sábado, 20 de junho de 2009

Tempos atrás.

Sentado na varanda de meu apartamento e olhando o movimento dos carros, lá embaixo, na avenida, enfileirados em um congestionamento sem fim com os motoristas loucos para chegarem em suas casas, buzinando e gritando, uns com os outros, vindos dos trabalhos, me fizeram nostalgicamente recordar dos tempos quando ainda era possível dormir-se com as janelas da casa abertas, em segurança total, sem essa confusão infernal dos gritos tanto dos motoristas quanto dos motores dos carros, a lembrar-nos que o desenvolvimento tão querido cobra um preço alto.

Nasci em Manaus, no ano de 1952, em junho, mês dos namorados e enamorados, dos cheios de vida e de esperanças e também dos que dão créditos aos outros, e, talvez, por essas características um sofredor, porém, pessoas que se dão, se doam. Era governador do estado Álvaro Botelho Maia, entre coisas também era escritor dos bons. Lembro de um dos seus livros de minha infância, Banco de Canoa, com um fim alegre, pois, os protagonistas, sentados em um dos bancos da praça de S. Sebastião, de mãos dadas, relembram a vida passada, ligeira como a correnteza do rio, cheia de acidentes, cheia de vida apesar do pai da moça ter mandado capar o rapaz, agora um senhor. Sentados no banco da praça, como ele estivera no banco da canoa, sangrando, colocado ali pelos homens do seu ex-futuro sogro, e, a canoa descendo rio abaixo, como a dizer que a vida continua.

A enchente de hoje é muito parecida com a de 1953. Tinha um ano de idade, mas, ecoa a história contada por meu pai, da água subindo até o relógio municipal. As ruas perto das águas completamente inundadas. A pequena população espantada com o fenômeno. Às vezes a força do Solimões é muito maior que a do Rio Negro e então, há esse represamento nas águas do Rio Negro e lógico elas sobem mais. Bom, talvez, não seja esta a explicação científica, mas, para mim basta saber que os gigantes se encontram e se empurram e ninguém vence.

Manaus, porto de lenha, como quer Torrinho, sorria para o mundo, agora, nesta época, nem tanto, pois, a borracha despencara seu preço no mercado internacional, mas, ainda sorria, brejeira no seu provincionalismo, com seus igarapés ainda puros e frios a correr nos seus leitos, alimentando os sonhos e alegria, nos fins de semana, das pessoas, e, principalmente da molecada que os usavam freqüentemente, para brincadeiras de toda espécie e que também servia de descanso para os mais velhos. Esses riachos eram próximos a cidade. O parque dez era um desses. Íamos sabendo que suas águas eram benéficas, no sentido de não estarem poluídas e ainda guardarem a composição perfeita para os habitantes se deliciarem saudavelmente nelas, e, o entorno das águas servindo a todo tipo de lazer, como voleibol, futebol principalmente.

Ainda existiam algumas empresas francesas e inglesas no centro da cidade. A calmaria era, com certeza, muito boa para a vida, juntamente com a arquitetura européia da cidade, as famílias ainda se conhecendo, umas às outras, dava certo relaxamento mental. As senhoras sentavam-se nas portas das casas e conversavam animadamente até horas adentro na noite, trocando idéias, informações, olhando as crianças a bom se esbaldarem nas correrias e brincadeiras. Tempos atrás, tempos bons que foram e não voltam mais. O tempo continua correndo no seu próprio leito, como o rio, sem parar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário