segunda-feira, 22 de junho de 2009

As estradas da vida.

O ar frio da madrugada batia-me nas faces e me deixava completamente mais alerta. O escuro era denso, talvez, por ser ainda muito cedo na manhã, mas, no horizonte uma linha vermelha anunciava a chegada ou o aparecimento do sol, esse grande astro que é responsável, em grande parte, pela manutenção da vida em nosso planeta.

Agora, o sol castiga a minha vista atrapalhando a concentração da direção. A retidão da estrada, sem fim, dá uma vontade de correr mais, talvez, para que chegue logo ao destino. Uma onça pequena ou um gato maracajá, perseguindo uma pequena espécie de coelho, roedor, atravessam a pista numa enorme velocidade, em uma perseguição que não sei como terminou, mas, me lembrou que a violência pela sobrevivência está em todo lugar. Não houve mudança na vida desde seu aparecimento na terra. Os mais fortes e mais fracos, uns atacando e outros se defendendo, num círculo sem fim buscam um modo de sobreviver, uns sendo predadores dos outros.

Do lado direito da estrada visualizo uma das inúmeras fazendas, na grande savana, como todas as outras, num descampado, onde literalmente não há árvores, somente o pasto, imenso, a ponto de se perder de vista lá no horizonte. Observo, também, que em alguns quilômetros, há o que chamamos de estradas vicinais, caminhos que levam a outros lugares, saindo ou nascendo das estradas principais. É como a vida. A minha vida. A vida de todos nós seres humanos. Há a estrada principal, aquela que seguimos infinitamente e também os desvios, as vicinais da vida, caminhos que levam o homem noutras direções, para lugares que deviam prosperar, como na estrada principal, sua vida. Quando não dá certo, as vicinais se tornam tormentos, estradas que não levam a lugar algum. Há que voltar, fazer a curva e voltar, e, começar de novo.

Um mico leão, atrapalhado pelo ronco do motor do carro, mais veloz que um raio, seguido por mais outros, talvez, sua família, passa na frente do carro e desaparece na escuridão da floresta marginal à estrada. Os pássaros cantam, gorjeiam e os gritos dos macacos pregos e pretos se fazem ouvir. Que equilíbrio fantástico este, penso. Lá ao longe vejo o brilho do sol refletido no vidro de um carro que está vindo. Uma casa, de algum caboclo, de madeira, embaixo de uma enorme mangueira, com sua sombra convida-me a parar para descanso, mas, não posso parar, e, então acelero mais o carro. Olho para os lados e vejo fascinado as imensas fazendas, com seus enormes campos, afastando mais para longe a vida dos animais, para dentro das florestas. Eles são afugentados pelo progresso. Quilômetros e quilômetros de extensão e de profundidade, acuando os bichos para mais longe, determinando uma possibilidade de suas extinções, ou por caça ou por um habitat completamente destruído, diferente daquele que era, negando-lhes a vida normal.

Que estradas estas, as principais, que em nome do progresso nos leva a lugar algum, porque, os animais, seus habitantes, acabam por nos legar uma vida, por desorganização, sem dúvida alguma, mais pobre e mais culpada em relação à sobrevivência nossa de cada dia, e, a do planeta também.

sábado, 20 de junho de 2009

Tempos atrás.

Sentado na varanda de meu apartamento e olhando o movimento dos carros, lá embaixo, na avenida, enfileirados em um congestionamento sem fim com os motoristas loucos para chegarem em suas casas, buzinando e gritando, uns com os outros, vindos dos trabalhos, me fizeram nostalgicamente recordar dos tempos quando ainda era possível dormir-se com as janelas da casa abertas, em segurança total, sem essa confusão infernal dos gritos tanto dos motoristas quanto dos motores dos carros, a lembrar-nos que o desenvolvimento tão querido cobra um preço alto.

Nasci em Manaus, no ano de 1952, em junho, mês dos namorados e enamorados, dos cheios de vida e de esperanças e também dos que dão créditos aos outros, e, talvez, por essas características um sofredor, porém, pessoas que se dão, se doam. Era governador do estado Álvaro Botelho Maia, entre coisas também era escritor dos bons. Lembro de um dos seus livros de minha infância, Banco de Canoa, com um fim alegre, pois, os protagonistas, sentados em um dos bancos da praça de S. Sebastião, de mãos dadas, relembram a vida passada, ligeira como a correnteza do rio, cheia de acidentes, cheia de vida apesar do pai da moça ter mandado capar o rapaz, agora um senhor. Sentados no banco da praça, como ele estivera no banco da canoa, sangrando, colocado ali pelos homens do seu ex-futuro sogro, e, a canoa descendo rio abaixo, como a dizer que a vida continua.

A enchente de hoje é muito parecida com a de 1953. Tinha um ano de idade, mas, ecoa a história contada por meu pai, da água subindo até o relógio municipal. As ruas perto das águas completamente inundadas. A pequena população espantada com o fenômeno. Às vezes a força do Solimões é muito maior que a do Rio Negro e então, há esse represamento nas águas do Rio Negro e lógico elas sobem mais. Bom, talvez, não seja esta a explicação científica, mas, para mim basta saber que os gigantes se encontram e se empurram e ninguém vence.

Manaus, porto de lenha, como quer Torrinho, sorria para o mundo, agora, nesta época, nem tanto, pois, a borracha despencara seu preço no mercado internacional, mas, ainda sorria, brejeira no seu provincionalismo, com seus igarapés ainda puros e frios a correr nos seus leitos, alimentando os sonhos e alegria, nos fins de semana, das pessoas, e, principalmente da molecada que os usavam freqüentemente, para brincadeiras de toda espécie e que também servia de descanso para os mais velhos. Esses riachos eram próximos a cidade. O parque dez era um desses. Íamos sabendo que suas águas eram benéficas, no sentido de não estarem poluídas e ainda guardarem a composição perfeita para os habitantes se deliciarem saudavelmente nelas, e, o entorno das águas servindo a todo tipo de lazer, como voleibol, futebol principalmente.

Ainda existiam algumas empresas francesas e inglesas no centro da cidade. A calmaria era, com certeza, muito boa para a vida, juntamente com a arquitetura européia da cidade, as famílias ainda se conhecendo, umas às outras, dava certo relaxamento mental. As senhoras sentavam-se nas portas das casas e conversavam animadamente até horas adentro na noite, trocando idéias, informações, olhando as crianças a bom se esbaldarem nas correrias e brincadeiras. Tempos atrás, tempos bons que foram e não voltam mais. O tempo continua correndo no seu próprio leito, como o rio, sem parar.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

O Concílio de Nicéia.

Reli artigos e notas sobre o concílio de Nicéia e acabei ficando extremamente triste, tal a intensidade que a releitura imprime em quem está relendo. Jorge Luis Borges, meu poeta favorito, ao lado de Neruda, diz em algum lugar que é melhor reler que ler, mas, para reler é necessário ter lido antes. Assim, considerei ângulos ou visão que não tinha ou observado ou não dado a devida importância a alguns fatos implícitos ou explícitos nos textos. O que é descrito me causou tanto desconforto espiritual que tenho por obrigação moral, essa individual, que quer queiramos ou não nos guia a vida, de rever meus conceitos em relação a alguns pontos fundamentais na vida cotidiana dos cristãos.
Em 19 de junho de 325, portanto neste mesmo mês no qual estamos, o concílio teve efeito com a presença maciça dos cardeais e bispos e diáconos vindos de toda a parte da terra, do mundo romano. O império romano começava a apresentar descontinuidade em muitos territórios ocupados e algumas dissensões ameaçavam o sistema. Transcrevo um trecho de idéias nitidamente ariano e que de qualquer maneira serve para reflexão e esta é a intenção tanto para mim quanto a todos que de bom censo aceitam como verdadeiras todas as obras da igreja:
“Porém, Constantino, estadista sagaz que era, inverteu a política vigente, passando, da perseguição aos cristãos, à promoção do Cristianismo, vislumbrando a oportunidade de relançar, através da Igreja, a unidade religiosa do seu Império. Contudo, durante todo o seu regime, não abriu mão de sua condição de sumo-sacerdote do culto pagão ao "Sol Invictus". Tinha um conhecimento rudimentar da doutrina cristã e suas intervenções em matéria religiosa visavam, a princípio, fortalecer a monarquia do seu governo. Na verdade, Constantino observara a coragem e determinação dos mártires cristãos durante as perseguições promovidas por Diocleciano, em 303. Sabia que, embora ainda fossem minoritários ( 10% da população do império ), os cristãos se concentravam nos grandes centros urbanos, principalmente em território inimigo. Foi uma jogada de mestre, do ponto de vista estratégico, fazer do Cristianismo a Religião Oficial do Império : Tomando os cristãos sob sua proteção, estabelecia a divisão no campo adversário. Em 325, já como soberano único, convocou mais de 300 bispos ao Concílio de Nicéia. Constantino visava dotar a Igreja de uma doutrina padrão, pois as divisões, dentro da nova religião que nascia, ameaçavam sua autoridade e domínio. Era necessário, portanto, um Concílio para dar nova estrutura aos seus poderes. E o momento decisivo sobre a doutrina da Trindade ocorreu nesse Concílio. Trezentos Bispos se reúnem para decidir se Cristo era um ser criado ( doutrina de Arius ) ou não criado, e sim igual e eterno como Deus Seu Pai ( doutrina de Atanásio ). A igreja acabou rejeitando a idéia ariana de que Jesus era a primeira e mais nobre criatura de Deus, e afirmou que Ele era da mesma "substância" ou "essência" ( isto é, a mesma entidade existente ) do Pai. Assim, segundo a conclusão desse Concílio, há somente um Deus, não dois; a distância entre Pai e Filho está dentro da unidade divina, e o Filho é Deus no mesmo sentido em que o Pai o é. Dizendo que o Filho e o Pai são "de uma substância", e que o Filho é "gerado" ("único gerado, ou unigênito", João 1. 14,18; 3. 16,18, e notas ao texto da NVI), mas "não feito", o Credo Niceno, estabelece a Divindade do homem da Galiléia, embora essa conclusão não tenha sido unânime. Os Bispos que discordaram, foram simplesmente perseguidos e exilados. Com a subida da Igreja ao poder, discussões doutrinárias passaram a ser tratadas como questões de Estado. E na controvérsia ariana, colocava-se um obstáculo grande à realização da idéia de Constantino de um Império universal que deveria ser alcançado com a uniformidade da adoração “
É claro que a igreja como instituição, partir daquele momento, fortalecida pela leitura política dos bispos e com apoio incondicional do imperador temeroso de não poder mais dominar os territórios dominados e a própria Roma, tinha e tem que dar sustentação sólida para tais argumentos, como o da deidade de Jesus, o Espírito Santo, enfim, a Trindade, o cânone bíblico e tantos outros pontos de base do que formaria os dogmas da igreja de hoje, com toda a complexidade humana envolvida.
Ora, a crença é questão de fé, não de sustentação científica. Não há o que provar, não há porque lutar, brigar por idéias que não levam a nada. Jesus de fato existiu, e, tão poderosa foi sua passagem no mundo que acabou por dividir as épocas em antes e depois Dele. Tão diferente, tão sublime, em suas mensagens que tanto faz ter sido gerado ou criado, pois, representa o centro de ligação, ou o protótipo platônico de Deus na terra, nesta imensa vontade humana de querer ver e conhecer melhor sua divindade. Ele é Ele, na essência, pois, o conceito que O envolve é o mesmo de Deus, com todo mistério, com toda ansiedade humana, com todo poder, mas, ao mesmo tempo tão palpável nas vidas de quem tem fé.
“ Ame seu próximo como a ti mesmo...”
“ Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto viverá ...”
Simplesmente creia, tenha fé e firmeza que Deus existe e que está presente em nossas vidas.
Maranata, Senhor.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

O céu e o inferno.

Fui criado na mais pura doutrina batista, pois, desde o ventre minha mãe me carregava, já com alguma dificuldade nos últimos meses de gravidez, para os cultos dominicais e quarta-feirais da Primeira Igreja Batista do Amazonas. Cresci ouvindo e sedimentando idéias doutrinárias sobre a principal, o cerne da pregação cristã que é o céu e o inferno, pois, se postula que aqueles que aceitam Jesus como seu único salvador já está no céu, mas, aqueles que não crêem assim certamente estariam no inferno. Desde pequeno uma pergunta martela na minha mente. Se for assim, como pode o homem simples optar por não ir para o céu, pois, somente uma confissão o levaria a termo? Haveria capacidade de escolha, nesta imposição terrível, onde o homem somente teria racionalmente um único caminho, este de ir para céu, pois, creio que ninguém gostaria de ir para o inferno, tal qual descrito na tradição? Fico imaginando quão simples é o fato de praticamente não ter o que escolher, entre as duas alternativas, o inferno, mas, contraditoriamente o que se viu ao longo da história cristã é que houve, na consciência coletiva do homem, por não se concretizar nada de mal para os maus e, às vezes nada de bom para os bons, um caminho de escolha, imposto pelas vicissitudes da vida, inverso ao da lógica. O sol continua a se pôr tanto para os maus como para os bons, como diz o salmista, e, neste sentido contribuindo para que a escolha humana seja, na hora da tormenta, um clamor aos céus, e, na bonança uma terrível indiferença sobre assuntos espirituais, e, a vida vai passando cheia de erros, humanamente falando, quase sem acertos, resultando mais em massacres ou infelicidades do que alegrias ou felicidades, o que significa que o homem continua apesar de todos os avisos que a matéria nos dá acerca de sua finitude, como o aquecimento global, mudanças climáticas radicais, tsunamis, terremotos, fome, guerras sem lógica alguma, queda de aviões, etc, continua a ser o mais violento predador, sem limites, dele mesmo, transformando o mundo num verdadeiro inferno.

Fico pensando nos terríveis dogmas deixados para nós, através dos séculos, que nos gerenciam, vindos de uns antepassados muito inteligentes, presentes tanto na mitologia grega quanto na dos romanos, com suas glórias e poderes, a vida e nos levam em nome de uma verdade, que não é, no fundo, tão verdadeira, pois, se olharmos as condições de pressão social que existe nos chamados maus, que espécie de livre arbítrio poderia haver para eles? Que tipo de redenção haveria para quem não pode fazer escolha, pois, direcionados para o lamaçal da transgressão? Onde está a pureza da pregação de Jesus? Onde estão os bons? Onde está a verdade?

Gostaria de ter a visão clara, límpida, espiritual de Jesus, mas, infelizmente, não a tenho. Uma coisa é certa, da pregação do Amor fica a mensagem de esperança de que há uma chance para o homem sobreviver às intempéries espirituais, que é a mais importante, numa dimensão onde as moléculas não sejam mais tão densas, tão corruptíveis, onde a corrupção não exista mais e talvez haja uma chance para todos humanos bons ou maus, onde o Amor prevaleça sempre e finalmente haja paz, com corpos e consciências purificados, incorruptíveis, diante do mais puro e mais santo dos santos que é nosso Deus, aquele que é sobre todos os outros, porquanto, é incorruptível e eterno Verbo, retroalimentado o sistema como todo, e, a ele mesmo infinitamente. Assim bem vindo ao Céu, com nosso Senhor.

Maranata, Senhor.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Racionalismo Cristão.

O racionalismo moderno, este que vivemos agora, em 2009, amadurecido por tantas decepções nas áreas que poderiam ser apresentadas como verdadeiras, e, que não têm dado resposta satisfatória ao simples anseio da existência, como a religião, considerando religião a busca incessante do homem da eternidade, felicidade, conhecimento, poder, estabilidade, ânsia de comunicação com o que aparentemente não existe, enfim, um querer conhecer-se, sem que os caminhos até agora traçados representem nenhuma resposta à angústia do homem, de ser somente humano, criatura ou não, simplesmente um animal extremamente predador e que egoisticamente não concebe outra forma de vida que não aquela que derrota tudo que está à sua volta, em nome de um conforto e do poder sentir-se o centro da criação, idéia refutada, acertadamente por Darwin em sua Origem das Espécies. A religião, principalmente a cristã, é responsável por esta visão caótica e desgraçadamente potencializa a idéia marxista da alienação em Marx, onde o ser cria um outro, imaginário, forte, poderoso, criado para proteger, dá-lhe ou outorga-lhe poderes que ele mesmo não tem e faz com que este novo ser se volte contra ele, nas mais variadas formas, maltratando-o e castigando-o, por isso, sempre relacionando o que a igreja, criada como forma de implante de uma idéia de troca com este ser, convencionou chamar de pecado, ou a transgressão ético-moral da raça. Entende-se que a ética não transmuta com os tempos e que a moral pode ser vista se adequando através das gerações humanas. Que ética é esta que sedimentada através de milhões de existência do homem, como ser, na terra é considerada inerente ao homem, isto é, impregnada na placa genética e passada de geração em geração. Quero dizer que não acredito nesta inerência ética, portanto, crê-se que a sociedade depois de organizada, passo a passo, na história, em se organizando, gerou códigos que aí sim viajam através dos séculos. Nessa condição vê-se a criação de um monstro horrível, dissociado de tudo que é de bom e que a sobrevivência eclesiástica chama de deus. Não há Deus nesta pregação. Há organização social canalizando interesses.

Deus é o Eu sou, de Moisés, algo que em muito suplanta a simples expressão tão banalizada e tratada com tanta intimidade que alguns acham que têm falando com deus sendo sua voz e seu cutelo. Bramam gritando que o inferno isso, que o céu aquilo. Dão bênçãos vazias, porque não há libertação da morte, nem de doenças, pelo menos por enquanto, e, chamam de bênçãos, de proteção divina. Na verdade, hoje se observa um enorme efeito placebo agindo na consciência coletiva, de maneira paliativa, dando continuidade ao verdadeiro massacre que o homem inflige a ele mesmo. Deus é algo assim como um Ser inatingível, sem necessidade alguma dos antropomorfismos que as igrejas, sejam quais forem, estão acostumadas a pregarem. Deus é o Deus desconhecido dos gregos, é simplesmente Deus, em quem a nossa compreensão não alcança. Não podemos racionalizar o que não temos como, pois, a matéria limita em muito o ser humano. Não podemos criar normas e dogmas interesseiros, não precisamos disso para viver e buscar o ser feliz. Precisamos só saber que independente de nossas vontades ocorreu no tempo e no espaço, do que se chama História, algo maior que nossa compreensão e que clama por um “aproch” do tema muito mais leve, como a cruz, dita por Jesus, para que possamos “tomar nossas cruzes”, sem termos a necessidade, pelo menos superficial, de vendermos imagem, isto é, vivermos personagens que não somos, só para dizermos aos outros o quanto somos importantes no Universo. Talvez, nesta perspectiva, encontremos mais amor, mais compaixão real, mais ternura, mais tempo para os outros, menos para o capital, mais para si mesmo, e, que no todo se chama Deus, onde não há normas, nada que breque a condição de ser filho de Deus, pois, todas as leis naturais seriam respeitadas e não teríamos a morte de nós como seres espirituais, e, nem da terra como planeta, nem do universo material. Dentro desse racionalismo, necessitante de fé, clamamos por um Deus real, palpável, como na convicção do salmista:

- Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos.

Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite.

Não há fala, nem palavras; não se lhes ouve a voz.

Por toda a terra estende-se a sua linha, e as suas palavras até os confins do mundo.

Não precisamos de sermos massacrados por medos, culpas que não nos dizem respeito, pelo simples fato de pertencermos à raça humana, Deus está no comando, a criação ainda não terminou, ainda vai completar-se.

Maranata, Senhor.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Chuva Branca.

A cidade hoje acordou sob um imenso chuveiro. A chuva de tão intensa não permitia ver sequer do outro lado da rua. Lembrei-me imediatamente do livro “ Chuva Branca” do saudoso Paulo Jacob, onde a chuva é descrita como uma capa tão densa que não permite ao caboclo ver a uma pequena distância, então, o instinto manda-o aportar seu barco em qualquer lugar que lhe dê um mínimo de segurança. Lá ele fica até a tormenta passar.

Lembrei-me, quase de imediato, de um dia na Costa do Catalão, já passado o encontro das águas, onde o Negro teima em adentrar no Solimões, e, vice versa, sem sucesso algum, de um temporal, sem aviso algum, e, de um “toró” intenso, caracterizando a tal chuva, e, sem dar tempo de defesa ao comandante do braço. As ondas enormes pareciam querer engolir, literalmente, a pequena nau e a chuva não permitia fazer-se um prognóstico satisfatório em qualquer direção. Os olhos atentos e experientes do comandante, seu instinto de preservação da raça, nos levaram a uma travessia segura, porém, muito angustiante com as enormes ondas jogando o barco de um lado para outro, para cima e para baixo, às vezes em uma altura de três a quatro metros acima da superfície. Todos encolhidos sentados em bancos ou no chão, pedíamos a Deus, cada um em seu jeito, que nos concedesse a graça de terminarmos a atravessia ilesos. Tínhamos em mente os perigos que o rio enfurecido pelos ventos e pela chuva, nos ofertava. Sabíamos que assim como nós outros barcos não estavam vendo um palmo à frente, o que poderia ocasionar uma trombada de um barco no outro. Também que poderíamos ser atingidos por grandes troncos de árvores, produtos do fenômeno da terra caída, às vezes, esses troncos ficam submersos e mesmo com uma límpida visão não é possível vê-los, ocasionando um real perigo para o barco, pois, ele se encontra submerso em posição vertical, e, quando abalroado desce, afundando e sobe numa velocidade estúpida, normalmente, causando perfuração no barco que dependendo desta abertura pode até naufragar.

- Oh! Deus ajuda-nos. Era o clamor geral.

Os ventos, às vezes, nossos amigos diminuíram a velocidade amenizando a superfície da água, também, afastaram as nuvens de chuva, aumentando sensivelmente a visibilidade, e, então respiramos aliviados. Umas pequenas ondas, marolas, ficam apenas para lembrar a fortaleza e valentia do grande rio.

Olho para fora de minha varanda, situada no décimo sexto andar do prédio e vejo que a chuva amenizou tanto quanto a daquele dia que acabo de descrever. Lá longe consigo ver uma faixa cinza, talvez das nuvens de chuva indo embora. Observo a copa das árvores, vistas de cima, mais verdes e viçosas. Nenhum pássaro no céu, sinal de que estão desconfiados de que a chuva possa voltar. Só o barulho enfadonho dos motores dos carros passando lá embaixo me lembra que este é um dia normal. A chuva foi-se, levando de enxurrada a nostalgia e mostrando a face do incessante trabalho dos humanos. Corre-corre desenfreado parece até o rio correndo sem freios, atropelando e derrubando tudo que vê pela frente em sua correnteza sem normas, só interessando chegar lá.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Quando o Amor esfriar.

Nesse tempo muitos hão de se escandalizar, e trair-se uns aos outros, e mutuamente se odiarão.

Igualmente hão de surgir muitos falsos profetas, e enganarão a muitos;

e, por se multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos esfriará.

Será que o amor vai esfriar a ponto de acontecer isto que Jesus disse aos discípulos? Estou perguntando por que nunca se ouviu falar tanto em amor, principalmente no pós-guerra, esta geração tão revolucionária.

- Faça amor e não guerra.

- Amizade colorida.

- O casamento já era, bicho.

- Faça amor não criança.

- O amor é livre.

- Não às guerras.

- Não à violência.

- Etc...

Os costumes, a vida, o corte de cabelo, as roupas, as unhas, o modo de falar, os sapatos, as músicas, o desafio, o dizer não, a honestidade, a fidelidade, os conceitos de honra e moral, ética, todas as relações, foram e continuam a ser tônica para a busca da felicidade questionada a partir das idéias e ações dos pais. Não era mais possível a desonestidade, a infidelidade, a corrupção velada, o que contava agora era a capacidade das pessoas dizerem para si mesmas o que estavam sentindo, vendo e esperando umas das outras. A verdade e felicidade transformariam o mundo, na era de aquário, onde tudo era mais sólido, mais franco e mais aberto. Mudanças profundas, provocadas pelo novo designem de vida, acarretariam em novos rumos para a humanidade. Na verdade o que se viu e se observou com o tempo, é que todo este anseio ficou resumido assim numa música de Belchior:

- O que dói é sabermos que apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais.

Era o fim do sonho de sermos autênticos, de podermos gerir o nosso próprio destino. A corrida que se desenvolveu a partir de então foi de buscarmos um crescimento individual baseado numa venda de imagem forte, independente, capaz de romper as grandes estruturas inclusive financeiras do mundo. E, foi assim. Os jovens da geração seguinte são mais rápidos, mais belos, mais capacitados, mais inteligentes, mais desprovidos de amor real, porque, a idéia de família, de agrupamento social, da sociedade voltada para o próprio homem, se dispersou na procura incansável da felicidade. A individualidade tornou-se o centro das relações. A tecnologia rapidamente atingiu patamares nunca antes visto, dando às pessoas condições de melhoria de vida muito maior. As técnicas e serviços avançaram tanto que é possível hoje em quase toda parte do mundo fazer compra e venda de produtos, insumos, serviços, sem se sair do lugar. O aparecimento da internet, a compreensão de que há uma retilineidade no mundo, isto é, se vende, compra, se opera cirurgicamente uma pessoa, fora do lugar onde se está, dá uma espécie de divindade ao homem e isto é o seu fim. O egoísmo mundial, individual leva o homem a desvios de conduta acentuadamente doentia. O caso do Iraque é o mais comum. A nação EUA, indivíduo, no contexto das nações do mundo, sem dúvida arbitrariamente invade, mata num momento de extremo “paternalismo”, em nome da paz mundial, um país autônomo, independente. Será que esta era a intenção real? Fizeram assim com seus índios, com suas matas e campos e por serem fortes militarmente dizem aos outros pequenos países do mundo todo, o que fazer, não matem seus índios, nem destruam suas florestas, porquanto a água, e a cultura dos ancestrais estão morrendo, o planeta está morrendo, por isso nós os proibimos de fazer assim. E em níveis individuais, de pessoa para pessoa é comum, por exemplo, você ouvir alguém dizer que os índios devem morrer, pois, estão atrapalhando a vida, o desenvolvimento de determinada área, e, até de estados e países, e, para que se guardar ou preservar as florestas se elas são desmatadas todo tempo se a natureza acha um meio de sobreviver. O amor está esfriando tanto os corações das pessoas quanto o planeta, aquecendo outras áreas que não podem morrer, como a ânsia desesperada de relacionamento com Deus, no entanto, no correr da vida se endeusam e querem vender uma imagem de santos, quando na verdade são sepulcros caiados, continuam deixando de amar para se fazer melhor que os outros, sendo mais ambiciosos, mais ricos, e, cada vez mais longe do Reino que virá.

Maranata. O caminho é esse.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Enzo, Feliz Aniversário.



Hoje, dia quatro de junho, é o dia do aniversário do Enzo, meu neto do meio. É uma data muito importante para mim, pois, esse pequerucho me deu a oportunidade de na época ser avô pela segunda vez. Hoje, cinco anos depois sinto-me honrado de ser seu avô, pois, cada dia que passa ele revela-se uma pessoa importante no mundo, principalmente aquele onde os outros garotos e garotas orbitam ao seu redor, pois, onde chega sua capacidade de fazer amizade é logo manifesta. Quando entra em um ambiente imediatemente é notado e se tem crianças essas logo dele se aproximam e começam a brincar, esse diálogo fantástico do mundo das crianças. Na escola é amado e querido por seus pares, produto da comunicação nata, dom de Deus em sua vida.
Não faz muito tempo, tive de ficar com os dois meninos, filhos de Alexandre e Natássia, pai e mãe, respectivamente, tomando conta deles no dia a dia, para que os pais fossem a São Paulo. Foram dias muito especiais aqueles, pois, de manhazinha, todas as manhãs, tinha que levá-los à escola e como sempre, ia aprontando o Enzo no carro. Depois de estacionar o carro, com Enzo super grudado no meu ombro, bem agarradinho, com a cabecinha descansando no meu ombro, levava-o até sua sala. Era automático. Quando chegava em frente a sala ele deslizava pelo meu corpo até o chão e caminhava até a porta da sala e entrava com passos firmes. Todos os dias foram assim e me deram essa rara oportunidade de sentir a continuidade do amor, tão reconfortante.
Agradeço a Deus, todos os dias, por todos os momentos que já vivi, junto, primeiramente com meus filhos, e, agora com os netos e neste dia tão especial, particularmente, com o Enzo com o qual vivo e espero viver outros tão bons momentos como esses que vivenciamos juntos nestes cinco anos, desde seu nascimento até agora. Espero que o tempo não desbote, tanto o sentimento quanto a íntima capacidade de afeto demonstrada quando o chamo:
- Meu catiricotorucutuco, uma forma sintetizada e simples de dizer:
ENZO, TE AMO, PARA SEMPRE.