sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Tênis de Quadra

Acordei atinando com a possibilidade de voltar a jogar tênis de quadra, meu esporte preferido. Faz algum tempo que não jogo. Lá está, na parede, pendurada, a raquete, companheira de bons exercícios. Lembro exatamente do último uso. Era um sábado e à noitinha, por volta das seis, com o vermelho do pôr-do-sol amazonense marcando os telhados dos prédios do distrito industrial de Manaus, cheguei à quadra. A quadra recém inaugurada, em dos hotéis da área, convidava para a aula e logo após uma partida com algum amigo. Fora bastante forte a aula e eu exausto, logo no término, ansioso por um bom banho voltei para casa. Encharcado de suor, suado até a alma, ao chegar em casa enderecei-me diretamente à cozinha para tomar água e ao passar pela mesa de suporte vi, descansando sobre ela, um pão, de meio quilo, recheado de calabresa e brilhoso em seu dorso. Abri a geladeira e lá estava a enorme garrafa de coca-cola, geladíssima, convidativa, sedutora. Sentei-me em uma das cadeiras, confortável, e, comi o pão acompanhado do refrigerante. O que acontecera para que eu me deixasse seduzir por tão banal objeto foi o fato de que em algum lugar do passado, quando minha mãe fazia este tipo de pão, outro pão, parecido com este, me chamou à uma viagem no tempo o que determinou o fim daquela deliciosa guloseima. Comi-o inteiro, coca-cola do lado. Pronto, fora disparada a gota d'água para desencadear, em meu organismo uma manifestação biliar de repercursão sistêmica. Vômitos, dores musculares, não sei se devido ao grande esforço para excretar o que, em determinado momento não existia mais, dor na cabeça etc... - Vamos até o pronto atendimento da Inimed, dizia minha esposa, exausta do acompanhamento amigo. - Isso não é nada, dizia eu, daqui a pouco passa. Agüentei de sábado até quarta-feira. - Vamos, dissera eu vencido pelos incômodos. Feito o diagnóstico, litíase biliar, marcou-se a cirurgia. Raquete na parede, pendurada. Atinei, está na hora de voltar, é hora de recomeçar.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Fotografias 2.

É mister continuar a reviver, novamente viver, fatos passados e que estão estáticos, porém, eternizados numa fotografia. A vida continou e continua em sua corrida desesperada em direção ao infinito. Gosto de repensar a vida a partir desses gostosos momentos presos nas fotografias e disponíveis a todo onstante. Depois dos filhos, os netos. O João Gabriel o neto que nasceu logo após o Enzo, com sua forte personalidade, depois o Guilherme, o neto que me acorda diariamente com um doce grito: Dôdo, acorda e eu obediente acordo. Todos têm, desde os filhos até o Davi o neto mais novo um dossiê, portifólios de vida. As fotografias retratam o momento de agora e todos os momentos da família estão registrados em albuns infindáveis, lotados de vidas armazenadas em suas mais diferentes etapas, cada um do seu próprio jeito, mas, catalizando e amalgamando uma só história, a história cheia de erros e acertos. O Guilherme gosta de ser fotografado. Faz pose e mesmo lambuzado de caldo de feijão, chocolate, como na foto que vejo agora, procura, como se tivesse consciência disso, mostrar seu melhor ângulo. O João Gabriel, quando se trata de fotografias gosta de se mostrar, quase sempre vestido de qualquer fantasia de super-herói, e, num passe de mágica tenho por perto super-homem, homem-aranha, ben 10 etc..., sempre prontos a me defenderem de alguma coisa ruim. Há um tempo atrás não imaginaria um quinto neto principalmente vindo da Natássia, minha nora, esposa de Alexandre Filho, e, surpreso vi nascer o Davi. Agora mesmo olho uma foto onde ele parece estar se divertindo bastante pois o riso tão largo mostra, à vontade suas gengivas. É um riso gostoso de quem está feliz. Mais uma vez agradeço a Deus a grande oportunidade de ter e fazer parte dessa grande e abençoada família.

sábado, 18 de agosto de 2012

Fotografias.

Caros leitores, amigos que me acompanham desde um tempo. Peguei-me, dias desses, a vasculhar o passado revendo fotografias antigas e revivendo cada momento, a maioria bons momentos. Já se lá vão tantos anos em algumas fotos. Agora mesmo vejo-me na euforia do primeiro aniversário do Enzo, meu segundo neto; estou com ele no colo, sorrindo e ele segurando um brinquedo. Parecemos felizes. Em outra o Alexandre Neto, meu primeiro neto aparece, numa loja, acho que em Margarita, segurando um boneco do tamanho dele, rindo à toa. Num sucessivo vai e vem de lembranças passo uma boa parte do dia a reviver, prazeirosamente, o que a memória ainda guarda, sim porque, tenho prá mim que um dia sumirá, tanto se houver vida após morte, porque diz-se que outro tipo de matéria e armazenagem de fatos será fato e essas primeiras não terão validade, quanto se não houver vida após morte, porquanto, tudo será aniquilado. Sou meio desorganizado. Não gosto de lugares e pessoas que do seu alto desempenho organizacional impingem certos comportamentos e atitudes, como a esterilização e super-arrumação de seus lugares e comportamentos. Gosto de chegar e sentir-me à vontade. Colocar meus pés para cima de uma mesa, comer onde me der vontade, mesmo na sala, afastando quaisquer possibilidades de assepsia total da sala, do quarto. Pensando e filosofando assim, continuo a olhar as fotografias e sentindo toda energia emanente delas, me fazendo entender que o presente, sedimentação do passado e preparatório do futuro, é que deve ser vivido intensamente. Lá estão os retratos, estáticas fotografias daqueles momentos, inúmeros, incontáveis, mas, tão vivos em minha memória, inclusive com todos os movimentos e perspectivas do momento deixando- me emocionado tal a intensidade das lembranças. Gosto disso. Me faz melhor.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A vida da estrada.

À frente da cidade, bem no beiradão de entrada, o flutuante balançava à mercê das ondas que se originavam lá no meio do rio. A correnteza, perigosa, aumentara seu ritmo, o que era possível observar-se pela velocidade dos troncos, das canaranas, às vezes até corpos de animais arrastados e mortos afogados no furor das águas. O céu cinza escuro espelhava a força da tempestade que se aproximava. Lá longe, no meio do rio, uma pequena canoa deslizava velozmente tentando se acercar de uma das margens. O caboclo com sua habilidade ganha na experiência de outras intempéries, remava com calma, agora mesmo pondo o remo bem encostado à proa, à boreste, saindo e ficando paralelo às grandes ondas e imediatamente invertendo o movimento para então ficar perpendicular à elas. De qualquer maneira, lentamente se aproximava da margem. Quem pudesse vê-lo da margem veria a canoa subindo e descendo na variação das ondas. Viera à vila para vender e comprar, repondo suas necessidades familiares. Outro caboclo andava na calçada da grande orla da capital. Olhava para cima, não para ver a lua, um pássaro, uma copa de árvore, uma caça, uma trilha, um animal qualquer cruzando seu caminho, mas, simplesmente, os altos prédios da cidade. Pareciam imensas árvores de pedra. O contraste do paisagismo o deixava medroso. Um carro passara e jogara um jorro de água lamacenta da poça à beira da calçada. Molhara-o todo. Indignado continuou andando, tentando achar um lugar onde pudesse tirar a roupa e se limpar. Se fosse no interior já teria resolvido o problema. Pararia em um riacho qualquer e tomaria um bom banho frio e lavaria a roupa suja. - Não se mexa e ponha as mãos na cabeça, era um policial quem comandara. - Rápido, gritara outro e só então viu que os dois mantinham armas apontadas para ele. Pensou em correr como um dos animais da floresta que ele caçava, mas, também sabia que não adiantaria e seria pura sorte se escapasse, cedo ou tarde seria preso. Sentiu medo e quis estar no lugar que mais conhecia, e, agora tinha certeza amava, que era a floresta. Aqui nunca mais queria voltar. A voz áspera e mandona do guarda trouxera-o para a realidade. Anos mais tarde o velho caboclo, sentado em um banquinho à beira do barranco, feito por ele mesmo, olhava o vermelhão no rio que vinha desde a curva do rio, produzido pelos raios solares do pôr-do-sol. A paisagem era linda. A tranqüilidade fora quebrada pela algazarra produzida por um bando de periquitos que por ali passavam. Uma garça, cheia de pose, em cima de um galho de árvore, descia o rio calmo àquela hora. O silêncio era quebrado somente pelo ruído das águas, dos pássaros e muito longe o troar de trovões. O velho levantou-se, olhou mais uma vez o rio e virando de costas endereçou-se para a casinha de madeira que fizera, juntamente com amigos, há muito tempo atrás. Uma mulher esperava-o no solar da porta. Um vento frio, vindo do meio do rio, o fizera, instintivamente a apressar o passo para o interior da casa. Amanhã tudo de novo, mas, é melhor aqui que qualquer outro lugar, pensara o velho, pois, os perigos daqui são menores e a gente pode ser a gente mesmo.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

A estrada da vida.

- Vô, vamos tomar um cafezinho? Era o Enzo me chamando para tomar um cafezinho com ele, mas, somente com ele. Está bem, dissera eu, já me dirigindo à saída, para a garagem. E, lá fomos nós tomar café na Megafarma, o lugar que gosto degustar um bom moca, quando estou em Boa Vista. Conversamos sobre futebol o assunto preferido dele, jogador, aos oito anos, de um dos times da cidade. No dia anterior presenciara dois golaços dele no treino, um dos quais de cobertura, pois, o goleiro saindo dera chance de ser coberto, como foi. - Vô, vamos tomar um cafezinho? Era o Alexandre Neto, no outro dia, véspera de minha volta à Manaus. Da mesma forma, fomos. Conversamos sobre história geral e geografia, tecnologia e seus desdobramentos no futuro, assuntos que ele domina muito bem. Dos deuses do Panteão grego, dos romanos, primeira e segunda guerra, horas de conversação e eu, entre uma conversa e outra, meditando o quanto valeria o tempo parar e eternizar aqueles momentos tão preciosos para nós. A realidade é que só na fotografia os momentos são estaticamente eternizados. Acelerei mais o carro, pois, os pensamentos teimavam em voltar para a casa da qual acabara de sair. Entrara na bola que levava à saída da cidade e finalmente através do para-brisa, limpo pelo movimento das aletas do pára-brisa, que como um João Teimoso, uniformemente deslizavam no vidro, para lá e para cá, visualizei a Br. Pelo retrovisor via a cidade ficando para trás. O carro atingira a velocidade de cruzeiro e um caminhão sonolento, à minha frente, lentamente se arrastava com seu enorme peso pela rodovia, reduzi a marcha da pick-up e esperei o momento correto de ultrapassá-lo. As savanas, de um lado e de outro da estrada, infindas chegando até o horizonte, lá onde a terra encontrava o céu azul-acinzentado e o cheiro de terra molhada invadira o interior do carro me reportando a outros lugares e épocas. De repente o rosto risonho de Davi, no colo da mãe, me aparece em todos lugares do pensamento. Ligo o som e tento fixar os pensamentos na música. Os Bee Gees cantam "I start the joke", na voz macia de um dos Gibbs. Num dos lados da estrada uma garça aterrizara em cima de um galho de árvore no chão da savana. A vida pulsando em todos os lugares e com todos os sons. A estrada tão reta era que os olhos podiam ver todas ondulações, elevações que a rodovia fazIa até o horizonte. Uma felicidade repentina toma conta de minha alma, e, então, agradeço a Deus a graça da vida, vivida com os meus. Mantenho a velocidade, concentrando-me mais na direção do pesado carro.