quinta-feira, 18 de junho de 2009

O Concílio de Nicéia.

Reli artigos e notas sobre o concílio de Nicéia e acabei ficando extremamente triste, tal a intensidade que a releitura imprime em quem está relendo. Jorge Luis Borges, meu poeta favorito, ao lado de Neruda, diz em algum lugar que é melhor reler que ler, mas, para reler é necessário ter lido antes. Assim, considerei ângulos ou visão que não tinha ou observado ou não dado a devida importância a alguns fatos implícitos ou explícitos nos textos. O que é descrito me causou tanto desconforto espiritual que tenho por obrigação moral, essa individual, que quer queiramos ou não nos guia a vida, de rever meus conceitos em relação a alguns pontos fundamentais na vida cotidiana dos cristãos.
Em 19 de junho de 325, portanto neste mesmo mês no qual estamos, o concílio teve efeito com a presença maciça dos cardeais e bispos e diáconos vindos de toda a parte da terra, do mundo romano. O império romano começava a apresentar descontinuidade em muitos territórios ocupados e algumas dissensões ameaçavam o sistema. Transcrevo um trecho de idéias nitidamente ariano e que de qualquer maneira serve para reflexão e esta é a intenção tanto para mim quanto a todos que de bom censo aceitam como verdadeiras todas as obras da igreja:
“Porém, Constantino, estadista sagaz que era, inverteu a política vigente, passando, da perseguição aos cristãos, à promoção do Cristianismo, vislumbrando a oportunidade de relançar, através da Igreja, a unidade religiosa do seu Império. Contudo, durante todo o seu regime, não abriu mão de sua condição de sumo-sacerdote do culto pagão ao "Sol Invictus". Tinha um conhecimento rudimentar da doutrina cristã e suas intervenções em matéria religiosa visavam, a princípio, fortalecer a monarquia do seu governo. Na verdade, Constantino observara a coragem e determinação dos mártires cristãos durante as perseguições promovidas por Diocleciano, em 303. Sabia que, embora ainda fossem minoritários ( 10% da população do império ), os cristãos se concentravam nos grandes centros urbanos, principalmente em território inimigo. Foi uma jogada de mestre, do ponto de vista estratégico, fazer do Cristianismo a Religião Oficial do Império : Tomando os cristãos sob sua proteção, estabelecia a divisão no campo adversário. Em 325, já como soberano único, convocou mais de 300 bispos ao Concílio de Nicéia. Constantino visava dotar a Igreja de uma doutrina padrão, pois as divisões, dentro da nova religião que nascia, ameaçavam sua autoridade e domínio. Era necessário, portanto, um Concílio para dar nova estrutura aos seus poderes. E o momento decisivo sobre a doutrina da Trindade ocorreu nesse Concílio. Trezentos Bispos se reúnem para decidir se Cristo era um ser criado ( doutrina de Arius ) ou não criado, e sim igual e eterno como Deus Seu Pai ( doutrina de Atanásio ). A igreja acabou rejeitando a idéia ariana de que Jesus era a primeira e mais nobre criatura de Deus, e afirmou que Ele era da mesma "substância" ou "essência" ( isto é, a mesma entidade existente ) do Pai. Assim, segundo a conclusão desse Concílio, há somente um Deus, não dois; a distância entre Pai e Filho está dentro da unidade divina, e o Filho é Deus no mesmo sentido em que o Pai o é. Dizendo que o Filho e o Pai são "de uma substância", e que o Filho é "gerado" ("único gerado, ou unigênito", João 1. 14,18; 3. 16,18, e notas ao texto da NVI), mas "não feito", o Credo Niceno, estabelece a Divindade do homem da Galiléia, embora essa conclusão não tenha sido unânime. Os Bispos que discordaram, foram simplesmente perseguidos e exilados. Com a subida da Igreja ao poder, discussões doutrinárias passaram a ser tratadas como questões de Estado. E na controvérsia ariana, colocava-se um obstáculo grande à realização da idéia de Constantino de um Império universal que deveria ser alcançado com a uniformidade da adoração “
É claro que a igreja como instituição, partir daquele momento, fortalecida pela leitura política dos bispos e com apoio incondicional do imperador temeroso de não poder mais dominar os territórios dominados e a própria Roma, tinha e tem que dar sustentação sólida para tais argumentos, como o da deidade de Jesus, o Espírito Santo, enfim, a Trindade, o cânone bíblico e tantos outros pontos de base do que formaria os dogmas da igreja de hoje, com toda a complexidade humana envolvida.
Ora, a crença é questão de fé, não de sustentação científica. Não há o que provar, não há porque lutar, brigar por idéias que não levam a nada. Jesus de fato existiu, e, tão poderosa foi sua passagem no mundo que acabou por dividir as épocas em antes e depois Dele. Tão diferente, tão sublime, em suas mensagens que tanto faz ter sido gerado ou criado, pois, representa o centro de ligação, ou o protótipo platônico de Deus na terra, nesta imensa vontade humana de querer ver e conhecer melhor sua divindade. Ele é Ele, na essência, pois, o conceito que O envolve é o mesmo de Deus, com todo mistério, com toda ansiedade humana, com todo poder, mas, ao mesmo tempo tão palpável nas vidas de quem tem fé.
“ Ame seu próximo como a ti mesmo...”
“ Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto viverá ...”
Simplesmente creia, tenha fé e firmeza que Deus existe e que está presente em nossas vidas.
Maranata, Senhor.

Um comentário:

  1. Adentrar nos meandros das imposiçÕes humanas que influenciaram os dogmas da igreja, é uma assunto complicado. Mas se pensarmos no fato que DeuS é soberano e faz o que lhe apraz, Ele usará até essas intervençÕes humanas para dirigir os rumos de Sua Vontade, preservando os textos, as traduções, os copista, os intérpretes, e os líderes da igreja que compuseram os grandes concílios, tudo carreando para cumprir Seu Propósito Eterno.

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