quarta-feira, 9 de março de 2011

Diagnóstico errado.

Hospital, 5:00 hs da manhã. O plantonista fora acordado e chateado levantara-se e encaminhara-se para a recepção na esperança de que o paciente recém chegado não fosse de tratamento complexo. Perguntou à recepcionista aonde ele se encontrava e rapidamente se encaminhou para a sala de urgência.
Ele observara que a respiração, apesar de fraca, era contínua e estável. A fisionomia era descansada. A musculatura facial estava relaxada. Pedira os exames de sempre. Hemograma completo, com contagem de alguns íons, plaquetas e hematócrito, etc... Depois de os pedidos feitos fora para o conforto médico tomar um café preto e forte, o que o manteria acordado por um bom tempo. A enfermeira aproximou-se com os resultados dos exames. O hematócrito e plaquetas deram resultados baixos, o que o levaram a pensar em perda de sangue e considerando a idade do paciente, talvez o homem estivesse fazendo um enfarto das mesentéricas. É isso, o homem fez um enfarto. Pensando assim levantou-se e encaminhou-se para a sala de urgência onde os filhos e parentes estavam.
- Tenho que levar seu pai urgentemente para o centro cirúrgico, pois, ele fez um enfarto das mesentéricas e carece de no mínimo de uma laparotomia exploradora. Ô, enfermeira, por favor providencie o centro cirúrgico para este paciente, urgentemente. Chame o anestesista de sobreaviso, uma espécie de plantão de espera. Se houver pacientes o hospital o avisa, e, então, ele apressadamente se dirige ao hospital.
O telefone tocara com um som aparentemente fraco, porém, irritante, acordando-me quase de imediato, e, me fizera dar um pulo, me levantara instintivamente e pegara o aparelho. Eram 4:30 hs da manhã.
- Socorro, gritava a voz apavorada e descontrolada de minha madrasta, implorando por um socorro que não poderia ser tão breve, pois, todos moravam uns longe dos outros, e, ainda tinha que mesmo numa velocidade anormal, demorariam a chegar até lá.
- O que houve? perguntara eu tentando achar a razão de tanto transtorno. Que aconteceu?
- Acho que seu pai morreu. Ele está no chão da sala, imóvel. Acho que ele não está respirando. Corre, vem logo para aqui. Eu acordei e não o vi na cama.
- Estou indo...
Não, não morrera, estava ali deitado, com respiração curta e muito lenta, todo sujo, pois, em sua tentativa de sobreviver, ao sair do quarto, seus esfíncteres soltaram-se e por onde ele passara deixara um rastro, inconsciente, de sujeira. Carreguei-o e depois de um ligeiro banho e a colocação de uma roupa limpa, o colocamos, eu e meu filho mais velho, no carro de minha irmã. Logo após a porta ser trancada, arrancou em uma velocidade que ela não usava. Acelerando o meu carro, tentei acompanhá-la, mas, quando cheguei ao hospital os enfermeiros já o tinham tirado do carro e já na maca foi encaminhado para a sala de urgência.
- Calma, doutor, dissera eu para o médico. Gostaria que o senhor, antes de levava-lo para o centro cirúrgico, me dissesse como o senhor chegou a esse diagnóstico.
- Olha, não podemos ficar parados, pois, o tempo está passando e nesse caso pode haver uma infecção generalizada por conta da contaminação violenta que este trombo poderia ocasionar aos intestinos.
- Doutor, não sei o que é enfarto das mesentéricas, assim, gostaria que o senhor, rapidamente, me dissesse o que é o enfarto das mesentéricas, por favor.
- As mesentéricas são as artérias que irrigam os intestinos. Se houver uma interrupção nesta alimentação, o intestinos se decompõem muito rapidamente. É o que está acontecendo com seu pai. Agora, me dê licença que tenho que ir para o centro.
- Doutor, levando em consideração a escassez de exames que comprovem sua teoria e que a laparotomia exploradora é uma cirurgia e portanto uma agressão muito violenta para a idade de meu pai eu lhe digo que não concordo com a cirurgia e peço que o senhor reconsidere seu diagnóstico. Não pode haver cirurgia sem uma melhor apreciação, desculpe-me.
O rosto do médico avermelhou e fitando-me, disse:
- Seu pai vai morrer em horas e tenha certeza que você vai ser o único responsável.
- Doutor, peço desculpas, de novo, mas, neste caso vou ter que chamar outros médicos.
Assim foi feito. Meu pai não morreu, pois, depois, de muitos diagnósticos errados, como AVC, Câncer de Próstata, com muita coragem, que não sei de onde veio tamanha, chamei outros profissionais, com outros métodos de diagnósticos, os quais detectaram uma violenta infecção urinária, a qual depois de tratada devolveu por completo sua saúde.
Depois desses anos passados, consolidado o correto diagnóstico, louvo a Deus a oportunidade, rara, de com coragem, ter defendido a vida de meu pai que até hoje, três anos depois desse fato, está entre nós.
Tudo contribui para o Bem daqueles a quem Deus ama.

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