Manaus, em 1669, ano provável de sua fundação era nada. Os portugueses desejosos de consolidar sua descoberta acamparam por estes lados uns aquartelados no recém criado Forte de São José do Rio Negro, forte este com a missão capital de vigiar e patrulhar sua área de maneira que outros aventureiros como holandeses que por aqui estiveram também, não se estabelecessem. Em 1832, em homenagem aos índios Manaós, recebeu o nome de Manaus, que significa “mãe dos deuses” e foi transformada em cidade no dia 24 de outubro de 1848 com o nome Cidade da Barra do Rio Negro e somente no dia 4 de setembro de 1856, pelas mãos do governador Herculano Ferreira Pena, voltou a ter seu nome Manaus até os dias atuais. Houve uma vez um renovo do ciclo da borracha nos primeiros meses de 1942. Com a invasão da Malásia, também produtora de borracha natural, pelos japoneses, os EUA se viram obrigados a implantarem no norte do Brasil um fomento à borracha para abastecimento principalmente de pneus e Belém passou a ser o centro dessas novas atividades, o que resultou na criação de instrumentos para preenchimento de tais atividades, como o Banco da Borracha, hoje o Banco da Amazônia, o Grande Hotel, luxuoso e que hoje é o Hilton Hotel, o aeroporto de Belém e mais outros.
Desde criança apaixonei-me pela arquitetura dos prédios e casas da época que vem desde sua colonização. Os ladrilhos e telhas portuguesas, azulejos, os prédios pré-fabricados, como o da receita federal e o teatro Amazonas, o Palácio da Justiça, e as casas do centro antigo da cidade, todos a registrarem através dos tempos uma etapa de apogeu e riqueza, representada pela presença dos coronéis, senhores feudais que detinham poder financeiro e político de grandes áreas, principalmente rurais.
Na memória registro um prédio que existia na avenida Eduardo Ribeiro, o qual, abrigava a Confeitaria Avenida, onde obrigatoriamente comíamos os mais variados salgadinhos e doces, com xaropes das mais variadas frutas como guaraná, groselha, morango, enfim, uma infinidade de deliciosas ofertas, mais abaixo e do outro lado o prédio do cine Odeon, onde assisti grandes películas, como Os dez Mandamentos, e, em frente a este o Almanara, lanchonete da família Reston, com seus salgadinhos e comidas árabes deliciosas.
O Sete de setembro ainda era desfilado na Avenida, apelido carinhoso, da avenida Eduardo Ribeiro, que ainda tinha mão e contra mão, no trânsito. As crianças de mãos dadas aos pais agitavam as bandeirolas do Brasil, os cata-ventos verde e amarelos, os broches, tudo a lembrar da independência, tudo festa, tudo alegria que brotava a cada dia e hora na cidade que agora desenvolvia a pleno vapor. Estávamos na época do Distrito Industrial, fator de integração nacional, começo da descoberta da região norte como centro industrial, e, portanto, de desenvolvimento para o país. A guerra acabara em 1945, se respirava a euforia do novo amanhecer da humanidade numa incrível velocidade e onde os conceitos sociais estavam de mudança, sendo corrigidos. Mudanças como o vestir, o falar, o biquíni, os cortes de cabelos, Chanel, sapatos, cintos, calças Lee, amizades coloridas, contrapondo o casamento, instituição falida dos pais, a maconha, as drogas surgindo e invadindo e destruindo casas e casamentos, tempos de argumentação frenética onde a liberdade ganhava novos horizontes. Tempos outros, um pós-guerra de muita insatisfação e falta de definições aceitáveis, afetaram Manaus, porto de lenha como quer Torrinho. Nunca serás Liverpool, Manaus, mas, até que ela tem se saído bem, neste caldeirão de idéias e ideais. Cresceu, ganhou ares de cidade grande com seus elevados, construções que nunca terminam, projetos ousados, tudo empurrando a cidade para o interior da terra que já chega, já, já, em Itacoatiara, em Manacapuru, cidades que vão acabar sendo bairros de Manaus. Sim, ela cresceu demais, e, por crescer assim, reclamam todos, desde seus habitantes até os urubus, e outros pássaros, como os papagaios e periquitos, rolinhas, beija-flor, que vão se afastando cada dia mais mata adentro numa tentativa de sobreviver, mesmo porque aquele vento que vinha do rio já não chega mais até a cidade que se transformou em um adorável inferno de quentura, de apinhamento de gente, de carros, de cheiro de gasolina, pneu quente, ebulição de afasto, de engarrafamento, e, certamente num depósito de seres humanos, cosmopolitas que se adaptaram a uma cidade que se esqueceu de si mesma, que deixou os estrangeirismos e invasores tomar conta de suas entranhas. Sumiram os igarapés, as fontes, e até o cantar da cigarra que nunca mais ouvi.