segunda-feira, 26 de julho de 2010

Mesmice.

Julho passou muito rápido. Meus netos e nora chegaram no início do mês trazendo como sempre muita alegria e enchendo a casa com uma nova disposição de viver. O Enzo, aos seis anos, e, cheio de energia queria de imediato brincar de tudo com todos ao mesmo tempo. Era a ida à casa do primo Rodriguinho e lá brincar de jogo eletrônico onde o guerreiro tal liquida o outro tal, era também o jogo de bola na quadra do condomínio com o avô e o primo João Gabriel, enfim, era o momento para descarregar toda a energia acumulada nos últimos seis longos meses sem a vinda à Manaus. O Alexandre Neto, aos onze, também e de uma maneira diferente queria se divertir com os colegas do condomínio aos quais também não os via desde seis meses atrás. Eram jogos, bola, xadrez, e, logo a casa se transformou em um enorme local de encontro para a rapaziada do prédio.
- Vô, queria que você fosse comigo... Era referência à volta dele para Boa Vista, local onde reside e sua vontade de dar continuidade à felicidade de estar desfrutando a amizade do velho avô.
- Logo vou estar lá com vocês, não se preocupe com isto...
- Vô, preciso de um violão, você pode me dar o seu de presente? Era o Alexandre Neto querendo o instrumento para aprender a tocá-lo.
- Claro, Alexandre, você tem talento e vai gostar muito dele.
Chegou o dia da despedida. Lá no aeroporto o Alexandre começou a sentir um frio desmedido e a ficar angustiado com algo que não podia explicar.
- Está quente, disse sua mãe.
- É o aquecimento do agasalho, pois, ele estava usando um agasalho que me pareceu bastante quente.
Foram. O avião malvado levantou vôo e sumiu na imensidão do ar. A falta de ar atacou-me novamente e pensei neles dentro do avião tentando ver algo através da janela, mas, a escuridão da madrugada era somente um grande manto escuro. Imaginando isso entrei no carro de volta à rotina da vida. Saudades, solidão tudo tão escuro quanta a madrugada.
- Vamos disse à minha esposa e entramos no carro de volta à cidade e à vida...

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Preparativos do Casamento.

Emocionei-me quando abri o site de casamento de minha filha, do meio, Maysa. Na página principal, www.maysaeheitor.com, lá estava seu rosto bonito, feliz nesta fase de sua vida: seu preparativo para o casamento.
Como o tempo, essa terrível armadilha da vida, passa rápido e ao promover momentos bons e maus nos marca deixando laivos de sua passagem em nossas vidas. Maysa é um desses raros momentos da vida que me marcou profundamente. Sua alma simples sempre optou, apesar de sua beleza de parar o trânsito, por estar sempre bonita naturalmente na sua simplicidade. Lembro da sala de estar repleta de gente, em algum de tantos aniversários de alguém da casa, e ela, aos três ou quatro anos, com um vestidinho deixando entrever a calcinha de renda encobrindo a fralda que aumentava seu volume e andando de costas para se encaixar entre as pernas de um de seus tios, com um risinho tão carinhosamente seu. Os cabelos encaracolados e enfeitados por um pequeno laçarote davam e completavam o charme curial de sua personalidade. O tempo passando revelou a personalidade marcante dessa engenheira da computação, profissão que abraçou com amor e dedicação, hoje terminando seu mestrado na universidade em Curitiba, e, com certeza, o préstito de amigos e admiradores aumentam a cada dia que passa sem causar influência em sua simplicidade, rota inerente a sua alma revolucionária.
Emocionei-me. A mente esse magnífico artefato da vida me reportou imediatamente a uma cena muito engraçada e já contada aqui, mas, que vale a pena reproduzir: numa noite a pequena Maysa, recém-nascida, chorava, por volta das duas da manhã, a aurora prenunciada, a madrugada fria com seus ventos gélidos, copiosamente. Acabara de mamar e todos na casa acordaram com tal escândalo. Uma tia de minha esposa, responsável por uma ajuda sem preço, dormitava ao lado do berço quando foi desperto totalmente por tal raivoso choro. Não tive dúvidas. Depois de tudo arranjado fomos os três: Maysa, eu e D. Maria, tia de minha esposa, apressados à casa do médico pediatra, o qual veio nos atender à porta, ainda com os cabelos revoltos, marca do travesseiro, e, sonolento que fazia pena.
- Que se passa?
Contei o ocorrido e ele depois de nos mandar entrar e examinar a menina de tudo que era possível ali naquele momento, ao passar com o dedo perto da boca da criança, sentiu que ela queria a todo custo morder-lhe o dedo. O diagnóstico, mesmo sonolento fora dado: fome. Ela acabou de comer, dissera eu, mas, a evidência era maior e já em casa ela mamou mais uma mamadeira e aprendemos que para ela dever-se-ia fazer mais do que a média recomendava. Depois do fato passado ríamos à beça de tal momento.
Emocionei-me e emocionado pedi a Deus por minha pequena Maysa, que apesar de tudo e todo sucesso em sua vida continua minha garotinha pequerrucha querendo se aninhar em nossos braços que sempre estarão abertos. Felicidades Maysa extensivo ao Heitor, meu futuro genro.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Tributo à Fézinha.




Não a conhecia bem apesar de um parentesco longínquo. Era uma prima distante de minha mãe, por parte materna, da família dos Aguiar. Morreu, dizem, de um infarto fulminante, o que soube depois de seu féretro. Não sei a causa mortis, mas, me lembro de minha avó, Lilia, a contar a todos, na sala, que sua família tinha afinidade na morte por problemas cardíacos. Na sua concepção todos os Aguiar tinham essa propensão de morrer assim. Ela própria foi vítima de sua vaticinação. Uma noite, após recolher-se à cama, pediu à nora um copo de leite quente, pedido rotineiro. Ao trazer o tal copo a nora encontrou-a morta na cadeira de espera.
Sei que Fézinha era uma dessas mulheres batalhadoras, preocupadas em dar o melhor da vida aos filhos e administrava sua rádio, junto com seus irmãos, de forma brilhante. Vinda de uma família bem estruturada, aquelas que conseguem sobreviver em meio a tantas intempéries e vicissitudes que a vida implacavelmente permeia entre os humanos, ela soubera dividir os afazeres de mãe, de administradora, esposa com esses problemas logrando êxito em tal proposta, pois, seus filhos, trabalham na rádio, cada um com seus próprios programas radiofônicos de bastante sucesso na cidade.
Manaus certamente vai sentir sua falta seja em não poder mais ouvir sua voz forte anunciando e contando as histórias ou do cantor ou da música anunciada, seja em suas posições de cunho social na distribuição de ranchos, presentes, brinquedos, enfim, toda sorte de pequenas ajudas à população carente.
Lastimo profundamente sua morte, e, estendo meus sentimentos de luto e de minha família à família enlutada. Meus pêsames à família e à Rádio Difusora do Amazonas, sabendo que ela é merecedora de todos os tributos do mundo

sábado, 10 de julho de 2010

Paralelas que se cruzam...

A igreja estava repleta de fiéis. Carla observava, com fervor, a congregação se deixando envolver com as palavras macias e ao mesmo tempo ameaçadoras do pastor que falava sobre a salvação eterna, de como a temporalidade era breve e as decisões, portanto, deveriam ser feitas o mais breve possível e porque não hoje, neste tempo que se chama de hoje, aceite Jesus como seu salvador pessoal e tenha vida eterna. Ouvia se empolgava, assim como toda aquela gente, mas, não conseguia entender como uma simples afirmativa poderia garantir para quem assim o fizesse a vida eterna; não deixe para depois, a vida é breve e rápida, não deixe para depois...
Enquanto Carla escutava a pregação, Antônio, depois do gozo, observava com gosto o corpo da jovem deitada de bruços na cama. Como ela é bonita e fogosa, que sorte essa minha de ter achado-a e enquanto a mente vagava nas lembranças e o cansaço tomava conta do seu corpo ia lentamente se vestindo imaginando e antegozando a próxima vez, imaginando o quanto estava valendo a pena investir no relacionamento que começara não fazia duas semanas. Agora, ainda olhando para o corpo da jovem, abotoava a camisa e lembrou, há duas semanas atrás, de como a vira pela primeira vez. Lá estava ela parada em frente ao banco, absorta, inocente, como se estivesse esperando alguém. A saia pequena deixava ver as pernas bem torneadas e as coxas grossas num conjunto tão harmonioso que quase o deixou tonto. Desejou-a de imediato e então sentiu que ali estava sua outra metade, outra vez é claro, pois, já estava no quarto relacionamento e nenhum o satisfizera, esse tem que dá certo. Apagou a luz, e abrindo a porta mergulhou no sombrio corredor que endereçava para o elevador. Quando chegou ao elevador olhou como de costume para o pulso para ver as horas no relógio, notou, então, que o esquecera no quarto e voltou seu corpo para a porta do apartamento. Entrou lentamente e maciamente para não fazer barulho e indo até a mesinha ao lado da cama apanhou o relógio e saiu novamente. Este retorno atrasou-o quase cinco minutos. Saiu na garagem e acionando o desarme do alarme do carro, um taxi que acabara de comprar e ainda devia sua integralidade, pois, o comprara no prazo de cinco anos e financiando cem por cento do custo, localizando-o entrou e ligou a ignição...
Carla estava fervorosamente orando agora. Pedia perdão por todos seus pecados e ao mesmo tempo agradecia a Deus a oportunidade de poder estar ali e ter conhecido tais pessoas, essas adoradoras, vibrantes e que a consolavam de tudo da vida. Repassou em sua mente sua vida, relembrou seus desejos mais ocultos, seus pequenos pecadilhos, sentindo que realmente era muito pecadora, mas, agora leve depois da confissão de tudo que a poderia condenar. O culto estava no fim...
Os três sujeitos andavam apressadamente pela calçada e como combinados não falavam, simplesmente andavam, sabiam o que estavam fazendo, iam direto para o alvo escolhido. O contato dissera que hoje a igreja arrecadaria pelo menos uns vinte mil reais. Estavam contando com mais. O do meio apertou nervoso, com mais força a coronha do revólver. Apressaram o passo poderiam estar atrasados. Dobrando a esquina viram o enorme prédio e para lá se dirigiram. Entraram no grande salão, agora mais vazio, com apenas alguns fiéis que conversavam e se alegravam no congraçamento. Carla logo após o término desejara falar com o pastor o qual a mandara esperar em seu enorme e luxuoso escritório. Depois de despachar algumas senhoras que teimavam em falar com ele, pastor, dirigiu-se para o escritório e sentando-se na poltrona de espaldar alto ia começar a falar com Carla que de costa para a porta não observou a entrada dos três rapazes que nessa altura com os revólveres apontando para o pastor anunciaram o assalto. O pastor tentou argumentar que aquela era uma casa de oração e que eles deveriam respeitá-la por isso, mas, foi alertado da seriedade da situação com uma coronhada violenta em sua fronte direita a qual rompido os músculos sangravam abundantemente. Outro rapazola estava atrás da cadeira de Carla, cuja cabeça rodopiava e a fazia sentir náuseas, e, a segurava com as mão levemente apoiada em seus ombros. Já com o dinheiro na mão o que parecia ser o líder gritou para todos saíssem e que levassem a moça como segurança até lá fora. O pastor, deitado no chão, ainda tonto da pancada, se levantara com muita dificuldade  para poder falar diretamente com ele, mas, o gesto fora mal interpretado pelo marginal que sem hesitar atirou à queima roupa em seu peito. A gritaria agora era muito grande...
Antônio saíra do apartamento de sua amante e estava indo como de costume apanhar, como ele gostava de falar quando ia fazer uma corrida para alguém na qual ele teria que ir até onde o passageiro estava para levá-lo até o destino desejado, o “seu” Xavier um comerciante que morava um pouco distante da igreja. Olhando para frente da igreja viu “seu” Xavier e sua esposa e parando o carro os três rapazes arrastando uma mulher e apontando revolveres, gritavam para que ele mantivesse o carro parado. Entraram rapidamente no carro e jogando com violência Carla no chão traseiro do carro, ordenaram para Antônio sair dali o mais rápido possível. Nervoso, Antônio acelerou o carro que saiu dali em alta velocidade...
Se Carla não tivesse se emocionado com a pregação e assim procurado o pároco depois do culto e Antônio não tivesse esquecido o relógio no quarto e tivesse voltado para apanhá-lo e também o pastor não tivesse a vontade de atender Carla após o culto e se os três assaltantes tivessem chegado um pouco antes nada disso teria acontecido...