quarta-feira, 30 de março de 2011

O real anseio da alma.

As igrejas tradicionais têm se empenhado, de toda maneira, neste mundo tenebroso, onde o chamamento do mundo racional e mais material é muito forte, a pelo menos manter os jovens, seus filhos, sob o controle de suas vidas e almas, tão tradicionalmente aceito na maioria dessas igrejas. A teoria do inferno pleno, aquele onde não se pode ventilar a idéia de perdão, a rigidez teológica, onde o que manda, ainda são as normas e dogmas da instituição impregnadas nas cabeças jovens dos imaturos cristãos, com seus medos e tremores emocionais, consubstanciam marcas psíquicas eternas, e, principalmente a negativa de poder, sabiamente, fazer perguntas acerca do ensinamento do Deus aprendido, do Deus paradoxalmente bom e complacente e ao mesmo tempo inexoravelmente iracundo e raivoso, vingativo e desumano em suas ações, tratando de acabar com um relacionamento que poderia gerar cristãos autênticos, seres humanos sensíveis e corajosos. Há algo dicotômico.
Tenho conversado com pessoas comuns, com líderes, com a mocidade das igrejas, e, vejo aterrorizado o quanto a energia despedida pelos ancestrais, pelos profetas e congêneres, toda a pregação esvaziou-se completamente e o que aflorou nesse momento é o esfriar do Amor, expresso na omissão social, na falta de atitude em relação a problemas que afetam diretamente o intercâmbio entre Deus e o homem, na procura exacerbada de conciliação, isto é, uma volta ao Édem, no caso totalmente unilateral, humana, porque provinda exclusivamente do homem, sem participação efetiva de Deus, o que resulta em frustração. Em vão, líderes bem intencionados em suas ações, mesmo boas ações, tentam reverter a hipocrisia da tradição, oferecendo novos caminhos de reconciliação homem-Deus. Uma parte das igrejas tradicionais, acho que por não entenderem as novas exegeses e hermenêuticas, ficam indiferentes e outra, mais consciente, logo tentam apagar o fogo de um entendimento mais aberto, como soe deve a mente de Deus, sem querer entende-Lo, pois, pensam conhecer e ter a exata dimensão das propostas de Deus para a Humanidade, resultando em cismas doutrinárias e formação de igrejas mais doentes que seus seguidores, onde, pensam, a venda do céu, com desculpas de manutenção do reino, aqui e agora, é uma necessidade espiritual, e, enganam a muitos.
Convém estreitarmos mais os laços e reaquecermos o Amor entre nós, homens e mulheres, o qual reprimido, rebela-se; desrespeitado, insurge-se; ferido, estende a mão; cansado, ainda anda mais duas léguas, esbofeteado, oferece a outra face; desacreditado, faz milagre; e, desanimado brota a esperança que com a fé reacende o brilho e a quentura que só Nele perdurará para sempre, eternamente.

sábado, 26 de março de 2011

Cafés.

Adquiri ao longo da vida alguns vezos, sestros, que, ainda bem não são perniciosos ao próximo. Todos os dias, sempre após a saída da Assembléia Legislativa, local aonde trabalho logo cedo do dia, e, antes de ir para o consultório, paro em um desses cafés, para degustar uma boa moca. Algumas pessoas acham que o café vicia e que tanto mais forte, mais vicia. Ganhei esse hábito, mas, sei que não vicia, no entanto, devo confessar que quando não consigo parar para saboreá-lo, sinto uma certa inquietação, uma falta, que sei é mais psicológica que falta física da cafeína.
É bom chegar, sentar em uma mesinha, dessas que os cafés se equipam, e, são tão aconchegantes, pedir uma moca e fazer-se acompanhar de algum amigo para conversar amenidades. Talvez, a idade, a oportunidade de tempo, às vezes, a vontade de achar-se só, seja isso que me impulsiona a diariamente sentar e curtir o degustar de um bom café.
Percebo que como eu, há muitas pessoas que também usam desse magnífico mecanismo de descompressão mental, diminuição do estresse do dia a dia. Lógico que num ambiente pequeno, como soe serem os cafés, acabamos por conhecer, individualmente, pessoas que assiduamente freqüentam-os. Há o empresário que busca um lugar para tomadas de decisão, um outro que busca companhia, outro que somente quer ler jornais, outro que não tem o que fazer, outro que precisa desse impulso matinal para fumar, outro que ganhou o vezo de simplesmente tomar um bom café. Normalmente há os que usam-os para se conectarem à internet, e, colocam os assuntos virtuais ou não em dia e o que conta é o conforto de ter ao alcance um wi-fi à disposição, numa boa velocidade.
De qualquer maneira cafés são bons lugares. Se você gosta de saborear um bom café, descubra um lugar tranqüilo e calmo. Aqui em Manaus, gosto do Frans Café e do Café do Ponto do Shopping Manauara, e, também do Le Café da Livraria Saraiva, sendo que no Café do Ponto há uma poltrona vermelha, lá no fundo do Café, que é a minha predileta. De qualquer maneira aproveite os cafés e o café, pois, esses momentos são de extrema utilidade vital.

domingo, 20 de março de 2011

Não quero produzir cismas...

Ontem recebi um e-mail, postado por um grande amigo, de infância, o qual convocava amorosamente os protestantes a entrarem no rol dos que apóiam a preservação das Lages. É uma história que se desenrola há a algum tempo, pois, foi politicamente envolvida, misturando comercialização e má venda de imagem, pois, o porto a ser construído naquele local tão amplamente abençoado por Deus, tal sua beleza natural e por ser também local de desova de peixes, o que naturalmente acontece. A reclamação é justa, não podemos simplesmente aceitar que o particular avilte o social, o total. De imediato, quando recebi o pedido de apoio, via internet, alistei-me no rol dos que repudiam a implantação de um porto, cais, ali naquelas imediações. O movimento logo ganhou força nas partes mais sensíveis da sociedade, como a Igreja Católica, através da Campanha da Fraternidade, seguimentos intelectuais importantes também aderiram ao apelo. Como é contumaz, a Igreja Protestante, para usar o termo de meu amigo, retirando-se algumas denominações sabidamente envolvidas em política partidária, e, que portanto não vêm nenhum problema em fazer parte de políticas nem sempre condizentes com a práxis cristã, se fecha, como um caramujo, ou um tatu bola, em sua carapaça, porque, em seu meio sempre há aqueles que interpretam numa ação como essa a intromissão da Igreja em movimentos políticos, o que não é verdade. Há que se fazer diferença entre ação política, que diz respeito à cidadania e tudo que está embutido na salutar busca de igualdade, fraternidade e liberdade, o que redunda num meio social mais democrático e cristão, no mais puro conceito de cristianismo, e, a mistura maldosa, injusta, com outros meios não cristãos, que só buscam o poder a todo custo.
Fiquei alegre com o levantar do assunto, e, principalmente vindo nesse amoroso pedido de uma pessoa importante na luta a favor de uma sociedade mais justa, seja em seu campo de atuação, é médico psiquiatra, quanto no mais simples exemplo de cidadania ao criar associações, que hoje, Graças a Deus, andam por si só, como a Associação dos Aidéticos do Amazonas, a luta desenfreada pelo fim dos manicômios e uma saúde mental mais humanizada, a luta pelos que sem ter a quem recorrer, como agora recentemente o caso dos haitianos que ao chegar aqui em Manaus, não tinham nada, nem mesmo alimentos e foram socorridos por ele, Rogélio Casado, e outros militantes do bem, empenhados na resolução desses problemas. Chamo isto de amor. Amor desinteressado, cristão, sem ser cristão, puro, porque não visa lucro, ou nada em troca.
Os fariseus ainda perambulam por nosso meio, dão dízimo de tudo, mas, são como covas de cemitério, brancos ou caiados por fora e podres por dentro. Não aceitam saírem de suas redomas, suas pequenas sociedades, sem o deixar que a idéia do amor lhes arrebate o coração, enquanto isso, o objeto de seu pretenso amor cristão está fora da Igreja clamando por ajuda desinteressada, Igreja não vinculada a partido político, capaz de Amar.
Já o agradeci, em seu blog, rogeliocasado.blogspot.com, e, aproveito o meu para agradecer mais uma vez a oportunidade, dada a nós outros, chamados protestantes, de pensarmos e repensarmos nosso papel histórico, uma vez que estamos inseridos em um mundo impiedoso, cheio de artimanhas e de desvios sociais que dependem de nossas atitudes e ações cristãs, às vezes tendo que ser duras como a de Jesus açoitando os vendilhões do Templo e da fé.
N'Ele.

sábado, 12 de março de 2011

Coitado de nós.

Estou perplexo com as ondas que chegaram à costa do Japão. Apesar de saber que os japoneses, profundos tecnólogos, apesar disso, sofreram e continuam a sofrer com as contínuas notícias de desolação que se abate sobre eles. Sou vezo em manifestar, nessas horas, um lamento, um choro à Deus, nosso Senhor, a respeito de tal intensidade, tal calamidade, sem explicação real, plausível à racionalização do que pode e o que não poderia ser.
Que situação. O homem miseravelmente entregue à sorte do tempo e de suas próprias más ações. Jesus fez algumas referências a respeito deste tempo, o tempo de Deus. Ele chamou-o de princípios das dores, com referência ao que se pode chamar de ápice da destruição imposta pelo ser humano ao seu redor, isto em todos os sentidos. Nunca vimos tal intensidade de perversidade imposta por uma mente não muito clara, como a do homem, o qual em busca da plenitude de seu próprio ser arruina e destrói tudo o que encontra em sua frente. As consequências naturais decorrentes de sua posição central na criação, ô, ignorância, a qual o mantêm comandante supremo no planeta, o tornam masoquista e refém dos seus feitos, atrozes feitos que o dominam mais amiúde, deixando-o e à terra, seu planeta, muito vulnerável às intempéries provocadas por essas infindas mexidas em todas as partes do globo, seja na destruição da fauna, da flora, na indução de íons ou suas retiradas das camadas protetoras do planeta, deixando-o cada vez mais vulnerável aos assédios maléficos dos produtos naturais advindos disso.
Coitado do Japão. Coitado de nós. Será que vamos deixar que 2012 seja mesmo nosso apocalipse? Estamos mesmo perto de nosso programável fim? Será que na vaidade de nossos intelectos ficaremos satisfeitos com nossa suicida caminhada? É isto que queremos legar para nosso descendentes? O que já foi gerado de ruim no mundo não é mais remediável, mas, ainda poderemos nos esforçar para que o resto, o que ainda temos, seja sadiamente e convenientemente salvo. É uma questão política, é uma questão social, onde o que não deve contar é a vaidade de ser isto ou aquilo, ser general ou soldado, não interessa, simplesmente o que interessa é nossa sobrevivência. Somos todos iguais, braços dados ou não. Chega de brincadeiras individuais, essas que pensamos só em nós mesmos, e, esquecemos o mundo futuro, o mundo onde os nossos descendentes vão nascer, crescer e morrer ou não.
N‘Ele.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Dengue ou Malária

Grassa sobre nossa cidade uma doença, agora epidêmica, chamada dengue. Não, não é uma dengue qualquer. É uma dengue mudada, com outras faces, outras manifestações. Tem morrido gente, pessoas que certamente não mereciam morrer antes da hora. Epidemia é a palavra. Algum tempo atrás alguém riria disto. Nunca imaginamos que o descaso, na saúde pública, fosse chegar a esse patamar, que vem crescendo governo após governo, pois, criou-se um vezo, de não acreditarmos em prevenção efetiva. Isto aqui não acontece. Somos imunes às picadas, às malvadezas que as mais variadas "mexidas" na natureza podem traduzir para nós, pois, podemos cuidar disto depois e essa verba, destinada a isto, pode ser de mais valia em tais e tais áreas.
Pessoas têm morrido, com dengue hemorrágica. Depois da epidemia instalada a correria atrás daquela verba que fora para outro programa é grande e às vezes não dá tempo de achá-la. E os profissionais da área? Coitados, acostumados a uma vida profissional de poucas preocupações com a população, de tantos trabalhos, de tantos plantões, não estão preparados para a brusca vinda de uma epidemia e a cobrança do governo, das instituições, em relação a horário, a forma de abordagem que a doença requer, o aumento dessa demanda, a necessidade de mudança na visão profissional, transtornam todo sistema que de caótico passa a ser mais infernal ainda.
Um dia desses, acordei mal, com dores de cabeça, febre, um mal estar geral e como existe a epidemia, cedi à pressão, feita por familiares, de ir a um hospital especializado e fui ao Hospital Tropical. Logo, entrei, com dezenas de outros, numa interminável fila de zumbis. Um gemia alto, amparado pelo que parecia sua esposa, ou, alguém bem próximo, outro deitara no chão, ali mesmo, esperando socorro, ao seu lado uma senhora também gemia baixinho, lá no fundo do corredor uma outra fila esperava e esperava...
Finalmente, depois de muita espera chegara minha vez.
- Boa tarde, queria fazer o exame de sorologia da dengue, por favor.
- O Sr. já fez o exame de malária?
- Ainda não, mas, me parece que o que tenho é algo parecido com dengue. Tem algum médico, com o qual possa falar?
- Só às três horas.
- ... São quase doze horas, moça.
- Senhor, por favor, olhe o tamanho da fila. Vá para a fila da malária e depois se der negativo volte aqui.
Baixei a cabeça, impotente, sem vontade de nada e sem nada pensar, sentindo somente a grande dor na cabeça e nos músculos, encaminhei-me para meu carro e dirigi-me de volta à minha casa, meu refúgio, meu hospital, meu lugar ideal para morrer, me ocorreu por um momento, pensamento nada consolador.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Diagnóstico errado.

Hospital, 5:00 hs da manhã. O plantonista fora acordado e chateado levantara-se e encaminhara-se para a recepção na esperança de que o paciente recém chegado não fosse de tratamento complexo. Perguntou à recepcionista aonde ele se encontrava e rapidamente se encaminhou para a sala de urgência.
Ele observara que a respiração, apesar de fraca, era contínua e estável. A fisionomia era descansada. A musculatura facial estava relaxada. Pedira os exames de sempre. Hemograma completo, com contagem de alguns íons, plaquetas e hematócrito, etc... Depois de os pedidos feitos fora para o conforto médico tomar um café preto e forte, o que o manteria acordado por um bom tempo. A enfermeira aproximou-se com os resultados dos exames. O hematócrito e plaquetas deram resultados baixos, o que o levaram a pensar em perda de sangue e considerando a idade do paciente, talvez o homem estivesse fazendo um enfarto das mesentéricas. É isso, o homem fez um enfarto. Pensando assim levantou-se e encaminhou-se para a sala de urgência onde os filhos e parentes estavam.
- Tenho que levar seu pai urgentemente para o centro cirúrgico, pois, ele fez um enfarto das mesentéricas e carece de no mínimo de uma laparotomia exploradora. Ô, enfermeira, por favor providencie o centro cirúrgico para este paciente, urgentemente. Chame o anestesista de sobreaviso, uma espécie de plantão de espera. Se houver pacientes o hospital o avisa, e, então, ele apressadamente se dirige ao hospital.
O telefone tocara com um som aparentemente fraco, porém, irritante, acordando-me quase de imediato, e, me fizera dar um pulo, me levantara instintivamente e pegara o aparelho. Eram 4:30 hs da manhã.
- Socorro, gritava a voz apavorada e descontrolada de minha madrasta, implorando por um socorro que não poderia ser tão breve, pois, todos moravam uns longe dos outros, e, ainda tinha que mesmo numa velocidade anormal, demorariam a chegar até lá.
- O que houve? perguntara eu tentando achar a razão de tanto transtorno. Que aconteceu?
- Acho que seu pai morreu. Ele está no chão da sala, imóvel. Acho que ele não está respirando. Corre, vem logo para aqui. Eu acordei e não o vi na cama.
- Estou indo...
Não, não morrera, estava ali deitado, com respiração curta e muito lenta, todo sujo, pois, em sua tentativa de sobreviver, ao sair do quarto, seus esfíncteres soltaram-se e por onde ele passara deixara um rastro, inconsciente, de sujeira. Carreguei-o e depois de um ligeiro banho e a colocação de uma roupa limpa, o colocamos, eu e meu filho mais velho, no carro de minha irmã. Logo após a porta ser trancada, arrancou em uma velocidade que ela não usava. Acelerando o meu carro, tentei acompanhá-la, mas, quando cheguei ao hospital os enfermeiros já o tinham tirado do carro e já na maca foi encaminhado para a sala de urgência.
- Calma, doutor, dissera eu para o médico. Gostaria que o senhor, antes de levava-lo para o centro cirúrgico, me dissesse como o senhor chegou a esse diagnóstico.
- Olha, não podemos ficar parados, pois, o tempo está passando e nesse caso pode haver uma infecção generalizada por conta da contaminação violenta que este trombo poderia ocasionar aos intestinos.
- Doutor, não sei o que é enfarto das mesentéricas, assim, gostaria que o senhor, rapidamente, me dissesse o que é o enfarto das mesentéricas, por favor.
- As mesentéricas são as artérias que irrigam os intestinos. Se houver uma interrupção nesta alimentação, o intestinos se decompõem muito rapidamente. É o que está acontecendo com seu pai. Agora, me dê licença que tenho que ir para o centro.
- Doutor, levando em consideração a escassez de exames que comprovem sua teoria e que a laparotomia exploradora é uma cirurgia e portanto uma agressão muito violenta para a idade de meu pai eu lhe digo que não concordo com a cirurgia e peço que o senhor reconsidere seu diagnóstico. Não pode haver cirurgia sem uma melhor apreciação, desculpe-me.
O rosto do médico avermelhou e fitando-me, disse:
- Seu pai vai morrer em horas e tenha certeza que você vai ser o único responsável.
- Doutor, peço desculpas, de novo, mas, neste caso vou ter que chamar outros médicos.
Assim foi feito. Meu pai não morreu, pois, depois, de muitos diagnósticos errados, como AVC, Câncer de Próstata, com muita coragem, que não sei de onde veio tamanha, chamei outros profissionais, com outros métodos de diagnósticos, os quais detectaram uma violenta infecção urinária, a qual depois de tratada devolveu por completo sua saúde.
Depois desses anos passados, consolidado o correto diagnóstico, louvo a Deus a oportunidade, rara, de com coragem, ter defendido a vida de meu pai que até hoje, três anos depois desse fato, está entre nós.
Tudo contribui para o Bem daqueles a quem Deus ama.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Segunda-Feira de Carnaval.

Segunda-feira gorda. Bom dia para sentar-se e curtir-se uma boa palestra com amigos, e, tão importante quanto, o aroma e o sabor de um bom café. Meio feriado, meio parada a cidade, escolhi, à guisa do shopping, um café aconchegante, no Vieralves, o Franscafé, minha segunda escolha de sabor de café, o primeiro, todos sabem é o Café do Ponto, do Shopping Manauara. Sentados, eu e Miquéias Fernandes, meu amigo, quase irmão, fizemos nosso pedido e logo, sem demora, entra no café outro amigo, esse de infância, o Rogélio Casado, um médico psiquiatra, militante, fundador de tantas causas de cunho social, como a da AIDs, a da nova percepção no tratamento de doenças mentais, a que franquia a palavra às prostitutas, homossexuais e outros tantos trabalhos importantes.
- Alexandre de Souza Cruz Silva... disse ele vindo direto em nossa direção.
- Rogélio Casado Marinho Filho... disse eu, me levantando e abraçando-o para matar a saudade, esta por força de tanto tempo sem nos vermos.
Conversamos sobre todos os assuntos do país, de nosso estado e cidade, as dificuldades pelo qual se passa querendo beneficiar as classes abandonadas, e, quase resolvemos os grandes problemas do país e também do mundo. Rapidamente Miquéias se inteirou, sentindo-se à vontade com a conversa, participando e dando idéias acerca dos assuntos, coisa que ele maneja muito bem.
Há enormes dificuldades para quem milita nessa área social. As igrejas, as guardiãs terrenas das bençãos celestiais, que decepção, em nada ajudam, principalmente as chamadas evangélicas, a não ser que seja a promoção de própria denominação, e, a cidadania, o bem estar real, o ser gente propriamente dito, fica à margem, marginalizando ainda mais essa gente esquecida em todas as horas e que só merecem atenção em horas terríveis, catastróficas. O tempo passa, a caravana continua passando e nada se faz, a não ser em tempo de campanhas.
A semente, ou, as sementes estão lançadas, necessário se faz uma nova linha de frente, uma nova vontade política, onde o cidadão, o homem seja, realmente, o centro nervoso, e, assim sendo possa viver melhor, com acesso à informação, ao incentivo ao trabalho, ao estudo, à cultura e principalmente possa viver em qualquer situação por ele mesmo, conhecendo e convivendo com outros conhecedores da vida.
- E aquele teu problema... Falava de uma ameaça sentida por ele, Rogélio, a algum tempo atrás.
- Estou de dieta severa, está sob controle.
Enquanto ele falava, eu pensava, talvez, de tanto ouvir as mazelas dos outros, ele tenha desequilibrado o incrível conúbio entre a alma e o corpo, e, somatizado tal doença, mas, imediatamente, cortei o fio da meada do pensamento porque ele certamente diria, simplesmente, que eu estava "viajando na maionese". Ri por dentro e perguntei a respeito do tombamento do porto das Lages, e, assim mudei o assunto.
Que bom, pensei. Ganhei o dia, conversando com essas duas ilustres cabeças, e, pensei: ainda bem que não temos o encargo, ou o peso de resolvermos problemas tão complexos como esses, sobre nossos ombros.