quarta-feira, 23 de maio de 2012

Chovia copiosamente...

Chovia copiosamente. Os pingos eram grossos e impediam a visão à meia distância... Quando escrevi, esperando que estava a conclusão da limpeza de meu carro, a primeira frase: chovia copiosamente o rapaz da loja informou-me que o dito cujo estava limpo e pronto para a entrega. Suspendi de imediato a escrita e dirigi-me ao lugar da recepção onde iria receber o carro limpo e polido. Minutos depois conversava animadamente com um amigo em um café, e, lembrei-me da frase, chovia copiosamente e falei a ele: - Veja que frase incrivelmente bela, de uma beleza literária sem precedente: chovia copiosamente, disse referindo-me as inúmeras possibilidades de interpretação, onde o que conta é o imaginário. Estava chovendo copiosamente e a resposta disso na natureza eram pastos verdes, campos imensos alimentados com a força espetacular da água, esse componente imprescindível à vida, fora que para o cidadino, aquele da cidade, o dia é mais triste, mais devagar, a chuva é fator que atrapalha, pois, até o deslocamento é dificultado, as coisas acontecem mais devagar. Animadamente disse e fiquei a olhar para ele com convicção de que estava realmente escrevendo história, estava, numa frase curta dissecando as benesses que uma boa chuva pode fazer ao homem do interior amazônico através da terra e do plantio, quando o rio está seco e as terras de várzeas são sua esperança de abundância, pois, úmidas são terras muito boas ao plantio e colheita. Falei e fiquei olhando o para ele esperando uma reação de aprovação por tão grande observação e descrição ímpar, mas, a careta com que veio a resposta, de imediato, fez-me sentir que a digestão da palavra tinha sido contrária: - Alé, nunca vi uma frase tão pobre e o que vejo quando lembro da frase é um escritor totalmente vazio e sem inspiração... Ri, um riso sem graça, desses que fazemos quando estamos disfarçando algo e balancei a cabeça afirmativamente concordando com tudo. De repente, fiquei pensando que o estio é melhor que uma boa chuva, e, que mesmo copiosamente, metaforicamente a frase não fazia sentido, recolhi-me à minha insignificância, pensando: nunca mais começo uma crônica com uma frase assim: chovia copiosamente...

sábado, 12 de maio de 2012

Mãe, te amo

Hoje é o dia dedicado às mães. Não é um dia qualquer, mas, um dia de reflexão, de homenagem, de agradecimento, de sorte, de sonhos, de amor, de aconchego, de saudades, de reconhecimento por tantas mães espalhadas por todo canto do mundo. Ser mãe, em qualquer época da história, é um dom, uma persistência, uma determinação, uma vontade, um desejo, um cansaço, um choro, um desespero, uma alegria infinda, um ser completo, realizado, uma preocupação, uma dedicação, um bem querer, uma tristeza, uma verdade, uma mentira, um sobressalto, um arrependimento. Ser mãe, antes, agora e sempre, é ter ser luz, alumiando tudo e todos ao redor, é chorar baixinho quando tudo está dando errado com seu filhinho, é a obrigatoriedade de rir para não preocupar seu bebê, é chorar de alegria no nascimento e vitórias do seu rebento, é ter paciência infinita e um amor desmesurado. Bem feliz é, neste mundo, quem pode usufruir do colo amoroso da mãe. É no perigo, nos momentos tristes, na distância que se pensa nela com maior necessidade. Uma comida especial, só feita por ela, um carinho só feito por ela, um sorriso só o dela, uma palavra só a dela, a companhia só dela. A minha foi-se embora há algum tempo deixando uma enorme saudade, um sentimento de perda e uma esperança enorme de revê-la na continuidade da vida pós morte. - Alé, fiz sua comida predileta, suas panquecas de carne moída com molho de tomate, acompanhadas de maionese de camarão e um arroz tipo maranhense. Sua doce voz ainda ecoa na mente fazendo-me até sentir o gosto do deleite alimentar. Seu rosto flutua claro em minhas retinas, com uma seriedade abrandada por uma linha de sorriso discreto, porém, magnificamente lindo. Saudades. Nesta imagem, de minha mãe, homenageio todas as mães do mundo desejando-lhes que Deus recompense tão grandes dedicações inclinando Seu ouvido e realizando todos os pleitos de seus corações, ou, abrandando-lhes o sofrimento de ser mãe.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Lucca.

Hoje nasceu Lucca um sobrinho da Socorrita, meu por afinidade, mas, tão solidamente sobrinho quanto o pai, que vi crescer e aprendi a amar como filho. Ouvi seu grito forte, proveniente do grito de dor quando da entrada de ar em seus pequeninos pulmões, e, imediatamente todos os nascidos assistidos por mim, renasceram e toda imagem presenciada há tantos tempos voltaram como mágica em minha mente. Lucca, filho de Olintho Cabral e Cinara Cabral, nasceu hoje, assistido pelas doutoras Nely Alencar e Marilena Louppi, ambas excepcionais obstetras, veio ao mundo para preencher, tanto historicamente quanto psicologicamente, a lacuna proveniente do mandamento dado por Deus, " crescei e multiplicai ...". Naquele choro forte, vindo do fundo de sua alma, revivi a trajetória do nascimento de Alexandre Filho e seus filhos, meus netos, Alexandre Neto, Enzo e Davi, e, os filhos de Gabriela, minha filha, João Gabriel e Guilherme, do Rodriguinho, Ana Clara, esses parentes tão próximos e amados. Não um reviver superficial, mas, um mais profundo, mais sólido. Os choros, as caretas, as roupinhas, o estranho ar de quem não está satisfeito por nascer, de quem quer voltar para o quentinho do útero, tudo contribui para a eternização do momento. Volto minha atenção para o trabalho competente das médicas. Aqui uma pinça, ali uma sutura, o enxugar de um sangramento, as camadas voltando ao seus antigos lugares, o feixe de luz do refletor, certinho no centro da cirurgiada, o andar despreocupado da anestesista, o cadenciar dos pingos do soro, me levam a retorno no tempo, e, a volta rápida para a cirurgia atual. A pediatra, neo-natologista, segura firme Lucca nos braços e o leva até o rosto cansado de Cinara que sorri com ternura absorvendo aquele momento mágico. O choro forte, alto, reclamante é registrado por minha máquina digital, paralisa os movimentos, eterniza o momento. Tento acompanhar a pediatra, mas, rápida e lépida, entra em sua sala onde deve proceder a limpeza e exame mais profundo do recém-nato. Fico na porta esperando. - Ele está bem, perfeito... Retorno à sala de cirurgia e vejo que as médicas estão para encerrar todos os procedimentos. Resolvo sair e lá fora, com a família, mostrar as fotos e alegrar-me, como diz o salmista: " Este é o dia que Deus fez para nós, alegremo-nos e regozijemo-nos nele..." Parabéns Olintho e Cinara meus amados, mais amados ainda com o Lucca chegando a esse nosso mundinho, mundão, lugar bom para viver.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Seu Neném e o brasileiro mais importante.

Com sua colher ele preenchia, dando acabamento, os vãos deixados pela interceção dos azulejos, e das pedras já sentadas na escada e nas paredes da cozinha. Seu Neném, um pedreiro de primeira mão, muito organizado e preocupado com sua família, auxiliado por seu filho mais velho, com voz didática, perguntou: - Dotô, disse ele, na sua opinião quem foi o maior brasileiro que já existiu? O senhô sabe... prá mim Getúlio Vargas e o Marechal Deodoro foram os melhores. Um a república e o outro a estabilidade no trabalho, prá os trabalhadores, não é? - É, disse eu, tentando lembrar os brasileiros que mais influíram em nossas vidas. Cabral, com seus navios dando abertura para nossa colonização, D. Pedro, Deodoro, enfim, todos os presidentes, todos os governadores, prefeitos, vereadores e deputados, deputados federais e senadores, Pelés, Neimar, os médicos ousados que tanto fizeram por nossos interiores, os padres e pastores que doaram vidas no desbravamento de nossas terras, os líderes de movimentos sociais que viraram mártires, deram suas vidas pelos movimentos que representavam e legaram exemplo de patriotismo e de sensibilidade pelo bem estar dos outros. Afinal, perguntei a mim mesmo, quem foi o maior brasileiro que já existiu? O filho do pedreiro me olhava, ansioso por uma douta resposta, mas, lá estava eu, mergulhado em tantos e variados pensamentos, que demorava na resposta. Finalmente, depois de profunda reflexão cheguei à conclusão que todos nós, brasileiros, partícipes de famílias, de municípios, de Estados e país, é quem somos, formamos a galeria dos mais importantes, fazemos História todos os dias, ele na construção dos projetos arquitetônicos, papel tão importante quanto o do arquiteto, pois, um não conseguiria trabalhar, construir, sem o outro, que projeta, imagina e cria. Assim, em todas as áreas a criação borbulha, nasce de uma corrente, enorme linha de montagem, e, que constrói o país. Seu Neném, somos todos importantes. Depende de todos nós a construção de um país onde as diferenças diminuam, a renda se liberte das peias do rendimento fácil, da corrupção, onde os sonhos projetados para seus filhos em qualquer lar sejam realizados com suor, mas, com honradez e muito trabalho. Só assim seremos felizes como povo. Somos todos muito, mas, muito importantes.