quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Cachorros e cachorradas.

Doía tudo. Os músculos dos peito e das costas eram os que mais doíam, mas, a conversa, com meu amigo Humberto Michiles, tomando ou degustando um bom café, sobre a vida e a inteligência dos cachorros, relaxando-me, deixaram-me leve e a conversa fluiu mais solta.
As mais variadas histórias vieram-nos à tona de nossas consciências. O Lobo, cachorro pastor-alemão de seu pai, o Xandir, meu rottwailler que emocionou-me quando de nossa separação, pois, além das inclinações que fazia com a cabeça, de um lado para outro, ele estendeu-me uma de suas patas como me dando uma mão, na despedida. O Lobo, conta-se, não saia do lugar onde estava até a chegada de "seu" Darcy, pai de Humberto, que saíra para um lugar onde ele não podia estar.
É claro que na conversa tinha que vir à tona as mordidas e a valentia de alguns de nossos cachorros. Tive um fila brasileiro, o Brutus, que mordeu-me a mão, que ficou literalmente entre seus caninos, porque teimosamente fui mexer em seu prato de comida, imersa em sua enorme boca e à medida que andava para trás, sacudia meu braço de um lado para outro na tentativa de desmembrá-lo, e, eu na mesma velocidade andava pra frente, numa tentativa de anular a força de seus movimentos. Fiquei nessa posição até que ele abrisse sua enorme boca, o que gerou em mim um forte choque percorrendo desde a mão até o ombro. Uma experiência dolorosa.
Na família do Beto houve um akita, cachorro magnífico cuja característica é de ser companheiro e fiel aos donos até a morte, que obrigou a todos de sua casa a tomar vacinas anti-rábicas porquanto mordera o rosto de um parente e a avó, uma espécie de matriarca, ordenara a vacinação de todos, por medida de prevenção.
O fato é que em todas as épocas o homem necessitou e ainda necessita de alguém confiável na amizade e que fizesse companhia nas caçadas, nas andanças pela vida afora, como um marco de confiança, um ponto de referência, com a certeza de poder-se sair de casa sabendo que ela vai ser vigiada por alguém que não titubeia em morrer por seu dono. Tantas pessoas ao retornarem às suas casas encontraram seus cachorros machucados, mortos, sacrificados, mas, suas casas não violadas, intactas graças à tenacidade e bravura de seus cães.
Criei, enquanto morei em casas, filas, rottwaillers, poodles, boxers etc..., e, como em nossa conversa, cheguei à conclusão da grande necessidade de sempre termos, aonde estivermos a amizade e o amor de um cachorro. Seja, pois, um cachorro, racionalmente e emocionalmente, para alguém, dedicando-lhe toda fidelidade e amor, certamente algumas lacunas, profundas ou não, na vida dessa pessoa serão preenchidas e você se sentirá feliz.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Racionalidade

Em seu livro, Sobre a China, Henry Kissenger comenta a surpreendente evolução da China em quase todos os níveis de bem-estar como país. É claro que tal desenvolvimento só evidenciou-se com a abertura mercadológica dos Estados Unidos em relação à China, em condições surpreendentes de relacionamento, já que, ambos antagônicos em princípios políticos, resolveram relacionarem-se apenas no lado de mercado, sem interferência ideológica de ambas as partes. Isto me deixou bastante otimista, posto que, através de pelo menos quatro décadas ou quase oito presidentes americanos têm-se mantido os acordos bilaterais, e, tal relação abriu enorme espaço para as exportações brasileiras, sendo a China, hoje, maior responsável pela compra de minerais e de nossa agricultura, o que contribuiu, entre outros fatores para a estabilização do Brasil e sua fixação como um dos países em franco desenvolvimento.
As notícias de corrupção e a insensibilidade dos governantes, talvez para manutenção do poder, em resolver através do judiciário, tais questões me deixam pessimista, apesar do esforço desenvolvido pela polícia federal, ministério público em trazer a público tais impunidades. A impunidade leva, como uma avalanche, quase todo potencial de desenvolvimento real e de credibilidade nas ações de gestão interna de nosso país. Há algo que falta. Não respeita-se mais as classes que têm o potencial de equilibrar o país internamente, a judiciária e a política, a religiosa nem se fala. Escândalos envolvendo lideranças importantes, em quase todas as religiões, deixam-me a impressão de que é assim mesmo, não há jeito, não há término para tais maldades.
Resta-me apenas a fé, não no ser humano, em si, eu incluso, mas, numa interferência de fora da questão antropológica, independente da racionalidade, e, assim repito:
Maranata, Senhor, nossa esperança, nosso futuro.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Falta de Educação.

Os shoppings sempre são bons ambientes para passeio, para compras, para encontros de amigos, ou mesmo para encontros outros, para tomar-se um bom café, um lanche ou mesmo um almoço, para simplesmente passear de mãos dadas com a amada observando os produtos e seus preços, com suas enormes variações. Os montadores das vitrines das lojas sabem como fazer os potenciais clientes pararem ante elas e depois entrarem nas lojas para comprar. O cheiro das lojas, os trajes dos vendedores, os sorrisos, os atendimentos particulares, os produtos em si, são chamativos e nos levam a gostarmos de estarmos em tais ambientes, nos sentimos ótimos nessa capacidade de consumo. Aliás, essa palavra consumo é que torna pessoas mais ou menos poderosas, quanto mais capacidade de consumo mais poderosa a pessoa é, e, gera uma espécie de sentimento de sentir-se melhor que os outros, sendo que este sentimento nunca é mostrado, ao contrário, uma pseudo bondade é o que aparece, que aflora, mas, se possível o quanto mais longe melhor, desde que o poderoso não entre em contato real com a comunidade onde moram os menos favorecidos pela fortuna, pois, podem sofrer maldades por parte desses.
Dia desses passeava em um dos grandes corredores de um desses shoppings, eu de bom humor, ela sorridente, ambos olhando atentamente os produtos de todas as lojas que passávamos, dissecando os preços e comparando-os com os de outras lojas, entretidos no sério labor, quando passa um sujeito atarracado, apressado, numa velocidade digna de anotação, igual a daqueles atletas que andam como se estivessem correndo, se rebolando apressadamente, o que me chamou a atenção. Depois de uns segundos sentimos um cheiro ruim, podre, e, imediatamente relacionei a pressa do sujeito ao cheiro e entendi, quase vomitando, o ataque a que estávamos sendo alvo. Foi algo totalmente imprevisto, levando em consideração o ambiente e o "nível" de pessoas que por ali transitam. Pensando nisto cai numa gargalhada, um riso incontrolável, lembrando-me que realmente todos somos iguais, não importando aonde estejamos. Todos nós, seres humanos, somos literalmente iguais, e, se não tivermos educação aí é que se evidencia a igualdade, mesmo em lugares onde não deveríamos mostrar-nos mal-educados.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A correnteza.

O ar frio da madrugada batendo diretamente em nossos rostos, vindo do meio do rio, gelava-nos a alma. Apressávamos os passos no afã de esquentar os corpos. Íamos na direção do cais do porto para embarcarmos no batelão do leite. Esse barco saia todos os dias do porto de Manaus em direção à Vila do Careiro e parava em todos os flutuantes, no caminho até lá, e, na vinda até cá, que o chamassem acenando uma toalha branca, logo o comandante endereçava a proa do barco na direção do chamado para o resgate daquelas necessidades. Mesmo com as sanefas abaixadas, protegendo a todos do vento direto que teimava entrar pela proa, o frio era intenso. O cheiro do motor em funcionamento, talvez do diesel, misturado com o tal vento do meio do rio nos dava a impressão de um quê desconhecido. Às vezes, uma chuva fina caia impiedosa, batendo em nossos rostos, em pingos cortantes como chicotes, e, no escuro da madrugada só fazíamos nos agasalhar mais perto uns dos outros. Não sei o quão forte é o som do Minuano, lá longe, na verticalidade do país, bem ao sul, mas, o vento fazendo as lonas gemerem, e o som do vento ao passar pelas cordas e mastros, o som do casco subindo e descendo entregue aos formatos das águas, formado por ondas altas, me fazia fazer preces à Deus, pedindo que logo chegássemos ao cais, acolhedor, sonho de regresso de todo marujo. A nesga de céu que víamos, eu e meu irmão, por entre as lonas esvoaçantes, era escuro e numa constância inquietante clareado pela luz intensa dos raios caindo, alguns lá longe e outros mais perto de nosso barco. A imensidão do rio Amazonas reclamando, através de suas enormes ondas dava a sensação de estarmos dentro de uma casca de noz, erma, solta, escrava da natureza rude.
Os meninos da Amazônia aprendem desde cedo a respeitar essas forças desconhecidas e fortes do grande rio. Aqui bem calmo, ali um turbilhão, resultado de tanta força, tanto vento, tanto correr, tanto quebrar a tudo que encontre, inclusive as barrancas que caem, tombadas ante a força da correnteza.
Sentado num banquinho, na beira do barranco, via o por sol, calmo, lento, vermelho brilhando na superfície tranqüila do rio, dando-me uma sensação de paz. Lá no meio do rio, aproveitando a correnteza mais forte, um grupamento de canaranas e um pedaço de árvore, no talvegue, boiavam e rapidamente desciam o rio, um bando de papagaios e periquitos numa gritaria infernal passavam por cima, voando não tão alto. Quando em vez o dorso de um boto ou mais cortava as águas, quebrando a monotonia da cena.
Em ambas as cenas, pensei no quanto Deus fez tudo perfeito, um pedaço do Éden, reflexos do anseio de eternidade.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Oração.

Como é bom orar à mesa. Desde a minha tenra idade tenho orado à mesa agradecendo a Deus pelo alimento, pela vida em família, pelo poder estar com os seus, de poder ajudar os outros, de ter consciência de erros e a capacidade de pedir perdão, de estar antenado ao mundo observando as causas das mazelas e vendo os efeitos sob pessoas e até mesmo países, sabendo que a vida é mesmo e somente venda de imagem, todos querendo parecer mais bem vestidos que os outros, agradecendo à Deus a Sua enorme compreensão para nossa enorme pequenez, no sentido de não conhecermos nada da imensidão, caudalosa de conhecimentos que não compreendemos e que talvez não venhamos conhecer, enfim, somente agradecer por essa dádiva que ter tido a oportunidade de viver. Meus netos também impregnaram-se com a idéia:
- Deus, obrigado pela barriga da mamãe. Eu quero que o neném dentro dela fique bem. Quero que os pobres comam, não tenham fome. Obrigado pelo avô. Obrigado pelo meu irmão, pela mãe e pelo pai. Quero que o Thor (bulldog inglês recém-chegado) fique bem gordinho e que o kelm (rottwailler, guarda da casa), também seja forte. Obrigado pela comida. Em nome de Jesus, amém.
Esta é a oração de Enzo, meu neto mais velho, do meio, pois, há o mais velho, Alexandre Neto, e, o mais novo, Guilherme, e, os do meio o Enzo e o João Gabriel, onde o Enzo é o mais velho.
Tenho procurado, apesar de meus erros, ensinar-lhes o valor e a necessidade de agradecer a Deus por todos os benefícios e malefícios do dia a dia que temos alcançado apesar de, procurarmos, com fé, vivenciarmos nossa esperança de um mundo melhor, onde o homem verdadeiramente seja um na criação, com todas as criaturas e com o Criador.
Obrigado, meu Deus por tudo e por todos que, coincidente ou não, orbitam a nosso redor e fazem parte de nosso pequeno universo.
Obrigado, pelas crianças, aonde quer que estejam, pois, delas são o reino de Deus.
Obrigado, pelo pão de cada dia, porquanto, provês nossas mesas com o melhor para nós, conquanto, nos esforçamos para tal.
Obrigado, porque certamente existe homens de boa vontade, capazes de lutar por um amanhã muito mais humano.
Obrigado, pelas oportunidades, essas mesmas que nos ajudariam a ajudar outras criaturas, mas, que delegamos importância nenhuma, e, também por essas que usamos para difundir o Amor.
Maranata, Senhor.