domingo, 20 de outubro de 2019

Assim é e assim será... Temos passado por muitas coisas juntos, a vida e eu. Coisas que acabaram por consubstanciar, pesadamente o que sou hoje: um ser em procura de ser melhor dentro do que possui, aperfeiçoando os detalhes do mal, geneticamente incorporado ao corpo, e, eu, sempre buscando alternativas que amenizem a tragédia de ser humano, carregando o fardo pesado da humanidade constituída por seres que não conseguem enxergar a realidade em que vivem, o demasiado humano, desumano. Gostaria, mesmo, de me sentir em franco aperfeiçoamento, me sentindo menos mal, mais evoluído, mais sensível em termos universais, na distribuição do bem, entendido, este, como a satisfação de deixar os outros seres humanos confortáveis no entender o viver. Servidão, foi o que Jesus ensinou, procura da volta ao Éden. A vida, violenta do jeito que está em nossos dias, tornou-se nada ante os olhos do mal. Por brincadeira se provoca danos ao próximo. Lembro dos anos pueris de minha vida, começando o aprendizado do viver, nas brincadeiras de crianças, as bolas de gude, o futebol nos campinhos, sempre improvisados, canelas machucadas, raladuras, dribles, gols, xingamentos, algumas vezes, brigas. Como era bom, gostoso as amizades, a alegria do depois das partidas. Geralmente, partia-se para o jogo das petecas, bolas de gude, até perdendo era gratificante, sempre procurando ganhar na próxima. De ruim, de mal, no máximo, era a troca de socos e chutes, mas, que acabavam sempre na anulação da raiva momentânea. À noite, com as mães sentadas em confortáveis cadeiras de “macarrão” em frente às casas, conversando com vizinhas, pondo em dia as fofocas da cidade, a criançada, sem a maldade, sem a malícia dos adultos, esbaldava-se em correrias e brincadeiras sem fim, noites enluaradas, calorentas, mas, aconchegantes, noites que não deviam terminar nunca. Depois, a realidade do crescimento, o começo das responsabilidades, o colégio, professores com olhares severos, carrascos, mas, com a ternura do saber ensinar, esperançosos de forjarem melhores pessoas, pessoas mais interessadas em ser do que ter. - 8 x 4? - Eu sei, professora, era o aluno em desespero, porque na verdade não sabia. - Vamos, menino, não tenho o dia todo. Se não souber, palmatória. - Vai estudar, até saber de cor toda tabuada. E, a palmatória ensinava o que o aluno devia saber. Normalmente em outra oportunidade o aluno sabia a tabuada “na ponta da língua”. Me vejo sentado, confortavelmente, na enorme barriga de minha avó que pacientemente tentava empurrar para dentro de minha cabeça as matérias mais incompreensíveis, para mim, e, distante assim, as dificuldades apareciam muito mais. Agradeço muito a paciência dela, das professoras que me ensinaram a estudar. Enfim, a mesmice de ser adulto, carregando a vida, às vezes, com alegria, outras, totalmente triste. Considerando que muito mais da metade da vida é de tristeza ou angústia, em relação ao futuro, ao presente, pressa em dar condição de viver “Melhor” a si mesmo e aos próximos, mais tranquilidade financeira, mais ânsia de estabilidade, mais condição de não pensar na morte que se aproxima como um felino, pata ante pata, cuidando para não dar sinais de sua proximidade, e, o tempo, desastre, que não para nunca, angústia de quem pensa. Inevitável, o pensar nos prazeres, na primeira namorada, o primeiro prazer de beijar e ser beijado, se sentir feliz, o prazer de relação, o prazer de poder contar com alguém, prazer de simplesmente compreender que é um ser mortal, que nada é para sempre. E, aos sessenta e sete anos a vontade de continuar no rio que nunca para, de estar sempre à disposição da vida, mesmo aquela vivida de uma forma cheia de erros, passível de perdão, mas, também, uma cheia de acertos, uma pequena felicidade no longo talvegue do rio caudaloso da vida. Assim é, assim será.

domingo, 11 de agosto de 2013

Meu pai.

Homem simples. Desde a idade mais pueril conheceu a pobreza de perto. Sua mãe e seu pai do Maranhão, ela de Viana, ele de Arari, fixaram, primeiramente residência em Arari. Depois com o avançar do declínio econômico em todo nordeste, principalmente no Maranhão e Piauí, resolveram conhecer Manaus aqui no Amazonas. Ouviram falar das maravilhas que a borracha espalhara por aqui. Nasceu aqui em Manaus no ano da Graça de 1925. Homem do bem, ético, com elevada moral, conheceu, um dia a importante relação com Jesus Cristo e manteve-se íntegro por entre seus oitenta e oito anos de sua preciosa existência, logicamente, como todos os humanos cheia de experiências boas e também ruins. Momentos angustiosos. Momentos de extrema alegria. Dessas experiências cinco filhos lhe nasceram: Antônio José, o mais velho, Alexandre, Necil, Manoel do Carmo Filho e Samuel. Forte como um touro, um bull por entre os escombros de uma sociedade em franca decadência moral e ética, espelha, de imediato, a presença de Deus em suas ações na lida diária, assim, tornou-se exemplo para gerações, tanto na igreja batista, com o cumprimento exato do ser cristão, quanto na vida secular, no trabalho, em casa. Lembro de sua chegada em casa pós trabalho, minha mãe já com seu prato de comida, reservado para ele, quentinho, fumegando. Sempre a alegria das crianças. Tomava banho e logo após sentava-se à mesa, orava agradecendo o pão e comia. Almoçava depois de todos, pois, sempre já era bem mais tarde e os afazeres da casa ocupavam o tempo tanto de minha mãe quanto das crianças. Apesar de não possuir riquezas inventava a vida. Todos os finais de semana e em suas férias íamos para os mais variados balneários, fazendas, sítios, enfim, não ficávamos sem estarmos em contato com a natureza. Grande aprendizado. Os natais e entrada de ano novo eram espetaculares. Ele não poupava criatividade. Na igreja participávamos da encenação do nascimento do menino Deus. Cantávamos e lá estava ele com seu olhar aprovador para cada um de seus rebentos. Digo cada um porque todos seria generalidade coisa que em questão de relacionamento, seja em casa seja na comunidade que teve o privilégio de mais conviver com ele, a primeira igreja batista de Manaus, ele não admitia. É de sua natureza, implicitamente, a questão ética. Sofre com a deterioração dos valores sociais. É pela vida, nunca pela morte, em nenhum sentido. A tentativa de santidade é expressão de sua vida, sofrida, alegre, sempre com o foco em Deus, sua meta maior. Por tudo isto e mais o que não é isto, meu pai, Manoel do Carmo Neves Silva, agradeço não só a minha vida, mas, o privilégio de conviver com você, de esperar sempre o abraço e cumprimento carinhoso: - E aí, rapaz?... Feliz dia dos pais...Rapaz.

sábado, 6 de abril de 2013

Livro - O abaité ou o Tio Sujo.


Realmente era feio. Subia a rua de paralelepípedo carregando sua trouxa, alocada às costas. Era uma cena impressionante, pois, a trouxa era amarrada em um cabo de vassoura, de madeira, e, depositado aos seus ombros, e, ele se vestia com um manto pútrido de pano de saco, negro pelo uso, oleado e com uma aparência sem imitações. Normalmente as crianças da rua estavam ou tinham acabado de sair às calçadas para brincarem em conjunto. Lá pelas tantas um ou outro gritava lá vem o tio Sujo. Era uma correria para se esconder, mesmo nas casas alheias, tal o medo que tal criatura impunha. Não usava sandálias ou sapatos. Descalço andava o dia todo, mas, naquela hora sem falta corria para o canto de nossa rua, Leonardo Malcher, confluência com a Ferreira Pena, para depois de agasalhar seus pertences em lugar seguro, não de roubo, mas, de água, se por um acaso chovesse, ele abria os braços os deixando como se estivera numa cruz e arremessava seu corpo contra o muro da casa de esquina. Várias e várias vezes. Era um exercício diário de autopunição. Com o tempo o muro deixou-se ficar com suas impressões. Quem olhasse saberia de haver ali uma espécie de cruz. Ele não se martirizava somente se jogando, de costas com os braços abertos, não. Os carros passavam e todos olhavam para o tio Sujo a se esmurrar no rosto com toda força. Eram socos bem dados, certeiros, que durante o tempo de uso acabou por deformá-lo. O nariz largo de nascença agora era bem mais, sem a proteção da cartilagem do meio, como se houvera um afundamento bem no meio do seu nariz. Passava horas e horas ali naquela punição que parecia não ter fim.
Passei, eu mesmo, imaginando o que levara o tio Sujo, como os meninos o chamavam a cometer estes desatinos contra ele mesmo. Que tipo de culpa carregaria um homem cujo destino era de, como os monges da idade média, opus Dei, penitência e mortificação corporal? Que havia de tão horroroso naquela vida a ponto do flagelar-se ser uma normalidade diária?
Muitos anos se passaram e a molecada na rua, lá pela tardinha a gritar:
- Lá vem o tio Sujo, mistura de monstro e de ser humano, na essência necessitando amor, que pelo que transparecia a vida houvera negado a ele.
Nunca mais o vi, ou ouvi falar dele. Um dia desses passei de carro pelo local. Pareceu-me ver ainda a marca da cruz, apesar da pintura do muro. Não sei se era mesmo ou se fosse pintura de minha imaginação.
Acelerei o carro. O muro ficou, testemunha imóvel, inalterável, do sofrimento daquele homem.
- Lá vem o tio Sujo, acelerei mais o carro.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Livro - A Introdução.


Queria ter o dom, magnífico, dos grandes escritores. Aqueles que lapidam um texto como um escultor lapida uma pedra ou madeira. Há aqueles que esculpem em madeira de lei, boa madeira, dura, inflexível, e, com dores criam maravilhosas odes, textos incríveis feitos com enorme facilidade; também há os que produzem em madeira menos nobre, não requerendo para isso instrumentos sofisticados, e, na simplicidade do manejo, com dificuldade conseguem escrever mesmo na maciez do objeto. Sou dos que manejam textos como que esculpindo em madeira mais leve, menos nobre, mais fácil de manejar, aquelas que de tão flexível me deixam esculpi-las com canivetes ou mesmo com instrumentos mais rústicos, sempre necessitando de uma musa, uma o que de linda faça-me sonhar sonhos que acabam por vir a tomar forma, então, escrevo escrita moída e remoída nos sofrimentos e alegrias da vida.
Os caminhos tortuosos da vida, sempre dinâmicos, me fazem sentir uma espécie de, ao mesmo tempo, ansiedade, por momentos há vir, e, nostalgia por momentos que já foram, já passaram, e, que, certamente não voltam mais deixam-me com saudades e vontade de retornar à época, e, às vezes retomar caminhos que poderiam ter sido melhores, onde a escultura poderia ter sido melhorada. O tempo em sua inexorabilidade, em sua ida e vinda, me deixa duas únicas alternativas de tempo: o passado e o futuro. O presente já não é nesse momento e só existe como forma de generalidade, por exemplo, nesta época presente, diz-se de uma década, de uma geração, de um século, mas, na realidade, pontualmente ele não é, não existe por já ser passado, como em Cantão que ao descrever o percurso de uma flecha disparada de um arco na posição A avança lentamente e cada milímetro ganho, na direção B, mostra o presente, o passado e o futuro, onde o presente é tão passageiro que não existe tão real quanto o passado e o futuro.
  Conheci minha musa há tempos atrás. Pueril época onde os pensamentos eternizavam-se projetando para o futuro formas esculpidas, intactas, viajando no tempo e nunca si desgastando; onde o tempo jamais teria acesso e nunca a  corrosão, a destruição chegaria, alcançaria-a. Essa etéreo ser, nunca corrompido, como Dulcinéia do Quixote, sempre linda, sempre esperando, sempre lá no lugar intacto, maravilhoso, eterno de minha mente. Ela me persegue até hoje, e, lá-se vão sessenta e tantos anos, e, ela em sua paciência infinita espera, linda, num tempo irreal, incompreensível que não existe.
A essa musa, inspiradora de tudo na vida, dedico esta obra, produto desse encantamento, desse pensar, projeção de todos os momentos que tenho vivido, seja observando o ser humano em seu comportamento, seja vivenciando os mesmos vezos humanos, os mesmos esteriótipos, os mesmos "vivendo como nossos pais...", de Belchior, cujo conteúdo tem de tudo, desde prazer até tédio, ócio, trabalho, ciúmes, ódio, mas, nunca descartando o Amor em suas manifestações divinas, sem esconder a veleidade de acerto, sem ter medo de sentir saudades.
À Socorro, minha esposa e companheira, lá se vão tantos trinta e nove anos de convivência, de dor compartilhada, de venturas mil, de acertos e erros, da compreensão de que a vida é "assim mesmo", de sonhos frustrados, de sonhos realizados, de um por vir delicioso e maravilhoso, de cheiro de terra molhada, de ventos ou brisas do rio, de cheiro de flores, de choros contidos ou não, de querer fazer sem poder, de realizar impossibilidades, enfim, de simplesmente ser. A esta criatura, de rara inteligência, de raro compreender, de raro e maravilhoso conviver, por suas posições ante as desordens próprias de homens, que vão desde a desarrumação da casa, lugar intocável para as mulheres, até o emocional carente, sempre volúvel, sempre à procura não sei de que, mas, sabendo seu lugar na História e no mundo, dedico total, meu ser e este pequeno livro de anotações.
Aos meus filhos, Alexandre Filho, Maysa e Gabriela, Gabi, sempre intensamente dedico meu coração e minha vida como tenho procurado fazer até agora, e, aos meus genros Leonardo e Heitor que entraram para o "time". Por final à Natássia, minha nora, única, a quem tenho profunda afeição e pela qual tenho dedicado, com honra e prazer, parte de minha vida.
Aos meus netos, Alexandre Neto, Enzo, meu pequeno e eterno jogador de futebol, talento indiscutível, e, ao Davi, filhos de Natássia. Também aos filhos de Gabriela: João Gabriel e Guilherme, que ainda bebê vai ganhar um irmãozinho ou irmãzinha, tão carinhoso...

terça-feira, 26 de março de 2013

O Natal, Sempre


O tinir dos sinos, alegremente anunciando o dia de aniversário do menino Deus, transformava o dia chuvoso em dia menos triste, tristeza que o dia chuvoso impinge às pessoas, fazendo-as mais reflexivas, mais sensíveis, talvez, porque lembrem de suas infâncias, de seus pais, de parentes, de amigos, de situações de alegria no mesmo período de alegria ou mesmo alguma comparação com pessoas menos aquinhoadas pela fortuna, tristezas de não poder ajudá-las.

Lá longe um cachorro uivava chamando sua prole, recém-nascida. Lá longe, na confluência da rua principal, um sujeito grandão, segurando um violão, tentava cantar músicas da época. Noite feliz, noite de amor, o cantor cantava e gesticulava imitando a letra. Na palavra amor ele fazia uma espécie de coração com os dedos das mãos, um coração não muito exato, mas, um coração, uma mensagem de amor.

Na igreja da praça, o pastor, confortável em seu púlpito, falava do grande amor de Deus em mandar seu primogênito para morrer por seu e os nossos pecados. Amor maior não poderia existir. Não um amor superficial, desses que existe, banalizado pela repetição sistemática das pessoas:

- Amor, te amo. Te amo... E, repetindo sempre, banaliza, nivela a palavra com outras ditas constantemente e que perdem a profundidade inicial do significado.

O Amor que o pastor referia-se era um que personalizava o próprio Deus. Um Amor transcendental. Um Amor ilimitado, um que rompe e quebra o tempo e o espaço, algo incompreensível para a mente humana.

Os pequenos corriam em todas as direções e lugares, preenchendo, aos gritos, os espaços, dando uma nova conotação ao ambiente, enchendo-o de alegria. Para eles não importa o grau de sucesso que as pessoas  adultas atingiram, mas, mesmo com a ascensão pessoal completa, os adultos não passam de amigos reais, amigos que sempre estão e estarão à suas disposições, independente do que possa acontecer, mesmo considerando as novas amizades, os novos ambientes a conhecer, nunca deixando de lado os sentimentos mais antigos, sólidos amigos, nunca voláteis, o que lhes dá, com certeza uma solidez na vida, portos de esperança, de amizade e de fé.

- Tio, dizia um deles olhando para mim. Vou embora daqui. Não fico mais com você. Quero ir para outra cidade e ficar com novos amigos...

- Fique aqui comigo, pois, você já me conhece e pode ficar mais estável. Nunca troque os mais antigos por outros mais novos...

- Tenho que ir agora. Fique por aí... Sinto muito...

- Não vou mais esperar você, vou fazer outras tarefas, disse fingindo dureza na voz.

Era natal. Os sinos continuavam a tinir anunciando novo natal. A tristeza tomou conta do meu coração, mas, entendi que sempre o comportamento do homem fora assim: uma vez com você até poder voar, como passarinho que voa e voa por si só, e, você sempre ermitão, solitária vida, eterno deserto abrasador, buscando vida em abundância, vida de qualquer maneira amorosa, vida cheia de esperança e de fé num Éden, uma hora melhor. Natal das crianças, natal dos adultos, natal do menino Jesus, natal de Amor.

Feliz Natal, este de todos os dias.

Feliz Natal, este de todos os anos.

Feliz Natal, este de todos os adultos.

Feliz Natal, este de todas as crianças.

Feliz Natal, Alexandre Neto, Enzo, João Gabriel, Guilherme, Davi, e, o que vem aí, Feliz Natal...

Alexandre Filho e Natássia, Heitor e Maysa, Leonardo e Gabi, Deus tem nos abençoado ricamente, individualmente e como famílias, Feliz Natal, há um anjo que proclamou o primeiro natal e que agora, hoje proclama o nosso Natal, encontro com Deus, encontro, tão gostoso, em família.

Feliz Natal, este que passou, este que é, e, este que virá.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

D. Yvone.

Semana passada vi-me à frente, novamente, com a morte. Horas há que ela se faz muito presente, tão perto que a gente sente sua nefasta presença, sem ao menos vê-la, somente seu espectro nocivo ronda o ambiente, deixando nossas peles arrepiadas. Morreu uma amiga, mais de minha mãe e pai que minha, mas, tão próxima que emocionei-me tanto quanto no velório de minha mãe, dia extremamente triste para minha vida, d. Yvone Serejo de Carvalho. Vivi pouco ao seu lado, mas, sua história frente ao Colégio Batista Ida Nelson, sua participação na comunidade batista, exercendo uma espécie de liderança que nós, seus alunos, os que cresceram logo após sua geração, acabamos por admirá-la. Viajamos juntos, uma ou duas vezes, para Aruba. O imenso hotel, a praia, o sol do Caribe, os cassinos, o fascínio do charme holandês, presente na arquitetura, no desenho da cidade, deixaram-na perplexa com tal conjunto de entretenimentos. - D. Yvone, vamos ao cassino fazer uma fézinha... - Não, Alexandre, prefiro que você me leve ao meu apartamento. Está na hora de recolher-me... Tínhamos jantado juntos no restaurante do próprio hotel. - Está bem, dissera eu. Levei-a, de braços dados, em direção à torre que a hospedava, para que ela descansasse e no outro dia: às compras... Enquanto andávamos ali na imensidão do céu caribenho, totalmente aberto, com a lua e as estrelas a brilharem na imensa abóbada celeste, por ainda não existir nenhuma construção vertical, lembrei-me das aulas que ela elaborava, de História, talvez para que o colégio não parasse por falta de professor, e, uma em particular: a história se desenrolara num dia quente, como soe acontecer nas tardes de verão amazonense, e, um aluno, que trabalhara a noite anterior, no comércio pertencente a seu pai, repousara sua cabeça por entre seus braços, debruçado na carteira, e, acabara adormecendo. Ela observara todo processo sonolento do dorminhoco. Aquilo, representou à ela uma falta de respeito e consideração para com o mestre. Sem avisar arremessou o apagador, do quadro negro, acertando o dorminhoco no alto de sua cabeça. O rapazola acordou assustadíssimo. - Desculpe, d. Yvone... - Se você quiser dormir vá para casa. E, continuou o assunto. Ela era assim, rígida, ríspida, no interesse maior de seu trabalho, que resumia a vida do colégio, mas, por outro lado, extremamente sensível à vida dos mais necessitados. Quantas bolsas de estudo fora por ela distribuída na precisão verdadeira de pessoas necessitadas, principalmente entre os batistas. Quantas professoras e professores começaram suas vidas de mestres ali no dia a dia junto com ela, aprendendo não só a lecionar mas também a viver. Ali, em seu velório, tentei, com o espanador mental, em vão, afastar as lembranças que teimavam em ficar, a vida e alegria de viver que nela existiam, simplesmente existiam. Quando meu amigo, Vanias Mendonça usou da palavra para expressar seu pesar, relacionei tais eventos à vida de mãe e chorei, chorei pela vida extinta, chorei pela dureza da vida e da morte, chorei um choro de pena... Pena da não continuidade desses momentos mágicos da vida... Pena de sentir-se mais só... Pena de saber que a vida tem um fim, sim... Pena, pena...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Éden.

O casarão, enorme, largo, ocupava quase toda a frente do terreno anterior e posteriormente, na mesma largura, o quintal, plano, terminando na mangueira que em sua época nos enchia de mangas, doces e saborosas. Na entrada uma escada central levava ao primeiro pátio. Uma goiabeira recepcionava. Na verdade eram duas, uma de cada lado da escada. Quando "carregadas" exibiam suas frutas, deliciosas, cobiçadas pelos transeuntes, que paravam, olhavam, desejavam, mas, seguiam o caminho com olhares traseiros. Desse patamar podia-se chegar a um outro, mais alto, ladeado por um pátio, grande, quase na extensão da casa e cuja altura correspondia ao "pé direito"dos andares. Esse "pé direito" era muito usado à época. Passamos, eu e minha família parte de nossa vida ali. A rua sempre muito movimentada, à época, sem carros, pouquíssimos ônibus e muitas carroças e bondes, nos dava certa segurança e era motivo de alegria, pois, por ali passava muitos catadores de lixo, e, nós, crianças, quando olhávamos os vestidos das velhas entrando entre as bochechas de seus glúteos, ríamos à beça: - Rapaz, olha aquela ali... Era uma com o vestido marcando excessivamente sua forma, e, ríamos daquela situação, não sei até hoje porque, mas, ríamos, eu e meu irmão mais velho. O dia era de brincadeiras. No quintal andávamos de bicicleta, brincávamos de manja-pega, de bolinha de gude, de esconde-esconde, de guerra, comíamos mangas, quando em vez, mamãe gritava que o lanche estava servido, depois a hora do almoço, e, brincadeiras de novo numa rotina incrivelmente feliz. Quando o sol começava a declinar e meu pai, já em casa, nos chamava, diariamente para o culto doméstico, uma reunião familiar que me enche de saudades daquela comunhão. Tentei dar continuidade, depois que casei, mas, o dinamismo da vida, as mudanças nos pensamentos e comportamentos dos filhos, impediram a maioria dessas reuniões, que acabaram por sucumbir à experiência. Depois dessa reunião, o jantar delicioso que mamãe fazia, acompanhado de sucos de frutas da estação, e, produto de suas mãos mágicas. O "picadinho", carne moída, se transformava em bolinhos de carne, acompanhados de molho vermelho, ou, o pirarucu, desfiado ou à milaneza, o guaraná gelado, sucos, água e sonhos de eternidade. Antes do jantar, à tardinha, quem olhasse, do pátio da frente da casa para o horizonte, na horizontalidade da cidade de então, poderia deslumbrar, em noites de lua cheia o por do sol mais lindo que já vi e um "nascer" da lua mais incrivelmente belo, essa transição entre o vermelho do por do sol e o amarelo da lua aparecendo deslumbrando-nos, nos enchendo de felicidade, uma portinha que nos deixava quase ver um Éden, perdido à tempos, dando-nos uma idéia de como seria estar no Éden. Lá longe o Rio Negro, negro como sempre, refletia as luzes de um de outro, tendo hora que ora era vermelho do sol poente, ora amarelo da lua nascente. Um barco solitário passava lá longe, no meio do rio, em busca de seu destino. Um laivo, quase borrão, em meio à paisagem deslumbrante. Nessa casa, cheia de espaços, nem tudo era luz. Ao anoitecer, quando a energia "ia embora", as sombras do lusco-fusco, dançantes nas paredes e chão da casa, eram assustadoras e produziam em minha mente de criança uma espécie de insegurança, um medo inexplicável de ser só, de sentir-si só, e, então, eu não gostava quando a noite vinha e a energia, força da casa, também não. Às vezes as sombras assumiam formas de seres viventes que de tão maus e assustadores me faziam gritar, apavorado e meus pais corriam para meu quarto a me socorrer, e, ficavam ali, do meu lado, até eu adormecer, certo da segurança e conforto deles ali comigo, com a certeza que quaisquer monstros seriam rechaçados porque não tinham lugar entre nós e eu dormia tranquilo. De manhã acordava cedo e pronto para as brincadeiras do dia. De noite as sombras, metáfora da vida em si, ensinando que nem tudo é paz e luz, e, que em algum lugar da existência o mal, latente, quieto, se deixado à vontade assume formas assustadoras.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Barrancos

 Chovia forte.Ele franziu a testa forçando o olhar na direção da outra margem, longe, quase sem visão. O que ele buscava ver? Não sei. Talvez fosse só um vezo, um hábito de procurar, com chuva ou sem chuva, algo não alcançável. O fato era que lá estava ele sentado em seu banco predileto, à margem do rio, sob a forte água da chuva, suportando aquele vento que vinha do meio do rio e que entranhava em seus ossos dazendo-o tremer de frio. Antes já fizera. Pensava nela. A canoa deslizando, oblíqua, teimando em deixar-se levar pela forte correnteza, mas,subjugada e manobrada pela perícia da mulher em manusear o remo esse instrumento que há séculos ombreia, e, ajuda o caboclo em suas viagens e andanças por entre a multiplicidade dos rios amazônicos. A angustia era evidente em seu rosto. Imaginara, naquele momento eterno, a canoa virando, não resistindo ao forte banzeiro, e, a mulher debatendo-se, tentando desesperadamente emergir para a vida, mas, a força das águas imensamente mais forte puxavam-na para baixo, para suas revoltas entranhas. Apesar dos péssimos pensamentos a canoa teimava em vir em sua direção. Agora, revivia a cena. A angustia não existia porque não tinha canoa nem moça, só a lembrança do barco subindo e descendo no topo das altas ondas. Subia e logo literalmente sumia de sua visão engulida pelo vale das ondas. É como se o rio-mar dissesse: agora fico com ela... E rindo deixava a canoa subir na crista da próxima onda para logo deixa-la desabar em busca da próxima, numa brincadeira sem fim.    Era a chuva branca. Tempestade devastadora. O caboclo, encharcado, com seu chapéu de palha deixando sua aba reter água para logo deixá-la cair em cascata em seu rosto, turvando-lhe ainda mais a visão, imaginando quantas tempestades a vida lhe oferecera e a todas vencera obstinadamente, consolidando uma cultura, a cultura da sobrevivência, comum a todos os moradores da floresta indomável.    A moça morrera uns anos atrás durante o parto do neném que chorava na casinha de madeira situada, talvez com fome. Vagarosamente ele levantou-se, olhando o rio seu amigo, e, endereçou-se para a casa. Tinha que enfrentar mais um dia de sobrevivência...    

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A fluidez do charuto e da vida.

Boa Vista. O céu impecável. As estrelas brilhando, cada uma mais que a outra para si mostrarem, aparecer mais que as outras, o que dava uma visão especial aos espectadores. Mesmo para um amador, os desenhos das constelações apareciam mais nitidamente, e, naturalmente, refletia, e fazia refletir o sentimento da grandiosidade da criação. A graça com que os astros arrumaram-se era de causar muita admiração. Eu, como um desses amadores, conseguia distinguir muito pouco das formações. Deitado na rede via o cruzeiro do sul, as três Marias, algo parecido com a uma formação que eu sabia quem era mais não sabia o nome e depois de um tempo resolvi simplesmente absorver o quadro mágico do céu estrelado. Meu filho, Alexandre Filho, também absorvia este momento mágico, e, através das espirais da fumaça do seu charuto, deixava transparecer a imensa satisfação de simplesmente estar ali. Realmente o cenário é de difícil descrição. Não há em que pensar a não ser no quadro logo ali em sua frente, para quem está deitado como eu. Os dois cachorros, um bulldog inglês e um americam bull, um branco e o outro preto, entendendo nosso momento introspectivo, aquietaram-se, deitados à volta das redes, como fossem partícipes da admiração que o quadro exigia. Lá longe o uivo de um pastor alemão, alto, emprestava à cena um quê de ancestralidade, remontando à uma época bravia, de colonização, longínqua. A lua, toda exibida prateava a cidade, e, tenho certeza, mais o nosso pátio, pois, nenhum ponto do quintal até a entrada da casa estava encoberto de seus raios prateados. Os charutos, cubanos legítimos, pareciam mais ativos e alegres de estarem contribuindo com nosso prazer, estavam na metade e os assuntos, da vida e de projetos, ainda nem pensavam em dar-se por encerrado. - Alexandre, amanhã é um porvir, mas, marcado por nossos passos de agora. O tempo, essa marca mensurável, existente apenas humanamente falando, para nós os poetas e artistas que teimam em pensar realmente não existe. É-nos indiferente...; assim a noite avançava madrugada a dentro. Lá no céu a lua. Aqui o calor prateado do amor. Charutos e conversas. Sonhos a vir. Devaneios das almas. Solidificação de sentimentos. Deus abençoando a cena. Passado, presente e futuro. O bulldog, prognata, com os olhos sonolentos, talvez, desinteressado pela conversa, olhava sua silhueta refletida na enorme parede de vidro que separa a varanda da sala de visitas, deixando o tempo passar. Agora, os charutos quase mortos, nos volviam à realidade. O sono lentamente tomando conta da cena fazendo a conversa ficar mais espaçada, o corpo a pedir descanso, nos lembrava que a mágica do momento terminara e era hora de ir...

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Fé, esperança de um dia melhor.

Vivemos época nebulosa, cheia de nuvens pesadas, sombrias, que escurecessem nossos horizontes, anuviando ainda mais o futuro, essa região do tempo onde pouquíssimas pessoas tiveram acesso, e, não nos deixam visualizar nada a não ser destruição e morte, sofrimentos, desencontros, onde o amor esfria rapidamente e a esperança, dependente da fé, diminui acentuadamente. Tanto de um modo geral, no mundo todo, os acontecimentos vão se desenrolando de um modo fulminantemente letal para o mundo, como no caso entre Israel e Palestina, talvez, o pavio curto para o desencadear de um confronto maior. Em quase toda a terra rumores e guerras acontecem, fomes, terremotos desastrosos, deslizamentos de terra soterrando e matando pessoas, levantes e violência nas cidades com total desprezo às vidas, mortes desnecessárias de crianças e mulheres, civis, polarizando o direito de ter e ser os direitos sociais. Enfim, o mundo em franca deterioração, atingindo a individualidade de uma forma contundente, diminuindo as chances de sobrevivência da vida no planeta. A sofisticação da informação, das redes sociais de comunicação, deixa-nos à mercê de todo tipo de interesses, de manipulações que revigoram o poder, a autoridade máxima de alguns poucos mortais. Os governos interessados em manutenção, exclusivamente de poder, de seus interesses, governam, sem culpa alguma, não há quem os julgue, de modo que as lutas e mortes, desempregos, violência urbana, miséria, fome se façam necessidades reais para a efetivação de seus objetivos-fim, com tudo que funciona trabalhando para suas manutenções. A esperança, a fé de que as promessas ditadas por Deus, na Bíblia, na História, se cumpram, nos coloca confiadamente, apesar do tempo, à espera de suas realizações. Sim, cremos que Algo externo ao ser humano rege a História. Cremos que, não sei como, haverá mudança, restauração na matéria, entendida como a conhecemos e vivemos hoje, e, seja qual for o tempo, qual tal Calebe, ainda estaremos fortes e ativos, na consciência, para a grande restauração, um dos fundamentos do cristianismo, coisa tão simples, essa restauração, para Deus e tão incompreensível para nós, humanos, poeira cósmica. Maranata.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Vida abundante.

A chuva média, nem fina nem grossa, cai persistente sobre Boa Vista. O entardecer fica tristonho. O valente bulldog inglês, sempre ativo e atento, junto com o american bully seu novo companheiro de alojamento, recolheu-se ao interior do canil. Daqui da varanda posso ver seus olhinhos à procura de algo que o tire da melancolia. O cheiro de terra molhada chega fácil às nossas narinas reportando à lembrança de outras épocas. O enterro saíra impecavelmente às quatro, dezesseis horas. Passara a noite do velório chorando o fato e o dia chuvoso. Na infância distante dificilmente entenderia o porque de tudo aquilo. Hoje a mesma coisa. Não entendo nada. Minha avó, que eu tanto amava, morrera ao amanhecer daquele dia e a chuva que caía persistira o dia inteiro, incrustando em minha memória o cheiro da terra molhada, vindo do oitão, o das flores branquinhas que colocaram nas mãos bondosas de minha avó, o olhar melancólico do Ferrabraz, e, o cochicho das pessoas falando baixinho como para não acordar a morta que indiferente a tudo, placidamente descansava. - Tudo na vida obedece a um sistema. A gente nasce, cresce, e, morre. Sua avó morreu, dizia-me um senhor que não me lembro e seu dizer não dizia absolutamente nada. O Ferrabraz, o cachorro de minha avó, descansara a cabeça sobre as patas dianteiras, cruzadas e ficara na posição por todo tempo. Nem as andanças dos parentes e vizinhos, amigos, mexiam com o firme propósito do velho Ferra de ficar velando sua dona. Seus olhos perscrutavam o interior da sala, talvez, procurando algum movimento no corpo inerte de sua dona. Segue o féretro e concluído o enterro: - Cadê o Ferra? Alguém perguntara. Procura-se e de resposta só o silêncio. Nunca mais se achou o fiel escudeiro de minha avó. Nunca se soube seu paradeiro. Olho novamente para o canil e lá está o bulldog na mesma posição, pacientemente esperando a chuva passar para a alegria da continuidade da vida retornar e por um breve momento de tempo voltar a ser feliz, como eu também.

domingo, 21 de outubro de 2012

Chuva.

Manhã chuvosa em Manaus. Da varanda não vê quase nada. A chuva morosa parece que veio para ficar mais tempo do que deve. Alegro-me com ela. Sei que a renovação é fator preponderante para que a natureza se mantenha impecavelmente verde. Aqui, sem terra, somente com o piso de concreto, não dá para sentir o cheiro de terra molhada, nem ver os galhos da árvores balouçando com o passar do vento forte, o verde descaradamente renovando-se, a esperança de vida, ainda, repondo-se, virtuosamente mostrando o poder da Criação. Fecho os olhos e reporto-me a uma outra varanda, também assolada por outra chuva, talvez até mais forte que esta, o cheiro de chão batido molhado e as flores no pomar jogadas de um lado para outro pela força do vento, numa fazenda no Careiro da Várzea. O barulho da correnteza do rio aumentado, e, levando de rodo tudo que a sua frente está. Amolecendo as paredes barrentas dos beiradões e mais tarde derrubando-as e levando-as para outras paragens. Tempos diferentes de minha vida, mas, iguais no conteúdo. Um mais moderno, no alto de um apartamento, impossível de ver o rio, sentir o cheiro de piso batido molhado, o cheiro das flores do pomar espraiando-se no ar e chegando às narinas tornando-se promane de sentimentos e ânsia de vida, o outro, quase cinquenta anos atrás, mas, com a mesma conotação de querer mais vida, de viver hoje e agora o infinito, o céu.

sábado, 29 de setembro de 2012

A vida continua.

Soube de duas mortes hoje. Uma de uma famosa apresentadora de TV, a Hebe Camargo, e, outra, postado no Facebook, chocante, tanto quanto a outra, mostrando um feto, inteiro e ensanguentado, em cima de uma toalha. Ambas, as mortes, chocantes. A repercussão da apresentadora muitas vezes maior que a outra, do feto, emocionou o país inteiro. A do feto menos talvez porque fosse de um natimorto, desconhecido e filho de pais desconhecidos. As duas mortes, como de tantas milhares mortes ocorridas hoje, famosas ou não só nos lembra da grande realidade da vida: da morte ninguém escapa, seja grande ou pequeno, de todas as cores, raças, religiões, credos, ninguém escapa. " Louco hoje pedirão tua alma e o que tens guardado é para quem?...". São palavras de Jesus a respeito disso. Ninguém sabe a hora que a morte vem, por isso, viva a vida intensamente no momento que se chama de agora. Essa é e deve ser nosso máximo empenho diariamente, vivermos agora, com a responsabilidade dos que vivem sem limites. O que se espera de alguém que nega-se, a toda prova, à vida porque cheio de regras e leis não executa nada por conta de ser reprimido, deixando que toda repressão o domine diante das realidades da vida, passa por ela sem reclamar, sem xingar, sem rebelar-se contra algo, sem capacidade crítica para não deixar-se ir contra o "status quo". Que Deus, em sua grandeza, não permita que vivamos assim como um robô, passando e contando nossos dias vaziamente, sem produção de nada.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Tênis de Quadra

Acordei atinando com a possibilidade de voltar a jogar tênis de quadra, meu esporte preferido. Faz algum tempo que não jogo. Lá está, na parede, pendurada, a raquete, companheira de bons exercícios. Lembro exatamente do último uso. Era um sábado e à noitinha, por volta das seis, com o vermelho do pôr-do-sol amazonense marcando os telhados dos prédios do distrito industrial de Manaus, cheguei à quadra. A quadra recém inaugurada, em dos hotéis da área, convidava para a aula e logo após uma partida com algum amigo. Fora bastante forte a aula e eu exausto, logo no término, ansioso por um bom banho voltei para casa. Encharcado de suor, suado até a alma, ao chegar em casa enderecei-me diretamente à cozinha para tomar água e ao passar pela mesa de suporte vi, descansando sobre ela, um pão, de meio quilo, recheado de calabresa e brilhoso em seu dorso. Abri a geladeira e lá estava a enorme garrafa de coca-cola, geladíssima, convidativa, sedutora. Sentei-me em uma das cadeiras, confortável, e, comi o pão acompanhado do refrigerante. O que acontecera para que eu me deixasse seduzir por tão banal objeto foi o fato de que em algum lugar do passado, quando minha mãe fazia este tipo de pão, outro pão, parecido com este, me chamou à uma viagem no tempo o que determinou o fim daquela deliciosa guloseima. Comi-o inteiro, coca-cola do lado. Pronto, fora disparada a gota d'água para desencadear, em meu organismo uma manifestação biliar de repercursão sistêmica. Vômitos, dores musculares, não sei se devido ao grande esforço para excretar o que, em determinado momento não existia mais, dor na cabeça etc... - Vamos até o pronto atendimento da Inimed, dizia minha esposa, exausta do acompanhamento amigo. - Isso não é nada, dizia eu, daqui a pouco passa. Agüentei de sábado até quarta-feira. - Vamos, dissera eu vencido pelos incômodos. Feito o diagnóstico, litíase biliar, marcou-se a cirurgia. Raquete na parede, pendurada. Atinei, está na hora de voltar, é hora de recomeçar.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Fotografias 2.

É mister continuar a reviver, novamente viver, fatos passados e que estão estáticos, porém, eternizados numa fotografia. A vida continou e continua em sua corrida desesperada em direção ao infinito. Gosto de repensar a vida a partir desses gostosos momentos presos nas fotografias e disponíveis a todo onstante. Depois dos filhos, os netos. O João Gabriel o neto que nasceu logo após o Enzo, com sua forte personalidade, depois o Guilherme, o neto que me acorda diariamente com um doce grito: Dôdo, acorda e eu obediente acordo. Todos têm, desde os filhos até o Davi o neto mais novo um dossiê, portifólios de vida. As fotografias retratam o momento de agora e todos os momentos da família estão registrados em albuns infindáveis, lotados de vidas armazenadas em suas mais diferentes etapas, cada um do seu próprio jeito, mas, catalizando e amalgamando uma só história, a história cheia de erros e acertos. O Guilherme gosta de ser fotografado. Faz pose e mesmo lambuzado de caldo de feijão, chocolate, como na foto que vejo agora, procura, como se tivesse consciência disso, mostrar seu melhor ângulo. O João Gabriel, quando se trata de fotografias gosta de se mostrar, quase sempre vestido de qualquer fantasia de super-herói, e, num passe de mágica tenho por perto super-homem, homem-aranha, ben 10 etc..., sempre prontos a me defenderem de alguma coisa ruim. Há um tempo atrás não imaginaria um quinto neto principalmente vindo da Natássia, minha nora, esposa de Alexandre Filho, e, surpreso vi nascer o Davi. Agora mesmo olho uma foto onde ele parece estar se divertindo bastante pois o riso tão largo mostra, à vontade suas gengivas. É um riso gostoso de quem está feliz. Mais uma vez agradeço a Deus a grande oportunidade de ter e fazer parte dessa grande e abençoada família.

sábado, 18 de agosto de 2012

Fotografias.

Caros leitores, amigos que me acompanham desde um tempo. Peguei-me, dias desses, a vasculhar o passado revendo fotografias antigas e revivendo cada momento, a maioria bons momentos. Já se lá vão tantos anos em algumas fotos. Agora mesmo vejo-me na euforia do primeiro aniversário do Enzo, meu segundo neto; estou com ele no colo, sorrindo e ele segurando um brinquedo. Parecemos felizes. Em outra o Alexandre Neto, meu primeiro neto aparece, numa loja, acho que em Margarita, segurando um boneco do tamanho dele, rindo à toa. Num sucessivo vai e vem de lembranças passo uma boa parte do dia a reviver, prazeirosamente, o que a memória ainda guarda, sim porque, tenho prá mim que um dia sumirá, tanto se houver vida após morte, porque diz-se que outro tipo de matéria e armazenagem de fatos será fato e essas primeiras não terão validade, quanto se não houver vida após morte, porquanto, tudo será aniquilado. Sou meio desorganizado. Não gosto de lugares e pessoas que do seu alto desempenho organizacional impingem certos comportamentos e atitudes, como a esterilização e super-arrumação de seus lugares e comportamentos. Gosto de chegar e sentir-me à vontade. Colocar meus pés para cima de uma mesa, comer onde me der vontade, mesmo na sala, afastando quaisquer possibilidades de assepsia total da sala, do quarto. Pensando e filosofando assim, continuo a olhar as fotografias e sentindo toda energia emanente delas, me fazendo entender que o presente, sedimentação do passado e preparatório do futuro, é que deve ser vivido intensamente. Lá estão os retratos, estáticas fotografias daqueles momentos, inúmeros, incontáveis, mas, tão vivos em minha memória, inclusive com todos os movimentos e perspectivas do momento deixando- me emocionado tal a intensidade das lembranças. Gosto disso. Me faz melhor.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A vida da estrada.

À frente da cidade, bem no beiradão de entrada, o flutuante balançava à mercê das ondas que se originavam lá no meio do rio. A correnteza, perigosa, aumentara seu ritmo, o que era possível observar-se pela velocidade dos troncos, das canaranas, às vezes até corpos de animais arrastados e mortos afogados no furor das águas. O céu cinza escuro espelhava a força da tempestade que se aproximava. Lá longe, no meio do rio, uma pequena canoa deslizava velozmente tentando se acercar de uma das margens. O caboclo com sua habilidade ganha na experiência de outras intempéries, remava com calma, agora mesmo pondo o remo bem encostado à proa, à boreste, saindo e ficando paralelo às grandes ondas e imediatamente invertendo o movimento para então ficar perpendicular à elas. De qualquer maneira, lentamente se aproximava da margem. Quem pudesse vê-lo da margem veria a canoa subindo e descendo na variação das ondas. Viera à vila para vender e comprar, repondo suas necessidades familiares. Outro caboclo andava na calçada da grande orla da capital. Olhava para cima, não para ver a lua, um pássaro, uma copa de árvore, uma caça, uma trilha, um animal qualquer cruzando seu caminho, mas, simplesmente, os altos prédios da cidade. Pareciam imensas árvores de pedra. O contraste do paisagismo o deixava medroso. Um carro passara e jogara um jorro de água lamacenta da poça à beira da calçada. Molhara-o todo. Indignado continuou andando, tentando achar um lugar onde pudesse tirar a roupa e se limpar. Se fosse no interior já teria resolvido o problema. Pararia em um riacho qualquer e tomaria um bom banho frio e lavaria a roupa suja. - Não se mexa e ponha as mãos na cabeça, era um policial quem comandara. - Rápido, gritara outro e só então viu que os dois mantinham armas apontadas para ele. Pensou em correr como um dos animais da floresta que ele caçava, mas, também sabia que não adiantaria e seria pura sorte se escapasse, cedo ou tarde seria preso. Sentiu medo e quis estar no lugar que mais conhecia, e, agora tinha certeza amava, que era a floresta. Aqui nunca mais queria voltar. A voz áspera e mandona do guarda trouxera-o para a realidade. Anos mais tarde o velho caboclo, sentado em um banquinho à beira do barranco, feito por ele mesmo, olhava o vermelhão no rio que vinha desde a curva do rio, produzido pelos raios solares do pôr-do-sol. A paisagem era linda. A tranqüilidade fora quebrada pela algazarra produzida por um bando de periquitos que por ali passavam. Uma garça, cheia de pose, em cima de um galho de árvore, descia o rio calmo àquela hora. O silêncio era quebrado somente pelo ruído das águas, dos pássaros e muito longe o troar de trovões. O velho levantou-se, olhou mais uma vez o rio e virando de costas endereçou-se para a casinha de madeira que fizera, juntamente com amigos, há muito tempo atrás. Uma mulher esperava-o no solar da porta. Um vento frio, vindo do meio do rio, o fizera, instintivamente a apressar o passo para o interior da casa. Amanhã tudo de novo, mas, é melhor aqui que qualquer outro lugar, pensara o velho, pois, os perigos daqui são menores e a gente pode ser a gente mesmo.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A estrada da vida.

- Vô, vamos tomar um cafezinho? Era o Enzo me chamando para tomar um cafezinho com ele, mas, somente com ele. Está bem, dissera eu, já me dirigindo à saída, para a garagem. E, lá fomos nós tomar café na Megafarma, o lugar que gosto degustar um bom moca, quando estou em Boa Vista. Conversamos sobre futebol o assunto preferido dele, jogador, aos oito anos, de um dos times da cidade. No dia anterior presenciara dois golaços dele no treino, um dos quais de cobertura, pois, o goleiro saindo dera chance de ser coberto, como foi. - Vô, vamos tomar um cafezinho? Era o Alexandre Neto, no outro dia, véspera de minha volta à Manaus. Da mesma forma, fomos. Conversamos sobre história geral e geografia, tecnologia e seus desdobramentos no futuro, assuntos que ele domina muito bem. Dos deuses do Panteão grego, dos romanos, primeira e segunda guerra, horas de conversação e eu, entre uma conversa e outra, meditando o quanto valeria o tempo parar e eternizar aqueles momentos tão preciosos para nós. A realidade é que só na fotografia os momentos são estaticamente eternizados. Acelerei mais o carro, pois, os pensamentos teimavam em voltar para a casa da qual acabara de sair. Entrara na bola que levava à saída da cidade e finalmente através do para-brisa, limpo pelo movimento das aletas do pára-brisa, que como um João Teimoso, uniformemente deslizavam no vidro, para lá e para cá, visualizei a Br. Pelo retrovisor via a cidade ficando para trás. O carro atingira a velocidade de cruzeiro e um caminhão sonolento, à minha frente, lentamente se arrastava com seu enorme peso pela rodovia, reduzi a marcha da pick-up e esperei o momento correto de ultrapassá-lo. As savanas, de um lado e de outro da estrada, infindas chegando até o horizonte, lá onde a terra encontrava o céu azul-acinzentado e o cheiro de terra molhada invadira o interior do carro me reportando a outros lugares e épocas. De repente o rosto risonho de Davi, no colo da mãe, me aparece em todos lugares do pensamento. Ligo o som e tento fixar os pensamentos na música. Os Bee Gees cantam "I start the joke", na voz macia de um dos Gibbs. Num dos lados da estrada uma garça aterrizara em cima de um galho de árvore no chão da savana. A vida pulsando em todos os lugares e com todos os sons. A estrada tão reta era que os olhos podiam ver todas ondulações, elevações que a rodovia fazIa até o horizonte. Uma felicidade repentina toma conta de minha alma, e, então, agradeço a Deus a graça da vida, vivida com os meus. Mantenho a velocidade, concentrando-me mais na direção do pesado carro.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Agonia de Gaia

Grandes são as obras de Deus. O firmamento anuncia suas feituras, provindas de Suas mãos, e, esmaga nosso vão conhecimento, nossas pretensões tão mesquinhas. Sempre necessitando de algo, provamos nossa incompetência de gerir nosso pequenino, mas, incrivelmente complexo, mundo. Destruímos nossos territórios numa incrível velocidade sem darmos conta do malefício que nossas mãos impõem ao planeta, moradia futuro de nossas posteriores gerações. Reuniões e mais reuniões, lideranças circunspectas, seriamente vendendo imagem de preocupadas com o mundo, com os povos de todas as nações, a manutenção da condição de vida no planeta, todas recebendo pressões das mais diversas matizes dos interessados em manter tudo como está, vendem seus votos, países inteiros, baseados em "estudos científicos". - Façamos isso ou aquilo e certamente a terra sobreviverá a esses atentados à biodiversidade que impingimos à terra, seja com os produtos da combustão de petróleo, seja na emissão de gases, seja no desmatamento, seja na poluição dos rios, na poluição das mentes com dizeres tipo: - Matamos, porém, realizamos ou instalamos progresso, tecnologia para a melhoria de vida do mundo todo. São projetos lindíssimos com "melhoramentos" das orlas dos rios, dos mares, construções que abalam a fauna, a flora, e todo equilíbrio de milhões de anos, em troca de uma estética tecnológica, uma bela visão panorâmica e o grande transtorno ecológico desses lugares. Anos e anos de reuniões. Promessas e promessas, e, o que era para se fazer macro se faz micro, mas, com conotação exagerada de realizações hiperbólicas, num cíclico vezo e mentiroso que se perpetua em nome da modernidade. Sonhos de morte, horizontes cinzas, animais em extinção, floras desaparecidas, guerras em nome da paz, mortes exageradamente desnecessárias, enfim, sinal dos tempos, anúncio de término, agonia de gaia, morte, infelizmente o que si espera, na modernidade.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

O homem nu.

Lagrimei, emocionado, ao ler reportagem, em jornal, sobre um aborto provocado deliberadamente em uma chinesa por esta não ter o equivalente a doze mil reais para poder ter direito de tal evento. A foto é chocante, está no jornal, estática, revelando todo desprezo, covardia e desrespeito a seres humanos, no momento, dos poderosos líderes chineses, em relação ao direito à vida de quem não pediu para ser gerado. A moça, deitada na cama de hospital, com os olhos vermelhos de tanto chorar, olha vaziamente para o infinito, enquanto, ao seu lado, mais perto das pernas em um lençol o neném jaz coberto de sangue, inerte, morto. É uma cena pesada, dessas que comuns são em filmes de terror, chocante porque mexe com a consciência, desnuda a maldade humana, desnecessária, brutal e pecaminosa, revelando total falta Deus nas vidas de quem tem este infame poder de vida e morte sobre outros seres humanos. Não imagino a pessoa que tal ordem deu. Se não tem dinheiro não tem direito à vida, isto é, se tivesse os doze mil o bebê nasceria a termo, pois, pouco tempo restava para tal, ela estava carregando o neném há sete meses. Registro o caso, confirmado pelos próprios chineses, conforme a reportagem, com muita revolta e emoção, refletindo que é impossível não haver uma resposta de países, de pessoas, de governos a um atento explícito a uma consciência formada, um ser humano completo, morto por causa de uma ninharia: doze mil reais.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Meus sessenta anos.

Hoje é meu sexagésimo aniversário. São sessenta anos vividos desde o nascimento em 1952. Muitas coisas, muitas e muitas tem passado por baixo da ponte e por cima da estrada. A visão, adquirida na educação, provinda dos pais, não mudou em nada. A convicção de que todos os seres humanos são iguais e que estão no mesmo patamar de necessidades é a mesma. A lenta morte que estamos estabelecendo ao nosso planeta, com todas as complicações provindas disso, que se estende desde o jogar de uma simples garrafa pet na estrada, ou na rua, até a destruição da camada de ozônio com nossa imensa emissão de carbono da atmosfera, tudo me faz crer que ainda estamos longe de sermos ou termos a perfeição ansiada pela religião e proposta, no seguir da normas, pelo Direito, pela filosofia, pela antropologia, pela ciência. Ainda nos arrastamos pelo chão, como bebês, cheios de direitos e com poucos deveres, servindo cada um a si próprio, cheios de um poder virtual, e, literalmente acabando, com capa de não, o meio em que vivemos, e, pior o mundo onde nossos netos vão viver. Minha vida tem sido pequena, pouco voltada aos grandes interesses que o povo, esta entidade compreendida apenas virtualmente como algo longe e notadamente necessitado de algo e realmente tido como ente pouco abençoado, sem nada a oferecer, portanto, sujeito a não ser nada, desejado a ficar distante, mas, que com idéias pouco difundidas, assim deve ser, algumas pessoas através de alguma associação, como as igrejas que frequento, têm sido amenizados na pesada humanidade que têm de carregar, seja na educação, com nossos times de futebol e inclusão digital, seja na fome, com a doação de pelo menos de quatrocentas sopas e pão a crianças carentes da periferia, seja na visitação aos doentes e necessitados. Mais um ano se soma aos 59 detrás. Vida abençoada por quatro filhos maravilhosos, cinco netos magníficos, me faz feliz, me faz sonhar mais, viver mais, criar mais, viajar mais, conversar mais, conviver mais, ansiar mais, ser mais. Alexandre Filho, Maysa, Gabi, Natássia, Alexandre Neto, Enzo, João Gabriel, Guilherme e Davi, por enquanto, ainda espero a benção de ver os filhos de Maysa, minha filha do meio, me enchem a alma de alegria e felicidade, por isso, neste dia, dia em que envelheço mais um ano, agradeço a Deus por esta grande oportunidade, benção: de simplesmente viver. Agradeço também a benção dos amigos que comigo têm vivido grandes e pequenos momentos, porém, em tudo fortalecendo a vida, engrandecendo as virtudes, não negando os defeitos, e, principalmente glorificando a Deus, nosso Senhor.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

O riso do Davi

Não há o que pensar: o riso do Davi supera todas as possibilidades de superação da tristeza e da solidão, este sentimento tão comum e corriqueiro que compromete nosso dia a dia; é maior que qualquer dor, maior que o céu brilhante, com suas constelações expostas, iluminando o céu. Não se pode comparar com nada. O riso, quase gargalhada em um menino com menos de três meses supera nosso entendimento do que é necessário para se viver. Não é um sorriso falso, sem graça, disfarçante, desprovido de compromisso, é simplesmente um sorriso aberto, com boca grande, mostrando toda gengiva, reflexo da visão, talvez, vultos da realidade, real para ele, que procura foco em todo lugar, principalmente no rosto do avô. Ri um riso gostoso, mostrando que a vida vale a pena, mostrando que tudo da vida gira em torno de um riso, sincero, leal, forte e formoso de um neném, de um bebê que é o centro das atenções e das afeições de toda família, esteja ou seja aonde for. É um humor destinado às grandes personalidades. Uma das características da liderança é o bom humor, essa capacidade divina de lidar com os transtornos, com os desatinos. É um vezo nato, outros que tentem, mas, só quem tem não precisa mostrar que tem, simplesmente tudo absorve e sorri, mas, não um sorriso qualquer, e, sim um sorriso cheio de amor que exige reciprocidade, que denota paixão pelo que faz, que tem respeito pelo foco real ou não. Isto dá ou concede um fascínio único no dono do sorriso, um quê que poucas pessoas possuem: o dom de amar e ser amado. Obrigado, meu Deus, Senhor de minha vida, pelo Davi, assim seja para sempre.

domingo, 3 de junho de 2012

Lua Cheia.

Dizem que o céu estrelado da Palestina tem par somente em Boa Vista onde a lua brilha mais forte e as estrelas brilham mais. Agora mesmo, daqui da varanda, olhando para o alto vejo a lua cheia derramando seu prateado luar sobre a cidade, prateando as casas e ruas, alegrando a noite com suas luzes, convidando para pensar e repensar a existência e seus matizes, o bem e o mal, a relação magnífica entre os seres humanos principalmente com a família, com o bem estar da humanidade, nestes dias tão difíceis, a fome, o fim do mundo, as guerras, o desapego às coisas espirituais e o apego à matéria compreendendo a agressão entre os próprios humanos, à natureza e suas fontes, à sua própria natureza. Lua redonda. Luz difusora da paz, da igualdade entre os homens, do apelo à compreensão que só a humanidade pode ensinar que somos todos iguais em Deus, nosso Senhor, criador de todas as coisas.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Chovia copiosamente...

Chovia copiosamente. Os pingos eram grossos e impediam a visão à meia distância... Quando escrevi, esperando que estava a conclusão da limpeza de meu carro, a primeira frase: chovia copiosamente o rapaz da loja informou-me que o dito cujo estava limpo e pronto para a entrega. Suspendi de imediato a escrita e dirigi-me ao lugar da recepção onde iria receber o carro limpo e polido. Minutos depois conversava animadamente com um amigo em um café, e, lembrei-me da frase, chovia copiosamente e falei a ele: - Veja que frase incrivelmente bela, de uma beleza literária sem precedente: chovia copiosamente, disse referindo-me as inúmeras possibilidades de interpretação, onde o que conta é o imaginário. Estava chovendo copiosamente e a resposta disso na natureza eram pastos verdes, campos imensos alimentados com a força espetacular da água, esse componente imprescindível à vida, fora que para o cidadino, aquele da cidade, o dia é mais triste, mais devagar, a chuva é fator que atrapalha, pois, até o deslocamento é dificultado, as coisas acontecem mais devagar. Animadamente disse e fiquei a olhar para ele com convicção de que estava realmente escrevendo história, estava, numa frase curta dissecando as benesses que uma boa chuva pode fazer ao homem do interior amazônico através da terra e do plantio, quando o rio está seco e as terras de várzeas são sua esperança de abundância, pois, úmidas são terras muito boas ao plantio e colheita. Falei e fiquei olhando o para ele esperando uma reação de aprovação por tão grande observação e descrição ímpar, mas, a careta com que veio a resposta, de imediato, fez-me sentir que a digestão da palavra tinha sido contrária: - Alé, nunca vi uma frase tão pobre e o que vejo quando lembro da frase é um escritor totalmente vazio e sem inspiração... Ri, um riso sem graça, desses que fazemos quando estamos disfarçando algo e balancei a cabeça afirmativamente concordando com tudo. De repente, fiquei pensando que o estio é melhor que uma boa chuva, e, que mesmo copiosamente, metaforicamente a frase não fazia sentido, recolhi-me à minha insignificância, pensando: nunca mais começo uma crônica com uma frase assim: chovia copiosamente...

sábado, 12 de maio de 2012

Mãe, te amo

Hoje é o dia dedicado às mães. Não é um dia qualquer, mas, um dia de reflexão, de homenagem, de agradecimento, de sorte, de sonhos, de amor, de aconchego, de saudades, de reconhecimento por tantas mães espalhadas por todo canto do mundo. Ser mãe, em qualquer época da história, é um dom, uma persistência, uma determinação, uma vontade, um desejo, um cansaço, um choro, um desespero, uma alegria infinda, um ser completo, realizado, uma preocupação, uma dedicação, um bem querer, uma tristeza, uma verdade, uma mentira, um sobressalto, um arrependimento. Ser mãe, antes, agora e sempre, é ter ser luz, alumiando tudo e todos ao redor, é chorar baixinho quando tudo está dando errado com seu filhinho, é a obrigatoriedade de rir para não preocupar seu bebê, é chorar de alegria no nascimento e vitórias do seu rebento, é ter paciência infinita e um amor desmesurado. Bem feliz é, neste mundo, quem pode usufruir do colo amoroso da mãe. É no perigo, nos momentos tristes, na distância que se pensa nela com maior necessidade. Uma comida especial, só feita por ela, um carinho só feito por ela, um sorriso só o dela, uma palavra só a dela, a companhia só dela. A minha foi-se embora há algum tempo deixando uma enorme saudade, um sentimento de perda e uma esperança enorme de revê-la na continuidade da vida pós morte. - Alé, fiz sua comida predileta, suas panquecas de carne moída com molho de tomate, acompanhadas de maionese de camarão e um arroz tipo maranhense. Sua doce voz ainda ecoa na mente fazendo-me até sentir o gosto do deleite alimentar. Seu rosto flutua claro em minhas retinas, com uma seriedade abrandada por uma linha de sorriso discreto, porém, magnificamente lindo. Saudades. Nesta imagem, de minha mãe, homenageio todas as mães do mundo desejando-lhes que Deus recompense tão grandes dedicações inclinando Seu ouvido e realizando todos os pleitos de seus corações, ou, abrandando-lhes o sofrimento de ser mãe.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Lucca.

Hoje nasceu Lucca um sobrinho da Socorrita, meu por afinidade, mas, tão solidamente sobrinho quanto o pai, que vi crescer e aprendi a amar como filho. Ouvi seu grito forte, proveniente do grito de dor quando da entrada de ar em seus pequeninos pulmões, e, imediatamente todos os nascidos assistidos por mim, renasceram e toda imagem presenciada há tantos tempos voltaram como mágica em minha mente. Lucca, filho de Olintho Cabral e Cinara Cabral, nasceu hoje, assistido pelas doutoras Nely Alencar e Marilena Louppi, ambas excepcionais obstetras, veio ao mundo para preencher, tanto historicamente quanto psicologicamente, a lacuna proveniente do mandamento dado por Deus, " crescei e multiplicai ...". Naquele choro forte, vindo do fundo de sua alma, revivi a trajetória do nascimento de Alexandre Filho e seus filhos, meus netos, Alexandre Neto, Enzo e Davi, e, os filhos de Gabriela, minha filha, João Gabriel e Guilherme, do Rodriguinho, Ana Clara, esses parentes tão próximos e amados. Não um reviver superficial, mas, um mais profundo, mais sólido. Os choros, as caretas, as roupinhas, o estranho ar de quem não está satisfeito por nascer, de quem quer voltar para o quentinho do útero, tudo contribui para a eternização do momento. Volto minha atenção para o trabalho competente das médicas. Aqui uma pinça, ali uma sutura, o enxugar de um sangramento, as camadas voltando ao seus antigos lugares, o feixe de luz do refletor, certinho no centro da cirurgiada, o andar despreocupado da anestesista, o cadenciar dos pingos do soro, me levam a retorno no tempo, e, a volta rápida para a cirurgia atual. A pediatra, neo-natologista, segura firme Lucca nos braços e o leva até o rosto cansado de Cinara que sorri com ternura absorvendo aquele momento mágico. O choro forte, alto, reclamante é registrado por minha máquina digital, paralisa os movimentos, eterniza o momento. Tento acompanhar a pediatra, mas, rápida e lépida, entra em sua sala onde deve proceder a limpeza e exame mais profundo do recém-nato. Fico na porta esperando. - Ele está bem, perfeito... Retorno à sala de cirurgia e vejo que as médicas estão para encerrar todos os procedimentos. Resolvo sair e lá fora, com a família, mostrar as fotos e alegrar-me, como diz o salmista: " Este é o dia que Deus fez para nós, alegremo-nos e regozijemo-nos nele..." Parabéns Olintho e Cinara meus amados, mais amados ainda com o Lucca chegando a esse nosso mundinho, mundão, lugar bom para viver.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Seu Neném e o brasileiro mais importante.

Com sua colher ele preenchia, dando acabamento, os vãos deixados pela interceção dos azulejos, e das pedras já sentadas na escada e nas paredes da cozinha. Seu Neném, um pedreiro de primeira mão, muito organizado e preocupado com sua família, auxiliado por seu filho mais velho, com voz didática, perguntou: - Dotô, disse ele, na sua opinião quem foi o maior brasileiro que já existiu? O senhô sabe... prá mim Getúlio Vargas e o Marechal Deodoro foram os melhores. Um a república e o outro a estabilidade no trabalho, prá os trabalhadores, não é? - É, disse eu, tentando lembrar os brasileiros que mais influíram em nossas vidas. Cabral, com seus navios dando abertura para nossa colonização, D. Pedro, Deodoro, enfim, todos os presidentes, todos os governadores, prefeitos, vereadores e deputados, deputados federais e senadores, Pelés, Neimar, os médicos ousados que tanto fizeram por nossos interiores, os padres e pastores que doaram vidas no desbravamento de nossas terras, os líderes de movimentos sociais que viraram mártires, deram suas vidas pelos movimentos que representavam e legaram exemplo de patriotismo e de sensibilidade pelo bem estar dos outros. Afinal, perguntei a mim mesmo, quem foi o maior brasileiro que já existiu? O filho do pedreiro me olhava, ansioso por uma douta resposta, mas, lá estava eu, mergulhado em tantos e variados pensamentos, que demorava na resposta. Finalmente, depois de profunda reflexão cheguei à conclusão que todos nós, brasileiros, partícipes de famílias, de municípios, de Estados e país, é quem somos, formamos a galeria dos mais importantes, fazemos História todos os dias, ele na construção dos projetos arquitetônicos, papel tão importante quanto o do arquiteto, pois, um não conseguiria trabalhar, construir, sem o outro, que projeta, imagina e cria. Assim, em todas as áreas a criação borbulha, nasce de uma corrente, enorme linha de montagem, e, que constrói o país. Seu Neném, somos todos importantes. Depende de todos nós a construção de um país onde as diferenças diminuam, a renda se liberte das peias do rendimento fácil, da corrupção, onde os sonhos projetados para seus filhos em qualquer lar sejam realizados com suor, mas, com honradez e muito trabalho. Só assim seremos felizes como povo. Somos todos muito, mas, muito importantes.

sábado, 28 de abril de 2012

BRs.

Estou em Boa Vista, capital de Roraima. Vim de carro. A estrada outrora esburacada agora completamente recuperada, lembra outras estradas, de lugares mais adiantados. A camada de asfalto mais grossa, equipes de manutenção trabalhando sem descanso ao longo de toda sua extensão, dá uma sensação de que finalmente os dois Estados, Roraima e Amazonas, ficarão bem servidos em seu uso. Questão de ano atrás essa mesma estrada estava tão deteriorada que tentando atravessa-la, quebrei, literalmente, um Citroen, um carro feito para boas estradas. Tive que vende-lo. Esbravejei, reclamei para todos os conhecidos, mas, todos pareciam apoiar a cronicidade com que as autoridades lidavam com estradas no Brasil, isto é, anos e anos sem nenhuma perspectiva de resolução dos problemas das vias terrestres no país. Então, com todo trecho da estrada sem buracos, sem problemas, parecia uma visão, um sonho, um estado surreal. Vim aproveitando a viagem com suas magníficas paisagens, a entrada e saída da reserva indígenas. Dentro da reserva um bando de curumins haviam derrubado cachos de buriti e iam empilhando-os na beira da estrada que na retidão infinita da estrada mostrava só mata e só céu azul sem fim, o verde e o azul e caminho retilíneo da estrada. Uma cobra, acho que uma jibóia, de uns três metros descansava, misteriosamente, na beira da rodovia me dirigindo para o outro lado da pista. Susto, mas, tudo bem. Um caminhão transportando aproximadamente umas cem toneladas, lentamente subia uma encosta e atrasava toda fila de carros que acumulava-se atrás. Na lentidão da andança fiquei imaginando o quanto benéfico era se houvesse uma fiscalização de balança, para pesar e fiscalizar melhor este abuso praticado pelos gananciosos que usam os caminhoneiros pagando-lhes para massacrarem a estrada com seus caminhões transportando além do permitido. Com a rodovia totalmente recuperada, depois de tanto tempo, a hora é de pensar-se em manutenção para a alegria dos dois Estados, ambos interessados na fluidez normal, na logística e na prosperidade Estatal, portanto, na incrementação e melhoria comercial de ambos. Com a melhoria da rodovia parece que o fluxo de carros nas cidades do caminho aumentou significativamente. Agora dá gosto viajar de um Estado ao outro o que proporciona um tráfego saudável e útil para a população. Tomara, oxalá esta disposição governamental estenda-se também para a BR-319 que liga Manaus à Porto Velho, assim restaurar-se-ia todo escoamento e entrada de produtos entre esses dois Estados, Amazonas e Rondônia. Assim seja!

domingo, 22 de abril de 2012

Alexandre Filho

Hoje é um dia muito especial para nossa família: há trinta e quatro anos nascia-nos o primogênito, nosso tesouro, nosso primeiro amor. Homem, simples porque nasceu nu, altivo porque sobreviveu às intempéries de ter nascido prematuramente e sobrevivido, humilde porque soube conduzir-se sem os louros da primogenitura. Estamos de parabéns por ter por perto tão seleto amigo e filho. Seleto porque dificilmente algum nascituro cresceria com tantos dons, com talentos sempre à disposição de quantos ele queira bem. Somos, também, gratos à Deus, nosso Pai, por todas as bênçãos que juntos recebemos através de sua vida: Grande são as tuas obras, oh! Senhor e intangíveis Teus pensamentos. Magníficos e insondáveis são Teus caminhos. Temos gratidão porque ouves nossas súplicas, respondes nossa oração, oh! Deus de Israel, ou seja Deus de Jacó. Presente sempre estás, em todos os momentos de nossa vida. Lá estava aquele ser tão pequenino, em nossas mãos, entregue a Ti, oh! Senhor do tempo e do espaço, para se tornar, hoje, um homem completo, rico em bênçãos e prodígios, louvado sejas Tu para sempre. Parabéns para você, Alexandre, Nesta data querida Muitas, mas, muitas felicidades Muitos anos de vida... São nossas esperanças, e, solidez de nossa fé, filho muito amado: Alexandre Pai, Socorrita, Natássia, Alexandre Neto, Enzo, Davi e Maysa, Gabi, Leonardo, João Gabriel, Guilherme, Manoel do Carmo e toda sua Família, Joca e Paulinho, Fátima, Dani, Neto, Rubelmar, Peta, Maria Alzira, Nahydinha, Olinto Pai e Filho, Cinara e Lucca, Marcinho e Rafaela, Humberto Michiles, que te manda um abraço, todos os teus amigos daqui e dai, serafins e anjos, alegremo-nos com toda força da alma neste dia especial, pois, há trinta e quatro anos atrás o Senhor pôs no mundo um Homem.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Angústia, clamo a Ti...

Oh! Senhor, estou cercado de lobos,
Querem cerrar seus dentes em minhas carnes,
Assombrosos são seus rostos e riem de mim,
Quem são e porque agem assim, oh! Senhor dos céus?,
Oro e não respondes, te procuro nos "amigos" e não os tenho,
O vazio se apossou de minha alma, fez-se escuro,
Uma luz, virtual, aparece,
Lá longe vejo uma luzinha, socorro bem presente na angústia,
Porque todos se afastam e riem de mim,
Dizendo, não é este que era para ser e não é,
E, agradecem a Deus por não serem como eu, impuro, mentiroso,
Desamparado por Deus, que de tanto ouvir súplicas,
Não as ouve mais.
Inclina teus ouvidos para mim, oh! Senhor,
Me dá livramento dos falsos amigos, dos malvados,
Enfim, me dê paz,
Me vitória, porque, preciso mostrar que não perdi coroa,
Ainda sou príncipe em tua casa, Oh! Senhor, Deus altíssimo...