domingo, 20 de outubro de 2019

Assim é e assim será... Temos passado por muitas coisas juntos, a vida e eu. Coisas que acabaram por consubstanciar, pesadamente o que sou hoje: um ser em procura de ser melhor dentro do que possui, aperfeiçoando os detalhes do mal, geneticamente incorporado ao corpo, e, eu, sempre buscando alternativas que amenizem a tragédia de ser humano, carregando o fardo pesado da humanidade constituída por seres que não conseguem enxergar a realidade em que vivem, o demasiado humano, desumano. Gostaria, mesmo, de me sentir em franco aperfeiçoamento, me sentindo menos mal, mais evoluído, mais sensível em termos universais, na distribuição do bem, entendido, este, como a satisfação de deixar os outros seres humanos confortáveis no entender o viver. Servidão, foi o que Jesus ensinou, procura da volta ao Éden. A vida, violenta do jeito que está em nossos dias, tornou-se nada ante os olhos do mal. Por brincadeira se provoca danos ao próximo. Lembro dos anos pueris de minha vida, começando o aprendizado do viver, nas brincadeiras de crianças, as bolas de gude, o futebol nos campinhos, sempre improvisados, canelas machucadas, raladuras, dribles, gols, xingamentos, algumas vezes, brigas. Como era bom, gostoso as amizades, a alegria do depois das partidas. Geralmente, partia-se para o jogo das petecas, bolas de gude, até perdendo era gratificante, sempre procurando ganhar na próxima. De ruim, de mal, no máximo, era a troca de socos e chutes, mas, que acabavam sempre na anulação da raiva momentânea. À noite, com as mães sentadas em confortáveis cadeiras de “macarrão” em frente às casas, conversando com vizinhas, pondo em dia as fofocas da cidade, a criançada, sem a maldade, sem a malícia dos adultos, esbaldava-se em correrias e brincadeiras sem fim, noites enluaradas, calorentas, mas, aconchegantes, noites que não deviam terminar nunca. Depois, a realidade do crescimento, o começo das responsabilidades, o colégio, professores com olhares severos, carrascos, mas, com a ternura do saber ensinar, esperançosos de forjarem melhores pessoas, pessoas mais interessadas em ser do que ter. - 8 x 4? - Eu sei, professora, era o aluno em desespero, porque na verdade não sabia. - Vamos, menino, não tenho o dia todo. Se não souber, palmatória. - Vai estudar, até saber de cor toda tabuada. E, a palmatória ensinava o que o aluno devia saber. Normalmente em outra oportunidade o aluno sabia a tabuada “na ponta da língua”. Me vejo sentado, confortavelmente, na enorme barriga de minha avó que pacientemente tentava empurrar para dentro de minha cabeça as matérias mais incompreensíveis, para mim, e, distante assim, as dificuldades apareciam muito mais. Agradeço muito a paciência dela, das professoras que me ensinaram a estudar. Enfim, a mesmice de ser adulto, carregando a vida, às vezes, com alegria, outras, totalmente triste. Considerando que muito mais da metade da vida é de tristeza ou angústia, em relação ao futuro, ao presente, pressa em dar condição de viver “Melhor” a si mesmo e aos próximos, mais tranquilidade financeira, mais ânsia de estabilidade, mais condição de não pensar na morte que se aproxima como um felino, pata ante pata, cuidando para não dar sinais de sua proximidade, e, o tempo, desastre, que não para nunca, angústia de quem pensa. Inevitável, o pensar nos prazeres, na primeira namorada, o primeiro prazer de beijar e ser beijado, se sentir feliz, o prazer de relação, o prazer de poder contar com alguém, prazer de simplesmente compreender que é um ser mortal, que nada é para sempre. E, aos sessenta e sete anos a vontade de continuar no rio que nunca para, de estar sempre à disposição da vida, mesmo aquela vivida de uma forma cheia de erros, passível de perdão, mas, também, uma cheia de acertos, uma pequena felicidade no longo talvegue do rio caudaloso da vida. Assim é, assim será.