terça-feira, 24 de agosto de 2010

Cirurgia virtual.

Olhando uma revista, numa das livrarias daqui da cidade, vi estarrecido, a ênfase dado em uma das revistas especializadas em vender imagens, a uma possibilidade de mudança total no aspecto físico das pessoas que vivem de venda de imagem: a cirurgia virtual. Caramba, pensei, o possível é mentiroso. É possível transformar alguém depois de clicado e melhorar a pele e seus contornos, sua venda de imagem em um dos inúmeros programas de manipulação de imagem. É possível arredondar seios, aumentar e dar contornos melhorados às bundas, lipo-aspirar as barrigas, as pernas e o que se quiser de maneira que fique vendável qualquer foto ou perfil de uma pessoa. Significa que a pessoa ou esse objeto de venda de imagem não é o mesmo que o original, quem olha, olha o inventado, olha o virtual.
Nilton Bonder, famoso rabino, tem razão: a alma é imoral e não tem limites em busca de sua satisfação, isto é, a vontade de contrapor ao único mandamento dado ao homem no Éden, o de crescer e procriar, ânsia do corpo. Neste contexto o homem em determinado momento histórico encontra-se ou acha-se completamente despido, e, portanto, nu e como no Éden busca infinitamente se cobrir e esconder sua nudez, pois, na natureza não há nus. A partir daí a história do homem é de, em si descobrindo nu, achar um modo de cobrir-se e cobrindo todos os ângulos de sua alma clama por um manto protetor, um totem, um ícone, uma maquiagem que disfarce sua nudez, tanto física quanto moral.
Assim, o homem anseia por uma continuidade de sua semente, a da espécie e tudo fazem, por maior que seja o esforço para chegar, determinado, a este fim, mas, sempre disfarçando, maquiando sua verdadeira vontade, pois, corresponderia a sentir-se completamente nu e como não há nu na natureza, ele encontra-se, por conta dessa consciência solitário em termos de ser. Desde o Éden o homem se cobre, esconde sua nudez tanta física quanto moral. Ao longo do tempo o homem tem encontrado formas de resolver essa questão do nu e socialmente tem vivenciado normas e leis que o façam sentir-se confortável no tempo de sua vivência, convivência com a consciência de perceber-se nu. Concluo dessa nítida impressão bíblica a capacidade de o homem viver tão hipocritamente em sociedade.
É verdade, sim, que a descendência do Messias, em seu início teve nas filhas de Lot, que ao saírem das cidades de Sodoma e Gomorra, destruídas pelos anjos, e, vendo o poder da destruição em sua própria mãe, imaginaram que o fim do mundo era o que estava acontecendo, assim, com a responsabilidade do cumprimento do mandamento, crescei e multiplicai, o embriagaram e fizeram procriar nelas o bom que não era correto, filhos incestuosos que seriam os precursores de Davi, o rei de onde o Messias descenderia.
- Onde estás, homem? Pergunta Deus, no virar do dia no Éden.                  
- Vim me esconder, pois, achei-me nu e escondi-me.
Deus trançou uma túnica de folhas e o cobriu... Toda escuridão da humanidade estava ali, nunca mais paramos de tentarmos nos mostrar vestidos... a não ser maquiando nossa nudez no  intrépido desejo de nos mostrarmos corajosos a ponto de nos desnudarmos à frente de outros, nem que seja às custas de programas que possam embelezar nossos corpos nus.
Maranata, Senhor.