domingo, 21 de outubro de 2012

Chuva.

Manhã chuvosa em Manaus. Da varanda não vê quase nada. A chuva morosa parece que veio para ficar mais tempo do que deve. Alegro-me com ela. Sei que a renovação é fator preponderante para que a natureza se mantenha impecavelmente verde. Aqui, sem terra, somente com o piso de concreto, não dá para sentir o cheiro de terra molhada, nem ver os galhos da árvores balouçando com o passar do vento forte, o verde descaradamente renovando-se, a esperança de vida, ainda, repondo-se, virtuosamente mostrando o poder da Criação. Fecho os olhos e reporto-me a uma outra varanda, também assolada por outra chuva, talvez até mais forte que esta, o cheiro de chão batido molhado e as flores no pomar jogadas de um lado para outro pela força do vento, numa fazenda no Careiro da Várzea. O barulho da correnteza do rio aumentado, e, levando de rodo tudo que a sua frente está. Amolecendo as paredes barrentas dos beiradões e mais tarde derrubando-as e levando-as para outras paragens. Tempos diferentes de minha vida, mas, iguais no conteúdo. Um mais moderno, no alto de um apartamento, impossível de ver o rio, sentir o cheiro de piso batido molhado, o cheiro das flores do pomar espraiando-se no ar e chegando às narinas tornando-se promane de sentimentos e ânsia de vida, o outro, quase cinquenta anos atrás, mas, com a mesma conotação de querer mais vida, de viver hoje e agora o infinito, o céu.