quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O abaité ou lá vem o Tio Sujo.

Realmente era feio. Subia a rua de paralelepípedo carregando sua trouxa, alocada às costas. Era uma cena impressionante, pois, a trouxa era amarrada em um cabo de vassoura, de madeira, e, depositado aos seus ombros, e, ele se vestia com um manto pútrido de pano de saco, negro pelo uso, oleado e com uma aparência sem imitações. Normalmente as crianças da rua estavam ou tinham acabado de sair às calçadas para brincarem em conjunto. Lá pelas tantas um ou outro gritava lá vem o tio Sujo. Era uma correria para se esconder, mesmo nas casas alheias, tal o medo que tal criatura impunha. Não usava sandálias ou sapatos. Descalço andava o dia todo, mas, naquela hora sem falta corria para o canto de nossa rua, Leonardo Malcher, confluência com a Ferreira Pena, para depois de agasalhar seus pertences em lugar seguro, não de roubo, mas, de água, se por um acaso chovesse, ele abria os braços os deixando como se estivera numa cruz e arremessava seu corpo contra o muro da casa de esquina. Várias e várias vezes. Era um exercício diário de autopunição. Com o tempo o muro deixou-se ficar com suas impressões. Quem olhasse saberia de haver ali uma espécie de cruz. Ele não se martirizava somente se jogando, de costas com os braços abertos, não. Os carros passavam e todos olhavam para o tio Sujo a se esmurrar no rosto com toda força. Eram socos bem dados, certeiros, que durante o tempo de uso acabou por deformá-lo. O nariz largo de nascença agora era bem mais, sem a proteção da cartilagem do meio, como se houvera um afundamento bem no meio do seu nariz. Passava horas e horas ali naquela punição que parecia não ter fim.
Passei, eu mesmo, imaginando o que levara o tio Sujo, como os meninos o chamavam a cometer estes desatinos contra ele mesmo. Que tipo de culpa carregaria um homem cujo destino era de, como os monges da idade média, opus Dei, penitência e mortificação corporal? Que havia de tão horroroso naquela vida a ponto do flagelar-se ser uma normalidade diária?
Muitos anos se passaram e a molecada na rua, lá pela tardinha a gritar:
- Lá vem o tio Sujo, mistura de monstro e de ser humano, na essência necessitando amor, que pelo que transparecia a vida houvera negado a ele.
Nunca mais o vi, ou ouvi falar dele. Um dia desses passei de carro pelo local. Pareceu-me ver ainda a marca da cruz, apesar da pintura do muro. Não sei se era mesmo ou se fosse pintura de minha imaginação.
Acelerei o carro. O muro ficou, testemunha imóvel, inalterável, do sofrimento daquele homem.
- Lá vem o tio Sujo, acelerei mais o carro.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Parabéns à Natássia.

Existem pessoas que têm empatia com você no primeiro instante do conhecer. Natássia, minha nora, é uma delas, aliás, pouquíssimas pessoas, seres humanos, têm essa força interior que culmina na manifestação do carisma e você só tem que se render a essa magia, como eu me rendi há onze anos quando a conheci. Era uma menina de 16 anos. As idéias e o caráter fizeram-se logo notar e compreendi estar diante de uma dessas raras figuras que aparecem de 1000 em 1000 anos só para nos deixar, com seu modo de ser, certos de que ela nascera para influenciar tudo que estiver ao seu redor.
Da primeira vez que a vi, deitada em um banco, de nosso condomínio, com a cabeça descansando no colo de Alexandre Filho, meu filho mais velho e na época seu namorado, até agora, já transcorridos esses onze anos, fazendo um balanço de tudo o que ocorreu nesse espaço de tempo, entre nós dois, pois, nunca, acho, houve proximidade maior que esta que experimentamos como sogro e nora, porque, extrapolaram-se os sentimentos e ela para mim passou a ser minha terceira filha, só com uma diferença, não que as minhas outras duas não sejam, tenho certeza, que muito mais amiga, mais chegada, mais atrelada, mais atenta, mais carinhosa, mais amorosa, mais confidente, mais chameguenta, dessas que compartilham tudo da vida com você e você acaba também cedendo, se entregando a essa fabulosa amizade. O que resultou numa sólida amizade, dessas que o tempo, essa mísera invenção humana, não conseguiu, ainda, destruir, nem acabar. Espero que o resista para sempre.
Desses onze anos, nove e meio, foram compartilhados morando-se todos juntos, na mesma casa, a família do Alexandre Filho e a minha. São nove anos e meio de conjugação de todos os verbos, adjetivos, substantivos, pronomes, e, consubstanciamo-nos muito mais no nascimento de dois lindos meninos, o Alexandre Neto e o Enzo. Agora todos residindo em Boa Vista-RR, por volta de um ano e meio, me faz recordar, com saudades inexpressíveis, este tempo maravilhoso.
Meus dedos não me obedecem, não me são obedientes, pois, mando-os parar de escrever sobre a Natássia, especialmente, pois, seu aniversário será daqui a dois, isto é, no dia primeiro de outubro, mas, independentes eles seguem a escrever sem se importarem com o meu conselho e eu acabo por aquiescer, e, pior que isso tendo que publicar antes do dia exato, não sei se o faço, pois, sei que não se deve fazer isto, mas, o fazer se queda diante da dianteira do pensar.
Natássia pense que hoje é o dia 01.10.2009, meus parabéns para esta data lindíssima, por ser seu aniversário de nascimento. Gostaria de dizer a você que você é toda bela, que seus cabelos são negros como a asa da graúna, seus lábios são de mel, a forma com que você foi feita Deus jogou fora, isto é, só existe em você, tudo é verdade, mas, toda beleza corpórea, não tem valor diante de sua beleza interior. Espero que continue a ser a menina, depois mulher, esposa de Alexandre Filho, mãe desses dois menininhos o Alexandre Neto, campeão de xadrez, e o Enzo, o bom de bola e também de xadrez e minha nora, minha amiga, por toda a eternidade, será que vai ser chato?
Parabéns, Natássia.

sábado, 26 de setembro de 2009

Feliz aniveresário Maysa.

Setembro só perde para dezembro. Explico, em setembro minha família tem aniversários desde o começo do mês. Dia 14, Alexandre Neto, dia 21, Gabriela, 27 Maysa.
Maysa nasceu em 1979 e logo pequita já deu mostras de sua enorme força e vontade própria, pois, uma noite chorando muito me levou a pensar que era alguma dor, doença sem diagnose que a afetava com veemência, pois, acabara de tomar sua mamada com 120 ml de leite. Não era, era fome, constatada por seu pediatra madrugada afora. Fiquei envergonhado, mas, alegre porque ao chegar a casa ela tomou uma mamada de leite de soja, pois, era alérgica a leite convencional, animal e finalmente parara de chorar. O notável é que ela ao sair de casa para o médico, nesta madrugada, ela tinha tomado uma mamadeira de pelo menos 120 ml de leite.
Cresceu e tornou-se engenheira da computação e hoje faz mestrado em sua área, em Curitiba-PR, o que deixa a mim e sua mãe extremamente orgulhosos e preocupados ao mesmo tempo, e, assim querendo estar juntos a ela todo tempo, suprimindo suas necessidades afetivas, físicas, e, de suporte para quem está morando em uma cidade diferente da sua. Toda cidade tem seus maneirismos e jeitos de convivência e até você acertar as contas com ela vai penar um bocado. É uma rua que corta caminhos, um ônibus que chega mais rápido, restaurantes, lanchonetes, cinemas, taxis, amigos, amigas, colegas de faculdade, tudo tem que ir se ajeitando, se conhecendo, se tocando até que você tenha o domínio do lugar como um todo, onde você possa se sentir à vontade. Curitiba é uma cidade desenvolvida e avançada tecnologicamente e culturalmente falando. Metrópole que requer seres cosmopolitas para conviverem com ela. Assim, como toda cidade grande tem seus problemas existenciais e é aí que ficamos com receio da maldade e da desesperança de algumas pessoas que podem exercer o mal em nossas vidas e sublimamos isso com a veemência da fé;
- Se Deus é por nós quem nos vencerá?
Essa mania de querer protegê-la e guardá-la do mal, manifesta em toda nossa criação em relação às crianças, me reporta a uma história gostosa, como a vida, ela andando com um fraldão imenso, o que aumentava em muito seu bumbum, vindo de costas para se encaixar onde estávamos sentados no sofá e morrendo de rir, da beleza do momento. Sentei-a no meu colo e ela aconchegando-se mais fazia caretas graciosas para os expectadores. São momentos inesquecíveis, tão valiosos, tão carinhosos, que me comove até hoje.
Bom curso, final feliz, aproveite bem esse seu momento de elevação cultural e social, principalmente agora com a proximidade de seu noivado com o Heitor, rapaz, também engenheiro da computação, que é bem vindo à nossa família. Deus lhe abençoe neste dia tão importante para nós, como família e para mim, particularmente, seu fã número hum.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Nova visão de Deus.

Desde 1980 alguns pastores e líderes religiosos se engajam para a pregação de um novo “approch” das religiões chamadas cristãs, na pregação da relação e do evangelho transformador do homem Deus. Não há mais o que discutir. A visão da rigidez da essência de Deus tem mudado muito. Compreende-se, hoje, muito mais o antropomorfismo imposto a Deus como uma forma das mais cáusticas de se caracterizar o humano em relação ao divino do que não haver uma humanização de Deus, isto é, um abrandamento da consciência e do ser Deus. Deus está mais compreensível, terno, entendendo mais que em qualquer outro século e agindo assim atraindo mais fãs, mais cultuadores autênticos, pois, nunca se teve tanta sede d’Ele como agora.
Entende-se o homem, de hoje, em uma relação mais franca e aberta com Deus, numa convivência pacífica, porquanto, a liberdade de expressão do ser humano está mais sincera, mais livre. Nesta liberdade há enormes brechas de incompreensões, mais por parte do homem, o qual não é capaz de entender exatamente a essência desse relacionamento que extravasa, é muito em Deus, que é o Amor. Amor é transcendente, está acima das éticas e morais religiosas e seculares, não está vinculada ás necessidades emocionais do homem e sim às reais de preenchimento da alma, da consciência humana, sempre em relação sua com o Criador. Os dogmas e leis tão severas finalmente parecem que caem por terra, derrotadas por não terem que alimentar o mais ácido ato de relação que é a hipocrisia. Isto acarreta, é claro, uma mudança na postura e posição das igrejas e seus líderes e também das relações. É comum, hoje, cantores cristãos, músicas gospels cantarem em rádios FM, em programas de TV, lugares onde jamais cantariam ou tocariam suas músicas. Tem cantor gospel vendendo muito mais que hum milhão de cópias de discos e se entende que estes hinos ou músicas podem ser cantadas ou tocadas em quaisquer lugares e suas letras das músicas mexem nas almas das pessoas totalmente fora das igrejas e não mais em seus seios. É uma nova era. Um novo panorama de relação, uma relação mais livre e mais positiva onde o que conta é a sinceridade e não mais a venda de imagem, onde um pai escondia da sociedade ou da igreja, ao máximo, a gravidez da filha ou o alcoolismo do filho, ou mesmo a homossexualidade dos filhos, ou os filhos se escondiam dos pais, impossível de entenderem esses problemas dentro das igrejas tradicionais por terem colocados suas relações em grãos de areia e não na Rocha.
Deus é Amor e requer que seus seguidores também amem e entendam que carregar a humanidade cruenta, do modo que a vivemos é muito pesada para se carregar sozinhos, precisamos entender que necessitamos d’Ele para nossa sobrevivência. Não estamos sós afinal, temos um novo relacionamento, uma nova fase de relação, mais livre e mais sincera, mais humana.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Feliz aniveresário Gabi.

Publico com vinte e quatro horas de atraso, por conta de uma falha em meu blog e conexão de internet, essa crônica homenagem para minha filha mais nova, a Gabriela. Não podia mesmo tardiamente deixar de publicar.
Hoje é um dia importante no calendário especial de nossa família. É que hoje é o dia do aniversário de Gabriela. Não, não é aquela de Jorge Amado, mas, bem que poderia ser, pois, sua beleza e morenice são compatíveis com tal biótipo.
Lembro de Gabi, assim a chamamos, os de casa primeiramente, depois, a apelidação ganhou o mundo, mas, dizia, lembro-a ainda bem pequena, devia ter uns sete anos, em uma saia mini, dançando lambada, entrando na pista de dança improvisada no sítio de sua tia Nahyde:
- “Chorando se foi quem um dia me fez chorar
Chorando estará ao lembrar de um amor
Que um dia não soube cuidar...”
Era uma música em voga. E, ela, como verdadeira dançarina, abraçando seu próprio corpo deslizava pela pista. Eu morria de rir, com inveja, da leveza do seu dançar. Era muito bonito de se ver.
Ela tem suas próprias características como a paciência, mas, quando se zanga saia de perto. O tempo, nosso algoz, passou e hoje Gabriela é mãe de João Gabriel e está à espera do Guilherme. Formou-se em química, essa mirabolante e às vezes explicativa matéria da ciência, explico, tem situações aonde a química e só ela explica o resultado, como por exemplo, os catalisadores, os íons soltos de ferro, potássio, magnésio etc... e suas aplicações diárias sobre o nosso corpo, influindo no batimento cardíaco, na prevenção da circulação etc...
Trabalha com as mãos quando está a fazer seus deliciosos doces, bolos, bem-casados, brigadeiros e também em sua área específica quando dá aulas de química no ensino básico do estado e também em seus projetos no INPA. É uma guerreira e trabalhadeira como ela só.
Como tempo passa depressa, dela vou ser avô pela segunda vez, mas, ainda a vejo pequita correndo, dançando, alegre com a vida que Deus lhe deu.
Deus lhe abençoe Gabriela e lhe dê tudo de bom que a vida pode oferecer e principalmente te dê tranqüilidade e paz para crescer os pequerruchos.

sábado, 19 de setembro de 2009

Patinete.

A visão de criança é puerícia pura, não há maldade. Cincas atrás de cincas, logicamente sem a veleidade dos atos, ocorrem com certa assiduidade na vida dos pequenos. Mesmo assim a vida se exprime nessas vidas de forma impressionante. Morávamos em uma rua íngreme, muito íngreme, e, a prefeitura mandara, exatamente nessa semana, asfaltá-la, para deleite dos moradores. A rua ficara mais larga, por conta do trabalho magnífico dos tratores, essas máquinas maravilhosas, e, depois de quase um mês desse trabalho a manta asfáltica estava pronta para ser usada tornando-a uma espécie de ribanceira mais íngreme ainda, mas, muito lisinha para o uso, apropriada para o patinete que ganháramos no natal e que ainda não tinha sido usado.

Era vermelho e suas rodas pretas, com uma calota prateada. Tony, meu irmão mais velho, logo quis mostrar sua habilidade na manobra com o patinete. Fomos os dois, ladeira acima, empurrando o patinete para depois despencarmos lá de cima, ladeira abaixo. Fizemos umas quatro viagens dessas, e, desmembramos as viagens para que cada um aproveitasse seu próprio momento. O vento forte provocado pela alta velocidade que o patinete atingia aumentava a adrenalina e cada vez mais gostávamos da brincadeira, pois, cada descida era diferente da outra, apareciam pedrinhas em lugares diferentes forçando mudanças céleres na direção, cachorros que corriam atrás da gente latindo e concorrendo com o veículo de duas rodas.

Em uma dessas descidas, Tony estava no patinete e eu lá embaixo esperando por ele, pois, seria minha vez de subir e descer aloucadamente a ladeira, quando um dos pés dele se engatou na lâmina onde terminava o platô do patinete e ele caiu gritando de dor, pois, o pé fora cortado em um golpe bastante profundo, perto do calcanhar. Corri em sua direção na intenção de ajudá-lo e percebi que a ferida seria responsável pelo fim de nossa brincadeira. O sangue jorrava do pé de Tony, o que já era ruim de ver, somado aos gritos que lhe vinham do fundo do ser, gerava uma espécie de um respeito ao desconhecido, e, lembro que prometi aos céus que nunca mais brincaríamos de patinete se Deus salvasse o Tony daquele tormento.

Entramos em casa e querendo Deus ou não, o fato é que de imediato mamãe requisitou o patinete e trancou-o em uma saleta onde se guardava mantimentos:

- Ninguém brinca mais com essa arma.

Fiquei esperando o retorno de Deus, pois, prometera que não mais brincaria assim se houvesse a cura do pé do Tony e assim foi. O pé parou de sangrar, depois de umas suturas feitas no pronto socorro do estado e logo, logo ficou são. Pronto para outra aventura.

Paguei a promessa e nunca mais brinquei com tal brinquedo graças à sábia ajuda de minha mãe que sem querer me ajudou a cumpri-la.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Vítimas do Mansinho.

O dia amanhecera bem mais cedo. Os raios amarelados surgiam no horizonte rio acima. A água amarela do rio ficara mais amarela ainda. Uma árvore, por força do fenômeno da terra caída, flutuava navegando no meio da calha do rio em uma boa velocidade, completamente cercada de canaranas. Um pássaro negro descansava indiferente aos movimentos das águas e do ronco longínquo de um motor de linha que subia o rio aproveitando a tranqüilidade que a hora proporcionava, em cima de uma galhada da árvore.

Logo mais o sol estaria bem quente, irradiando seus raios e afugentando tudo e todos às sombras das árvores ou de um ponto bastante ventilado. Estava de férias em uma fazenda no Careiro da Várzea. Levantei excitado pela expectativa da promessa de Manuel, um peão da fazenda que me prometera me fazer cavalgar no Mansinho, um cavalo baio, branquinho, porém, alto e bonito de se ver. Escovei os dentes e acordei meu amigo Humberto Michiles que também queria me mostrar seus conhecimentos em hipismo. Ficamos os dois, a esperar Manuel aparecer com o Mansinho. Sentamos à varanda e aguardamos com aquela ansiedade da espera. Uma brisa suave vinda do meio do rio percorria toda varanda. No pomar em frente à casa balançava carinhosamente as flores das mais variadas espécies. Eram rosas, margaridas, petúnias, papoulas vermelhas, algumas espécies rasteiras, amarelas, outras branquinhas, que além do lindo visual exalavam um conjunto de cheiros admiráveis.

Manuel, de propósito, entrara no oitão da casa pela parte de trás. Vinha puxando a pé com as rédeas na mão. Quando vimos estava praticamente pertinho de nós. O coração acelerou e esperei que ele desse o comando esperado que já podíamos montar. Humberto, num salto, antecipou a ordem e pediu para dar uma volta no alazão. Manuel estendeu-lhe as rédeas e depois de certificar-se que já dominava a situação desapareceu como em um passe de mágica. Humberto garboso escanchado na sela saiu a trote pelo umbral da porta principal do oitão. A cancela aberta facilitou-lhe a manobra e logo a seguir vi-o desaparecer na curva da trilha que levava à cidade em um galope bastante veloz. Puxa, imaginei, um dia vou poder fazer isso também. Demorou quase nada lá vem ele num galope maior ainda dando com as mãos em minha direção, que embasbacado ao pé da soleira admirava sua habilidade. De repente, tão rápido quanto a queda de um raio, Mansinho cismou de entrar cancela adentro e manobrou o corpo em uma curva bastante fechada para a velocidade que vinha e então aconteceu a queda do meu professor de hipismo. O corpo dele continuou seguindo em frente, retilineamente, e o cavalo entrara na cancela de entrada do oitão. Foi uma queda e tanto, mas, sem conseqüências mais grave, só arranhões, algumas feridas maiores em alguns pontos do corpo, como ombros e pernas. Na cena não cabia risos, mas, não sei por que se rir, e, eu ri um bocado...

Outra feita, numa situação muito parecida com essa, no mesmo baio, eu mesmo caí. A situação era assim: Eu, achando que dominava totalmente o cavalo, vinha montado e conduzindo-o. Atrás de mim e agarrado à minha barriga vinha um primo meu, o Manoel José, adorando a velocidade proporcionada pelo galope do cavalo. Lá na saída da curva, na trilha, vinha em sentido contrário um cavaleiro montado em uma égua marrom que estava em pleno cio. Quando os eqüinos cruzaram os caminhos, o Mansinho, enlouquecido empinou o corpo numa nítida veleidade de se livrar do peso do seu lombo, e, fomos nós ao chão com todo nosso corpo. Foi uma queda terrível. Essa deixou seqüela, pois, Manoel caíra por cima de seu braço esquerdo e o partira numa fratura exposta, muito dolorida e feia de se ver. Acabaram-se as férias. Tivemos que voltar o mais breve possível para Manaus. Fim de cena.

Reconheci que não nasci para ser cavaleiro, muito menos para domador desses magníficos animais e resolvi me divertir de outros modos que não esse. Nunca mais os montei.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Solidão noturna.

Eu já enjoara do local, das pessoas, não que fizesse discriminação a alguém, mas, as conversas versavam sobre temas tão banais que eu não conseguia mais acompanhar a conversa que vinha mantendo com um deputado.

O deputado queria por que queria me vender a imagem que ele só fazia todas as suas feituras corretamente. Falava-me isto sem laivo de amarelidão às faces, isto é, insensivelmente falava que nunca tinha prometido algo que não pudesse fazer assim sua vida pública era uma lisura só, como somos enganados, pensei. O mercado político está cheio disso, venda de imagem. E, claro que sei que somos considerados tolos para os que não fazem parte desse círculo, que é melhor não enxergar, não ver o que fazem por trás dos bastidores. Dane-se, pensei, tenho que sair daqui.

Saí dessa conversa, a guisa de achar algo para beber, e, encontrei uma senhora que encontrara alguns anos antes e que tinha sido abandonada por seu marido, um comerciante que encontrara paz nos braços de uma moça em seus 16 aninhos. Ele, logicamente, não sabia, dizia a todos, o que ela vira nele para largar tudo e todos e vir viver, morar com ele, enfrentando a sociedade e sua família que certamente a condenava, pois, ele faria exatamente 65 anos nesse ano. Em seu conceito só podia ser amor, amor muito profundo, desses inexplicáveis.

- Com licença, minha senhora, mas, me chamam ali e preciso ir, mas, conversamos depois.

O garçom passava com a bandeja repleta de copos com as mais variadas bebidas, vinhos, uísques, refrigerantes, águas, batidas e um mundo afora de bebidas minhas desconhecidas. Em nosso cruzamento tirei de sua bandeja um de uísque e me afastei tentando ficar só e achando forças para na hora certa sair, ir andando em qualquer direção, à ermo. Andei até o final da sala e ao me aproximar da porta uma mão me bateu aos ombros e disse:

- Caríssimo, Alexandre, há quanto tempo. Como estão todos?

Virei-me e me deparei com um conhecido, um sujeito imaturo, cheio do dinheiro e que vivia de alimentar seu alter ego. Os cabelos estavam pintados para esconder, possivelmente os mais brancos, os músculos orbiculares tinham sofrido um levante e alisamento, e, o corpo firme por conta da assiduidade às academias dava um ar esquisito ao cidadão. Que coisa é essa? Pensei, deixando a onda de calor, e uma ligeira tontura, percorrerem meu corpo. Estou ficando tonto, pensei, esse uísque está fazendo seu efeito.

- Tudo bem? Como vai você, rapaz?

- A vida é maravilhosa. Deus tem me abençoado muito. Tenho tudo o que desejo ter. Uma família maravilhosa, um apartamento muito bom, carros, e, tudo o que uma pessoa temente a Deus pode ter, felicidade. E tu?

- Você crer que o homem não pode mudar seu destino, só Deus é quem pode fazê-lo? Você está se achando bem por conta disso?

- Deus é tudo e tem me abençoado. Não tenho culpa se Ele tem um plano exclusivo para mim. Tudo é maravilhoso.

- Que bom. Foi um prazer lhe rever. Abraços. Afastei-me com náuseas. Era demais o que ouvira, logo eu que acredito que as pessoas têm noventa e oito per cento de livre arbítrio e apenas dois ou mesmo um per cento de interferência divina, ouvir que alguém pudesse estar super bem, melhor que os outros em “bênçãos” que só esse alguém pode ter era demais para mim.

Fui me afastando, mas, ainda ouvi o comentário:

- Esse aí nunca vai ter nada na vida, sempre vai ser pobretão. Deus nunca vai abençoá-lo, porque, é orgulhoso demais. As pessoas têm que ser humilde como eu para que Deus possa olhar e cuidar. De o meu levantar até meu deitar Deus cuida de mim. Tudo vem na minha mão. Coitado.

Finalmente saí. A brisa da noite batendo em meu rosto encheu-me de vida e esperança que tudo vai dar certo. A vida vai ser o de sempre. Trabalho, suor e lágrima. Surpreso vejo que sai com o copo de uísque na mão. Sorvo mais um gole e saio caminhando noite adentro.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Um raio de sol em minha vida.

Faz onze anos. Lembro-me bem desse dia. O sol esquentava a cidade e também o campo, aquecia renovando a vida. Fomos ao médico, numa visita de rotina, e, lá tive, eu e a Natássia, minha nora, a surpresa de saber que a gravidez não podia mais continuar, o parto cesariano, deveria ser feito logo, pois, existia uma dilatação já propicia para o nascimento do bebê. Era o fim dos nove meses. Natássia estava cansada da gravidez e parecia-me que o neném também assim estava.

A anestesia, a incisão, a abertura do útero e lá veio ele, como um raio de sol, a sala encheu-se com sua reclamação de ter saído do ambiente sagrado da vida, o útero. O choro impressionou-me e logo me cativou para o resto de minha vida. Lembro como se fosse hoje, agora. Com os braços erguidos, com ele nas mãos, no umbral do centro cirúrgico do Hospital Adventista de Manaus, como a oferecê-lo a Deus, gritei:

- Alexandrinho, nasceu. É um homem.

Dia que nasceu um homem no mundo. Nasceu para ser luz e ser grande, gente grande. Luz para sua família, para sua cidade, seu estado e seu país, e, também para o mundo, entendido aqui como universo.

Raio de sol, brilhando, aquecendo, acalmando, libertando, clamando por justiça, criatividade divina, brilho incessante, aonde chega. Luz curial de quem é sempre luz.

Alexandre Neto seja sempre essa luz que é você mesmo. Não permita que o escuro venha sobre nós, mas, quando vier saiba que eternamente, umbicalmente, somos um, só um, a nos consolar e fazermos a vida ser entendida como fonte de amor expresso nas nossas ações, para sempre.

A Natássia, sua mãe tinha 17 anos quando lhe concebeu e lhe fez nascer, eu, 46 e agora aos 57 anos, continuo a reverenciar seu nascimento. Como disse nasceu um homem na terra, raio de sol, que como é luz pode ser desfragmentado em diversas cores, como um arco-íris, sem perder sua primeira forma, ou seja, ser raio de sol.

Agora não dá mais para lhe por em minhas mãos e cantar para você:

O sol já foi embora

A lua apareceu no céu

A estrela já brilhou

Dorme cachorrão

Dorme cachoorrinho

Dorme cachorrão,

Dorme meu amor,

Dorme assim tão lindo

Dorme cachorrinho

Dorme meu amor.

Que bom você existir. Existir para sempre na minha consciência cujo interior é iluminado por seus raios de sol, Alexandre Neto.

Feliz Aniversário, Deus te abençoe ricamente e faça resplandecer Seu rosto sobre si e sobre seus pais e irmão.

sábado, 12 de setembro de 2009

Textos.

Para escrever sobre qualquer assunto é necessário primeiro conhecer o assunto, depois, ter a veleidade de escrever sem a máscara do engano, sem inana entre o saber e a realidade, resultando em um texto claro, compreensível no todo e que não requer esforço de quem ler para interpretar, sem os sestros do repetir à toa.

Gosto adquirido tardiamente, não consigo mais passar um dia sem escrever o que sinto sobre determinados assuntos. Tenho escrito, ou procurado escrever desde minhas memórias, ad ovo, até os dias atuais, agora aos cinqüenta e sete anos, com textos dos mais variados tons e cores, como uma nuvem de borboletas coloridas que um dia, durante uma viagem de carro, acometeram sobre o carro que dirigia, mas, que gerava uma multicor e alegre, esvoaçante congregações delas. Lindo, pensava eu. A vida deve ser sempre assim, colorida, disposta e aberta a todas as tendências, alternativas, sonhos, esperanças e amores, onde se possa esperar a formação de um só pensamento, de uma só vida, em todos, alvos e metas.

Tenho conversado com algumas pessoas que não encontram paz em suas vidas, vidas descoloridas, filhos infelizes, filhos da solidão, filhos do esquecimento, filhos dos que não são bem vindos. A visão turva dessas pessoas nos reporta a uma situação em que o mar não quebra na praia, o céu é sem nuvem, a goiabada é sem queijo, e, o desespero é total, não caminhos para serem seguidos. Não há esperança, e, o texto que sai dessa forma de vida é turvo, opaco, sem claridade.

A força da palavra oral, não tem a mesma força da palavra escrita. A escrita eterniza o pensamento, a oral é volátil. Os grandes mestres conseguiram transladar seus pensamentos através da oralidade e tinham certo temor da palavra escrita, pois, considerava-a uma forma morta de expressão. Tenho tentado e me esforçado para relatar retratos da realidade que vivo. São retratos às vezes bons, que transmitem bons fluídos e outros que, ao contrário, transmitem negatividade, desesperança, pois, depende da visão da realidade.

O tempo, na velocidade de agora, passa muito veloz, e, quase não cuida de nos deixar pensar. A informação é tão célere, pois, se sabe exatamente na hora do acontecido de tudo o que acontece no mundo todo em fração de segundos. É necessário que se pare para poder se pensar. Tenho feito isso. Exponho aqui minhas idéias e pensamentos. Escrevo em livre dispor das palavras, do jeito que elas desejam serem inseridas no texto, soltas como as borboletas que referi acima, me condicionando a escrever sempre de forma mais limpa possível o que penso, forçando sempre a uma interpretação do texto mais apurada e inegavelmente predispondo o leitor a pensar nos mais variados assuntos.

Inversão de Valores.

Parece brincadeira, mas, o que está a acontecer no país afora é mera inversão de valores. O governo paralelo está ganhando terrenos, junto ao governo legal, nunca dantes conquistado. Basta, a guisa de representação legal, abastecer os guetos e favelas, lugares onde a pobreza prolifera, de pão e circo, como nos velhos tempos, ou nos idos muito antigos onde os Cézares continham a opinião pública à custa de sangue nas arenas do Coliseu e a distribuição de comida ou similar. Parece ser um fenômeno universal. A Rússia é dominada por uma máfia, talvez a mais violenta do planeta. A Itália tentou sua saída através da operação “Mãos limpas”, com sacrifício de alguns proeminentes. A veleidade das informações é a mais sarcástica possível. As mãos negras, yacusas, irlandesas, sicilianas, italianas, de Corleones, de Nova York, etc..., dominam ou têm tentáculos dentro do governo oficial, totalmente abrangendo todos os níveis, compreendendo desde o legislativo, passando pelo executivo e terminando no judiciário. Mister se faz, celeremente, uma nova base, ou uma reforma legislativa, executiva e judiciária, onde os poderes realmente consigam estar inseridos dentro de uma redoma moral, retomada das tradições educacionais e onde não haja chance de entrada, por livre arbítrio, de nenhum tipo de corrupção, de onde o capital, de longe, não seja o principal objetivo da vida e sim o bem estar individual, e, este fazendo ou construindo o geral, a sociedade, de uma forma saudável, sem a necessidade ou anseio degenerado do simples ter.

As explosões em bases militares ou policiais em vários estados da federação de uma forma muito preocupante nos remetem ao pensamento de que uma nova base social deve ser motivo de trabalho incessante, agora, neste minuto, sem trégua e sem hipocrisia.

O legislativo, seguindo o judiciário, deveria ser oficialmente, composto por deputados e senadores, vereadores, com cursos superiores, também o executivo, tanto municipal quanto estadual e também o federal, formando um verdadeiro staff de servidores exemplares, pois, suas vidas deveriam ser antes analisadas e verificadas em sua plenitude, para que não mais houvesse candidatos ou pessoas em cargos de alta responsabilidade com responso judicial, ou sendo julgado, ou por um motivo qualquer não estivesse com sua vida totalmente limpa, para melhor poder servir a nação e ao povo, objeto do legislativo, judiciário e executivo, sem o sestro das relações anteriores.

Alguém pode interpretar como ideologismo barato, o querer que ao afunilar a possível entrada em pontos estratégicos de comando do Estado, por políticos realmente capazes e provados para serem líderes, mas, o argumento é que não é possível considerar que quanto mais sábio mais inescrupuloso, e, sim o contrário, isto é, é mais fácil administrar com mais eficiência com o nível de estudo mais alto do que sem tê-los. De qualquer maneira deve-se fazer alguma coisa para o restabelecimento da normalidade social. O governo anarquista, sem comando, não deve ser posto em prática, porque, os anarquistas não pensam assim, pois, em situação normal é necessário sempre se ter um comando, uma liderança, algo que dê norte para ser seguido.

É correto o que alguém, alguma vez, disse:

- Deve-se esperar menos do rigor da lei do que das virtudes do povo, da população.

Assim é que as virtudes da população serviriam para nortear as ações políticas e sociais do país, certamente as leis seriam menos usadas.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

D. Nahyde, minha sogra.

Trago à baila, de coração, uma lembrança que jamais poderia deixar de lado porque faz parte integral de minha vida e como tudo que acho importante na vida, não posso abrir mão dessas lembranças, refiro-me a minha sogra, D. Nahyde Alves da Conceição, e, pelo tempo que convivi com ela, posso garantir-lhes como sendo minha segunda mãe, por seu interesse em minha vida particular, a ênfase, curial de boas pessoas, no incentivo pelo que é salutar e construtivo, tanto individualmente quanto para a família. Seus ensinamentos vinham de sua própria vida prática de mulher do interior, acostumada às intempéries do interior, na rigorosidade do sobreviver, porquanto, e, apesar de tudo, em todas as dificuldades prevaleceram sua inteligência e sagacidade que tratou de passar para os filhos e quiçá para o marido que não lhe correspondeu por conta da atribulada vida de viagens sem fim pelo Juruá afora, nos batelões, levando e trazendo produtos que garantiam a sobrevida de muitos lugares, seringais, vilas, agrupamentos etc..., e o seu próprio e de sua família, lá longe, para dentro da floresta inexpugnável, mas, que se dobrou à valentia e a força de vontade do Sr. João Alves da Conceição, meu sogro, esposo de D. Nahyde, e, colonizador, desbravador das terras interioranas.

Seu João, como costumava chamá-lo, mandou entre tantas coisas do interior umas mantas de pirarucu seco. Era uma festa, prenúncio de pirarucu de casaca, pirarucu desfiado, e, outros tantos pratos que só ela sabia fazer e que solidificados em nossas memórias não encontram similares.

O casal se separa para que a família pudesse sobreviver, pois, os filhos encontram-se em fase de estudo que em Eirunepé, cidade basilar da vida do casal; D. Nahyde, interprete da visão futurística do casal, embarca para Manaus e vai morar, viver e morrer na velha casa da Leonardo Malcher. Casarão da época da borracha acolheu praticamente toda a família, principalmente de D. Nahyde, e, majestosamente, elegantemente aposta no ponto alto da rua, era alvo de imprescindível de quem por ali passasse. D. Nahyde a mantinha rigorosamente limpa, pronta para receber, a qualquer momento seu amado, que quando chegava mais parecia um furacão, consertava tudo que ele observava quebrado ou necessitando de pequenos reparos ou o que D. Nahyde se queixara. Era o telhado, o piso, o balcão, a casa do cachorro, tudo era motivo para a recuperação por parte de Seu João, que não dava trégua aos empregados.

- Fulano, pegue isso. Sicrano faça aquilo, olha o portão, olha isso, olha aquilo e assim seu tempo era todo preenchido na veleidade de dar mais conforto à família no estio, quando ele não estava do lado dela.

E, enquanto, Seu João cuidava da parte material, lá estava ela, D. Nahyde, a antecipar todas as percepções más ou boas, bonitas ou feias, sonhadoras ou não, a cuidar do bem estar de todos. Claro que isto tudo gera um desgaste muito grande na persona, e, nela, isto não fugiu à regra. Passados tantos anos de convivência tão boa para todos, ela fez um AVC e partiu, seguiu o caminho dos iniciados, dos salvos, dos que, em relação com Deus, são presenteados com as regalias do porvir. A vida de D. Nahyde inspira a todos que com ela conviveu. De minha parte, fora a saudade, sinto muito a falta de seus conselhos, de sua ternura, às vezes expressada de forma mais contundente, de seu grande amor às outras pessoas, por isso, ainda choro essa separação, e, me lembro dela com amor e carinho que só dispenso a pessoas que amo. Como teriaga, para este tipo de envenenamento mental, sublimo pensando que um dia nos encontraremos novamente.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Um sonho a mais.

É uma data muito importante para nosso país. É comemorada de ponta à ponta de um país tão extenso e diverso como o nosso, composto por 8.514.876.599 Km², 47% do território sul-americano, sendo responsável por 20% da biodiversidade mundial, tendo como exemplo maior a floresta amazônica com seus 3.6 milhões de Km², constituindo-se assim, de uma importância geo-político sem precedente na história mundial.

Foi, diz a tradição, às margens do Ipiranga, um córrego, situado em São Paulo, hoje, como todos os rios de lá, sofrendo com a poluição imposta por construtoras e obras habitacionais, que D. Pedro, depois do grito alcunhado de D. Pedro I, bradou o famoso grito, tão nosso conhecido, de tanto os professores nos ensinar que simplesmente um grito foi suficiente para a proclamação de uma república. Alguns historiadores ensinam que a independência fora um processo lento, de insatisfação, que começara com a instalação da família real aqui por estas paragens. Esta vinda ocorreu em 1808 quando a família real fugiu de Portugal, por uma questão de segurança, e, das tropas francesas na chamada guerra Peninsular.

Sete de setembro de 1922. A data da independência. Não somos mais ligados ou capachos de quaisquer outros países. A festa aqui em Manaus, de meus oito anos, em 1960, era feita na Avenida Eduardo Ribeiro, rua principal de Manaus, e a população se acotovelava para ver a marcha dos soldados militares, depois, as escolas com os alunos paramentados nas fardas de gala de cada colégio, com seus brasões e estandartes e os maiores à frente, marchando em passo de ganso, a fanfarra logo atrás, davam um ar de alegria e orgulho aos ouvintes e transeuntes que por ali se encontravam, e, os pais e mães risonhos e orgulhosos com a escolha do filho terem ocorrido dando chance a ele de marchar logo à frente.

Lembro que meu pai comprava bandeirolas e cata-ventos nas cores verdes e amarelas para que as agitássemos à passagem dos cortejos, tanto militar quanto colegial. Era um dia de muita alegria. O espírito nacionalista era vibrante em cada casa e ainda não sabíamos o “jeitinho brasileiro”, o deixa disso, a venda de imagem, o perigo de votar em troca de algo, de ser tão massacrado por esperanças que quando podem ser reais, são na verdade irreais e cometem ao passado corrupto e inconseqüente, essas coisas que criança não sabe nem está preparada para saber.

Mas, dizia, que tudo era festa e que lá na multidão estava eu com meu cata-vento a rodar silenciosamente, misturando o verde e o amarelo, numa incrível velocidade, quando tinha vento, rodopiando e rodando, amalgamando as cores, me fazendo sonhar com um Brasil melhor, um lugar para se viver em paz, assim como o rodar infindo do cata-vento, que continua a rodar em minha mente que infindamente continua a sonhar, roda, roda monstruosa, essa do mundo, roda e nos deixe dormir em paz. Viva 7 de setembro de 1922, um sonho a mais.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O melhor e o pior.

Deus tem um plano em cada criatura. Criatura mesmo envolve todos os seres, que existiram, que existem ou que possam existir no futuro. É um termo genérico, sem nenhuma conotação individual, sem significado de exclusividade de afeto ao homem. As coisas, animais e plantas, o universo, enfim, são todos e tudo criaturas, porque formadas ou criadas por Deus, no mesmo nível de amor. A degradação, degenerescência, ocorreu em um momento histórico ainda não percebido, segundo relato bíblico, como se fora a árvore da física quântica. A árvore caiu no meio da mata, não tem testemunha, simplesmente, no meio da mata uma árvore caiu, será que ela caiu, já que não foi percebida? O fato por si só existe? A queda existiu? Explica-se a questão da culpa? A primeira culpa, passada de geração em geração geneticamente? Independentemente de ter ou não existido, a queda, o pecado original, a marca indelével da finitude do homem, está na história, criando uma dualidade ética, arraigado ao íntimo do homem, o bem e o mal, como queriam os pré-Socráticos e o Platão no absolutismo dos objetos. Não mudou muito o conceito. O fato da queda e do conceito da moral não precisa de provas perceptivas para existir, o bem e o mal por si só se revelam. Ao homem é dado, então, em algum estágio da história mudar os rumos e comportamentos, quando da necessidade de aglomeração social. Somos todos cúmplices dos erros e acertos da história, pois, de alguma forma temos contribuído para a má formação genética do homem em relação ao universo, apesar da sofisticação tecnológica, campo no qual o homem avançou fartamente, e, o acomodamento diante do intenso trabalho de preservação do planeta terra, faz com que ele seja o maior predador dele mesmo e de tudo que ele necessita para sobreviver.

A culpa é universal. Se pudéssemos analisar as informações que nos chegam tão degeneradas e mentirosas, talvez, a condução no trato com a terra fosse muitas vezes melhorada. Refiro-me aos principais líderes e acontecimentos mundiais que ocorreram e que vêm ocorrendo, fatos esses que acabam, ou, pelo menos abalam a estabilidade mundial, compreendendo o eco-sistema, a fome, os governos paralelos, a natureza como um todo etc...; o que eles estão fazendo para encobrir verdadeiros absurdos que aconteceram e que estão acontecendo ao redor do mundo, como se uma individualidade quisesse ser maior que todos os habitantes de um determinado lugar em menosprezo aos outros, e, não houvesse parâmetro ético ou moral para realimentação da história.

De Caim até hoje, com os EUA como grande líder do império, com o presidente Obama e outros líderes europeus, nos dias de hoje, o quadro humano não mudou, só a tecnologia proporciona mais facilidade na maldade e desumanidade que são a toda hora colocadas à disposição do homem para sua própria destruição, atos e fatos travestidos de bem para enganarem a muitos.

Sim, nós podemos. Ainda hoje o refrão, de mudança na ótica política dos EUA, se aplica em todos os ângulos da vida, principalmente na individualidade humana. É possível mudança, e, talvez para pior. Sim, nós podemos.

Maranata, Senhor.