terça-feira, 15 de setembro de 2009

Solidão noturna.

Eu já enjoara do local, das pessoas, não que fizesse discriminação a alguém, mas, as conversas versavam sobre temas tão banais que eu não conseguia mais acompanhar a conversa que vinha mantendo com um deputado.

O deputado queria por que queria me vender a imagem que ele só fazia todas as suas feituras corretamente. Falava-me isto sem laivo de amarelidão às faces, isto é, insensivelmente falava que nunca tinha prometido algo que não pudesse fazer assim sua vida pública era uma lisura só, como somos enganados, pensei. O mercado político está cheio disso, venda de imagem. E, claro que sei que somos considerados tolos para os que não fazem parte desse círculo, que é melhor não enxergar, não ver o que fazem por trás dos bastidores. Dane-se, pensei, tenho que sair daqui.

Saí dessa conversa, a guisa de achar algo para beber, e, encontrei uma senhora que encontrara alguns anos antes e que tinha sido abandonada por seu marido, um comerciante que encontrara paz nos braços de uma moça em seus 16 aninhos. Ele, logicamente, não sabia, dizia a todos, o que ela vira nele para largar tudo e todos e vir viver, morar com ele, enfrentando a sociedade e sua família que certamente a condenava, pois, ele faria exatamente 65 anos nesse ano. Em seu conceito só podia ser amor, amor muito profundo, desses inexplicáveis.

- Com licença, minha senhora, mas, me chamam ali e preciso ir, mas, conversamos depois.

O garçom passava com a bandeja repleta de copos com as mais variadas bebidas, vinhos, uísques, refrigerantes, águas, batidas e um mundo afora de bebidas minhas desconhecidas. Em nosso cruzamento tirei de sua bandeja um de uísque e me afastei tentando ficar só e achando forças para na hora certa sair, ir andando em qualquer direção, à ermo. Andei até o final da sala e ao me aproximar da porta uma mão me bateu aos ombros e disse:

- Caríssimo, Alexandre, há quanto tempo. Como estão todos?

Virei-me e me deparei com um conhecido, um sujeito imaturo, cheio do dinheiro e que vivia de alimentar seu alter ego. Os cabelos estavam pintados para esconder, possivelmente os mais brancos, os músculos orbiculares tinham sofrido um levante e alisamento, e, o corpo firme por conta da assiduidade às academias dava um ar esquisito ao cidadão. Que coisa é essa? Pensei, deixando a onda de calor, e uma ligeira tontura, percorrerem meu corpo. Estou ficando tonto, pensei, esse uísque está fazendo seu efeito.

- Tudo bem? Como vai você, rapaz?

- A vida é maravilhosa. Deus tem me abençoado muito. Tenho tudo o que desejo ter. Uma família maravilhosa, um apartamento muito bom, carros, e, tudo o que uma pessoa temente a Deus pode ter, felicidade. E tu?

- Você crer que o homem não pode mudar seu destino, só Deus é quem pode fazê-lo? Você está se achando bem por conta disso?

- Deus é tudo e tem me abençoado. Não tenho culpa se Ele tem um plano exclusivo para mim. Tudo é maravilhoso.

- Que bom. Foi um prazer lhe rever. Abraços. Afastei-me com náuseas. Era demais o que ouvira, logo eu que acredito que as pessoas têm noventa e oito per cento de livre arbítrio e apenas dois ou mesmo um per cento de interferência divina, ouvir que alguém pudesse estar super bem, melhor que os outros em “bênçãos” que só esse alguém pode ter era demais para mim.

Fui me afastando, mas, ainda ouvi o comentário:

- Esse aí nunca vai ter nada na vida, sempre vai ser pobretão. Deus nunca vai abençoá-lo, porque, é orgulhoso demais. As pessoas têm que ser humilde como eu para que Deus possa olhar e cuidar. De o meu levantar até meu deitar Deus cuida de mim. Tudo vem na minha mão. Coitado.

Finalmente saí. A brisa da noite batendo em meu rosto encheu-me de vida e esperança que tudo vai dar certo. A vida vai ser o de sempre. Trabalho, suor e lágrima. Surpreso vejo que sai com o copo de uísque na mão. Sorvo mais um gole e saio caminhando noite adentro.

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