragens e por lá ficam sem aspirações maiores, à mercê do tempo e das intempéries. Olhando de uma forma macroscópica ele, esse caboclo teimoso, ensimesmado, vezo em solidão, pode ser considerado héroi, mesmo que anônimo, sofrendo a falta de oportunidades, falta de acesso à educação, para si e para os seus, falta de acesso a uma saúde que lhe supra as necessidades básicas, falta de informação, pois, quando muito esforçado, possui um radinho de pilha que o supre de informações entrecortadas, com quedas na freqüência das ondas de rádio.
O que faz, efetivamente, o caboclo, sempre alegre, sempre sorriso, em conúbio constante com a natureza, pois, sua faculdade consiste, da obervação e do devaneio, de onde procede sua sapiência, sim, porque ele é sábio, e, faz-se feliz ali naquela imensidão de mata e rio, com a Mariazinha, um horror de filhos, barrigudos, sonolentos, aprendendo, com o pai, as manhas e belezas da natureza.
Os governos, por esta imensidão, nunca por lá chega. As prioridades são outras, e, mesmo a realidade conhecida não influi nas decisões. O caboclo, lá a esperar sua vez, com uma paciência de Jó. Um dia as coisas mudam e a felicidade certamente será benvinda.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Carinho é bom.

A avó era bem gorda, com uma enorme barriga, o que a deixava mais baixa, na aparência. Adorava o neto mais novo porque o pai e mãe não tinham paciência suficiente com ele. O garoto tinha por volta de sete anos e o que queria fazer naquela hora era brincar com seus colegas de rua, no centro da cidade, de bolinha de gude. O tuíste, a ronda mate, e, principalmente a ronda mate. O círculo, longe da linha de ponto, era o receptáculo da quantidade de bolinhas apostadas previamente, às vezes, casava-se uma, duas, três e assim por diante. Os jogadores se postavam ao lado do círculo, um de cada lado, e, jogavam suas ponteiras, bolinhas maiores que as da aposta, podendo ser de vidro, de aço, tiradas dos rolamentos das rodas de caminhão, carros, e, quanto mais perto elas parassem da linha de ponto faziam a ordem de jogada de cada um dos jogadores. O primeiro, então, mirando no centro da ronda mate, atirava a sua ponteira com bastante força no afã de tirá-las de dentro do círculo, o que, se acontecesse, dava ao jogador a chance de continuar a jogar até errar, então, a vez da jogada passava ao outro jogador, e, assim jogava-se até a última bolinha sair de dentro do círculo.
- Amanhã tem prova de Matemática, menino, vais ter estudar de novo, pois, não sabes nada - a mãe do menino gritava bem alto.
O garoto, então, corria para o colo da avó. Ela deixara, propositadamente, crescer a unha do dedo mínimo com o qual fazia cócegas no neto. Depois de brincar um pouco, ela, pacientemente, começava a ensinar o menino, com tanto amor que o ilógico virava lógico o improvável em provável e rapidamente, contra todas as previsões maternas o garoto aprendia a lição, fato comprovado pela mãe que o sabatinava.
- Agora podes brincar, um pouco...
Nem a frase terminava o moleque já estava na rua misturado aos outros, e, naquele momento, nem lembrava do esforço da velha avó em ensina-lo, somente mais tarde na vida é que teria a noção exata da família e notadamente da avó em sua formação pessoal.
- Receba este diploma... Era o reitor da universidade coroando a cabeça do moleque e no gesto mecânico não observou uma lágrima emocionada que timidamente escorria do rosto abaixo daquele moleque que agora lembrava o carinho da avó a ensinar-lhe a vida.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Pesadelos.

Parece um pesadelo, desses terríveis que a gente pensa não suportar, se demorar mais um pouquinho. As chuvas têm literalmente acabado com as principais cidades do Brasil e algumas em outros países. São Paulo, nossa principal cidade, está embaixo d'água, computando inúmeros mortos e desabrigados, e, impera as doenças, as lamentações pelos entes que morreram. O Rio de Janeiro também, com suas maravilhas impressionantes, suas belezas, seus encantos, sofre a dor de soterramentos, deslizes, mortes prematuras, na maioria das vezes totalmente desnecessárias.
Fico imaginando o intenso sofrimento dessas famílias, normalmente de bairros periféricos, ou mesmo em regiões serranas, de casas ricas, sem terem a quem se queixar, sem terem ombro onde possa efetivamente ser consoladas, e, sem entenderem que tudo isso poderia ter sido evitado se não fosse o descaso dos governos que ano após ano enfrentam tais prejuízos, tanto material quanto social. Todo ano se lamenta muito o acontecido, mas, na prática nada se faz.
Ouvi a entrevista de um prefeito que dizia que realmente o local desmoronado era de uma invasão, irregular. Quer dizer a prefeitura sabia da irregularidade e nada fez, e, se olharmos de uma forma macro, veremos que quase todos os lugares com este tipo de problema são iguais. Ano vai e ano vem, milhões e milhões de reais são gastos em obras de infra-estrutura e não resolvem nada. Tomara, oxalá, os governantes de todos os nossos estados e quaisquer lugares que possam resultar em mortes de seres humanos, tenham consciência de que as prioridades para o ano que vem além das normais sejam as enchentes por águas pluviais, deslizamentos de encostas, inibição de invasão de áreas reconhecidamente perigosas, e, sobretudo, tenham a coragem de tomar decisões que certamente vão doer politicamente, por serem antipáticas, assim talvez, para o ano vindouro o preço da acomodação não seja principalmente vidas preciosas.

Louco, hoje pedirão tua alma...

A vida é breve.
Não havia nada certo, tudo estava dando errado. Ele pensara no quanto tinha trabalhado para alcançar um bom descanso na velhice, em sua aposentadoria. O tempo passara e agora aposentado, com boa prebenda, podendo praticamente fazer o que quisesse, como viajar com sua esposa, com seus netos, e, mesmo em grupos de amigos, aparecera essa doença para invalidar quaisquer planejamentos. Era uma doença silenciosa, dessas que matam a gente devagar, pensara ele, naquela manhã. Tomara uma boa ducha, sentara à mesa para o café da manhã e a voz metálica do médico repetindo sistematicamente a mesma promessa de morte iminente, talvez uns poucos meses. Deveria se apegar com Deus, dissera ele. Deus? Aonde pode estar Deus? Agora que eu poderia viver um pouco mais, longe das chateações do trabalho, fator de muito estresse, e, também dos engarrafamentos, da hora marcada, da obrigação de ser organizado, me aparece este maldito tumor e em uma região tão sensível a ponto de se espalhar tão rapidamente pelo corpo, que alias o médico não sabe se já está ou não e aonde. Oh! Meu Deus...
Amanhã em vez de estarmos no Caribe, não vamos por conta desse tratamento com químicos e a tal de radioterapia. Caramba, pensara ele, será que isto é verdade? Tenho quase certeza que este médico errou o diagnóstico, pois, sempre fui muito saudável, nunca tive ou apanhei quaisquer doenças, nem mesmo dor de cabeça, meus exames, quando os fazia, eram impecavelmente dentro dos limites normais; esse médico errara o diagnóstico, com certeza. Vou procurar outro médico. O rosto do médico insistia em ficar defronte a ele. Um leve sorriso, sarcástico, e, a voz metálica. O cara está completamente louco, pensara ele. Não faça isso, agora gritava ele, pois, o endiabrado do médico empunhava um bisturi pronto para extirpar o tal tumor. Pare, pare...
Acordou olhando para os lados e em todas as direções tentando se situar. Até que entendeu que tudo fora realmente um sonho mau. Um pesadelo. Graças a Deus, que nunca me abandonou, pensara num lampejo de felicidade por tudo não passar de especulação do mundo dos sonhos. Olhou para sua mulher, a seu lado, na cama, pensando o quanto poderia ter dado mais conforto, mais vida para ela, qualquer dia desses eu faço e levantou-se. O dia estava claro, com o sol buscando entrar no quarto por uma brecha deixada pela persiana. Espreguiçou-se e pensando em quanto sua loja venderia hoje, sentou-se no vaso do banheiro. Quando estava terminando e praticamente levantando-se, uma súbita dor no peito, achatando e comprimindo-o cada vez mais, o fez ficar tonto, e uma forte luz cobriu seus olhos, e, então a dor infinita, infinda, terrível tomou conta de seu peito e dele, prostrando-o. Caiu morto ali mesmo.
" Louco hoje pedirão tua alma e o que tens guardado para quem será? "

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Alegria no coração.

Amanheci desanimado, macambúzio, talvez, porque, acordara mais cedo que o costume e pensara no tempo, bom, quando o consultório, abarrotado de pacientes me enchia de orgulho e muito trabalho, às vezes, não me deixando dormir, tal a demanda. Talvez, porque tenha lembrado que deixara de atender por exatos sessenta dias, por conta de um dedo, de minha mão, fraturado, primeiro abri o olho não coberto, pelo lençol, para logo depois levantar-me, como sempre, orando, pedindo pelos meus e pelos outros, pelos doentes conhecidos ou não, pela verdadeira igreja de Deus, pelos amigos mais chegados ou não, pedindo pelo planeta terra com sua complicada rapace, provocada pelo próprio homem, e, então, me dei conta da felicidade que encheu meu coração ao compreender que o melhor seria feito ou já estava feito na mente de Deus e que Ele disse: " Olhai o lírio do campo, pois, nem Salomão em toda sua glória se vestiu como um deles... "; pensei, então, nos filhos, netos e afins, todo bloco de meus amigos e sorrindo de alegria entrei no chuveiro para uma boa ducha.
" Se paz a mais doce
me deres gozar,
se dor a mais forte sofrer,
Oh! Seja o que for
Tu me fazes saber que com JESUS,
Sempre eu vou ser... ".
Era o canto de meu coração. O dia começara e sem saber o que estava reservado para ele entrei no carro para ir atender na Assembléia Legislativa do Estado, onde trabalho.
Deus é bom e sua benignidade é para sempre.