quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Vítimas do Mansinho.

O dia amanhecera bem mais cedo. Os raios amarelados surgiam no horizonte rio acima. A água amarela do rio ficara mais amarela ainda. Uma árvore, por força do fenômeno da terra caída, flutuava navegando no meio da calha do rio em uma boa velocidade, completamente cercada de canaranas. Um pássaro negro descansava indiferente aos movimentos das águas e do ronco longínquo de um motor de linha que subia o rio aproveitando a tranqüilidade que a hora proporcionava, em cima de uma galhada da árvore.

Logo mais o sol estaria bem quente, irradiando seus raios e afugentando tudo e todos às sombras das árvores ou de um ponto bastante ventilado. Estava de férias em uma fazenda no Careiro da Várzea. Levantei excitado pela expectativa da promessa de Manuel, um peão da fazenda que me prometera me fazer cavalgar no Mansinho, um cavalo baio, branquinho, porém, alto e bonito de se ver. Escovei os dentes e acordei meu amigo Humberto Michiles que também queria me mostrar seus conhecimentos em hipismo. Ficamos os dois, a esperar Manuel aparecer com o Mansinho. Sentamos à varanda e aguardamos com aquela ansiedade da espera. Uma brisa suave vinda do meio do rio percorria toda varanda. No pomar em frente à casa balançava carinhosamente as flores das mais variadas espécies. Eram rosas, margaridas, petúnias, papoulas vermelhas, algumas espécies rasteiras, amarelas, outras branquinhas, que além do lindo visual exalavam um conjunto de cheiros admiráveis.

Manuel, de propósito, entrara no oitão da casa pela parte de trás. Vinha puxando a pé com as rédeas na mão. Quando vimos estava praticamente pertinho de nós. O coração acelerou e esperei que ele desse o comando esperado que já podíamos montar. Humberto, num salto, antecipou a ordem e pediu para dar uma volta no alazão. Manuel estendeu-lhe as rédeas e depois de certificar-se que já dominava a situação desapareceu como em um passe de mágica. Humberto garboso escanchado na sela saiu a trote pelo umbral da porta principal do oitão. A cancela aberta facilitou-lhe a manobra e logo a seguir vi-o desaparecer na curva da trilha que levava à cidade em um galope bastante veloz. Puxa, imaginei, um dia vou poder fazer isso também. Demorou quase nada lá vem ele num galope maior ainda dando com as mãos em minha direção, que embasbacado ao pé da soleira admirava sua habilidade. De repente, tão rápido quanto a queda de um raio, Mansinho cismou de entrar cancela adentro e manobrou o corpo em uma curva bastante fechada para a velocidade que vinha e então aconteceu a queda do meu professor de hipismo. O corpo dele continuou seguindo em frente, retilineamente, e o cavalo entrara na cancela de entrada do oitão. Foi uma queda e tanto, mas, sem conseqüências mais grave, só arranhões, algumas feridas maiores em alguns pontos do corpo, como ombros e pernas. Na cena não cabia risos, mas, não sei por que se rir, e, eu ri um bocado...

Outra feita, numa situação muito parecida com essa, no mesmo baio, eu mesmo caí. A situação era assim: Eu, achando que dominava totalmente o cavalo, vinha montado e conduzindo-o. Atrás de mim e agarrado à minha barriga vinha um primo meu, o Manoel José, adorando a velocidade proporcionada pelo galope do cavalo. Lá na saída da curva, na trilha, vinha em sentido contrário um cavaleiro montado em uma égua marrom que estava em pleno cio. Quando os eqüinos cruzaram os caminhos, o Mansinho, enlouquecido empinou o corpo numa nítida veleidade de se livrar do peso do seu lombo, e, fomos nós ao chão com todo nosso corpo. Foi uma queda terrível. Essa deixou seqüela, pois, Manoel caíra por cima de seu braço esquerdo e o partira numa fratura exposta, muito dolorida e feia de se ver. Acabaram-se as férias. Tivemos que voltar o mais breve possível para Manaus. Fim de cena.

Reconheci que não nasci para ser cavaleiro, muito menos para domador desses magníficos animais e resolvi me divertir de outros modos que não esse. Nunca mais os montei.

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