quinta-feira, 10 de março de 2011

Dengue ou Malária

Grassa sobre nossa cidade uma doença, agora epidêmica, chamada dengue. Não, não é uma dengue qualquer. É uma dengue mudada, com outras faces, outras manifestações. Tem morrido gente, pessoas que certamente não mereciam morrer antes da hora. Epidemia é a palavra. Algum tempo atrás alguém riria disto. Nunca imaginamos que o descaso, na saúde pública, fosse chegar a esse patamar, que vem crescendo governo após governo, pois, criou-se um vezo, de não acreditarmos em prevenção efetiva. Isto aqui não acontece. Somos imunes às picadas, às malvadezas que as mais variadas "mexidas" na natureza podem traduzir para nós, pois, podemos cuidar disto depois e essa verba, destinada a isto, pode ser de mais valia em tais e tais áreas.
Pessoas têm morrido, com dengue hemorrágica. Depois da epidemia instalada a correria atrás daquela verba que fora para outro programa é grande e às vezes não dá tempo de achá-la. E os profissionais da área? Coitados, acostumados a uma vida profissional de poucas preocupações com a população, de tantos trabalhos, de tantos plantões, não estão preparados para a brusca vinda de uma epidemia e a cobrança do governo, das instituições, em relação a horário, a forma de abordagem que a doença requer, o aumento dessa demanda, a necessidade de mudança na visão profissional, transtornam todo sistema que de caótico passa a ser mais infernal ainda.
Um dia desses, acordei mal, com dores de cabeça, febre, um mal estar geral e como existe a epidemia, cedi à pressão, feita por familiares, de ir a um hospital especializado e fui ao Hospital Tropical. Logo, entrei, com dezenas de outros, numa interminável fila de zumbis. Um gemia alto, amparado pelo que parecia sua esposa, ou, alguém bem próximo, outro deitara no chão, ali mesmo, esperando socorro, ao seu lado uma senhora também gemia baixinho, lá no fundo do corredor uma outra fila esperava e esperava...
Finalmente, depois de muita espera chegara minha vez.
- Boa tarde, queria fazer o exame de sorologia da dengue, por favor.
- O Sr. já fez o exame de malária?
- Ainda não, mas, me parece que o que tenho é algo parecido com dengue. Tem algum médico, com o qual possa falar?
- Só às três horas.
- ... São quase doze horas, moça.
- Senhor, por favor, olhe o tamanho da fila. Vá para a fila da malária e depois se der negativo volte aqui.
Baixei a cabeça, impotente, sem vontade de nada e sem nada pensar, sentindo somente a grande dor na cabeça e nos músculos, encaminhei-me para meu carro e dirigi-me de volta à minha casa, meu refúgio, meu hospital, meu lugar ideal para morrer, me ocorreu por um momento, pensamento nada consolador.

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