A igreja estava repleta de fiéis. Carla observava, com fervor, a congregação se deixando envolver com as palavras macias e ao mesmo tempo ameaçadoras do pastor que falava sobre a salvação eterna, de como a temporalidade era breve e as decisões, portanto, deveriam ser feitas o mais breve possível e porque não hoje, neste tempo que se chama de hoje, aceite Jesus como seu salvador pessoal e tenha vida eterna. Ouvia se empolgava, assim como toda aquela gente, mas, não conseguia entender como uma simples afirmativa poderia garantir para quem assim o fizesse a vida eterna; não deixe para depois, a vida é breve e rápida, não deixe para depois...
Enquanto Carla escutava a pregação, Antônio, depois do gozo, observava com gosto o corpo da jovem deitada de bruços na cama. Como ela é bonita e fogosa, que sorte essa minha de ter achado-a e enquanto a mente vagava nas lembranças e o cansaço tomava conta do seu corpo ia lentamente se vestindo imaginando e antegozando a próxima vez, imaginando o quanto estava valendo a pena investir no relacionamento que começara não fazia duas semanas. Agora, ainda olhando para o corpo da jovem, abotoava a camisa e lembrou, há duas semanas atrás, de como a vira pela primeira vez. Lá estava ela parada em frente ao banco, absorta, inocente, como se estivesse esperando alguém. A saia pequena deixava ver as pernas bem torneadas e as coxas grossas num conjunto tão harmonioso que quase o deixou tonto. Desejou-a de imediato e então sentiu que ali estava sua outra metade, outra vez é claro, pois, já estava no quarto relacionamento e nenhum o satisfizera, esse tem que dá certo. Apagou a luz, e abrindo a porta mergulhou no sombrio corredor que endereçava para o elevador. Quando chegou ao elevador olhou como de costume para o pulso para ver as horas no relógio, notou, então, que o esquecera no quarto e voltou seu corpo para a porta do apartamento. Entrou lentamente e maciamente para não fazer barulho e indo até a mesinha ao lado da cama apanhou o relógio e saiu novamente. Este retorno atrasou-o quase cinco minutos. Saiu na garagem e acionando o desarme do alarme do carro, um taxi que acabara de comprar e ainda devia sua integralidade, pois, o comprara no prazo de cinco anos e financiando cem por cento do custo, localizando-o entrou e ligou a ignição...
Carla estava fervorosamente orando agora. Pedia perdão por todos seus pecados e ao mesmo tempo agradecia a Deus a oportunidade de poder estar ali e ter conhecido tais pessoas, essas adoradoras, vibrantes e que a consolavam de tudo da vida. Repassou em sua mente sua vida, relembrou seus desejos mais ocultos, seus pequenos pecadilhos, sentindo que realmente era muito pecadora, mas, agora leve depois da confissão de tudo que a poderia condenar. O culto estava no fim...
Os três sujeitos andavam apressadamente pela calçada e como combinados não falavam, simplesmente andavam, sabiam o que estavam fazendo, iam direto para o alvo escolhido. O contato dissera que hoje a igreja arrecadaria pelo menos uns vinte mil reais. Estavam contando com mais. O do meio apertou nervoso, com mais força a coronha do revólver. Apressaram o passo poderiam estar atrasados. Dobrando a esquina viram o enorme prédio e para lá se dirigiram. Entraram no grande salão, agora mais vazio, com apenas alguns fiéis que conversavam e se alegravam no congraçamento. Carla logo após o término desejara falar com o pastor o qual a mandara esperar em seu enorme e luxuoso escritório. Depois de despachar algumas senhoras que teimavam em falar com ele, pastor, dirigiu-se para o escritório e sentando-se na poltrona de espaldar alto ia começar a falar com Carla que de costa para a porta não observou a entrada dos três rapazes que nessa altura com os revólveres apontando para o pastor anunciaram o assalto. O pastor tentou argumentar que aquela era uma casa de oração e que eles deveriam respeitá-la por isso, mas, foi alertado da seriedade da situação com uma coronhada violenta em sua fronte direita a qual rompido os músculos sangravam abundantemente. Outro rapazola estava atrás da cadeira de Carla, cuja cabeça rodopiava e a fazia sentir náuseas, e, a segurava com as mão levemente apoiada em seus ombros. Já com o dinheiro na mão o que parecia ser o líder gritou para todos saíssem e que levassem a moça como segurança até lá fora. O pastor, deitado no chão, ainda tonto da pancada, se levantara com muita dificuldade para poder falar diretamente com ele, mas, o gesto fora mal interpretado pelo marginal que sem hesitar atirou à queima roupa em seu peito. A gritaria agora era muito grande...
Antônio saíra do apartamento de sua amante e estava indo como de costume apanhar, como ele gostava de falar quando ia fazer uma corrida para alguém na qual ele teria que ir até onde o passageiro estava para levá-lo até o destino desejado, o “seu” Xavier um comerciante que morava um pouco distante da igreja. Olhando para frente da igreja viu “seu” Xavier e sua esposa e parando o carro os três rapazes arrastando uma mulher e apontando revolveres, gritavam para que ele mantivesse o carro parado. Entraram rapidamente no carro e jogando com violência Carla no chão traseiro do carro, ordenaram para Antônio sair dali o mais rápido possível. Nervoso, Antônio acelerou o carro que saiu dali em alta velocidade...
Se Carla não tivesse se emocionado com a pregação e assim procurado o pároco depois do culto e Antônio não tivesse esquecido o relógio no quarto e tivesse voltado para apanhá-lo e também o pastor não tivesse a vontade de atender Carla após o culto e se os três assaltantes tivessem chegado um pouco antes nada disso teria acontecido...