terça-feira, 10 de maio de 2011

Feliz aniversário, mamãe.

Dia 14 de maio, próximo, era o dia de comemoração do aniversário de nascimento de minha mãe. Às vezes, esse dia coincidia com o dia das mães. Esse ano o dia das mães foi comemorado dia oito, mas, é como se estivesse sendo no mesmo dia de seu aniversário. Lembro, ainda, devia ter uns cinco ou seis anos, de um desses dias, comemorado na casa grande da Av. Joaquim Nabuco. Era uma casa de grandes cômodos, com um pé direito muito alto e que metia medo na gurizada, pois, as sombras, projetadas nas paredes, normalmente à noite, eram muitos maiores que a realidade, e, davam uma sensação fantasmagórica, mas, quando se é criança tudo se desvanece rapidamente e as sensações ruins eram logo destruídas pelas brincadeiras, quase de tempo integral, tal a quantidade de meninos e meninas convivendo diariamente ali. Éramos onze crianças a bom se danar o dia e parte da noite, no quintal, na sala, na cozinha, na varanda, que arrodeava a casa quase em toda sua extensão. Manjas, queima, esconde-esconde, barra-bandeira, desenhos, brincadeiras de todo tipo enchiam nossas vidas ali. Mamãe ficava por ali, atenta, sempre por perto, corrigindo os excessos.
Á noite, a casa toda iluminada, parecia um enorme castelo, daqueles de conto de fada. Os quitutes e bolos preparados por D. Nadehyde, já colocados à mesa, esperavam somente a ordem de poder começar a degustação. É, claro, que alguns do moleques já tinham, antes da tal ordem, feitos algumas incursões à mesa. Os convidados chegando. O pessoal, da Igreja, os parentes, alguns que eu ainda não conhecia, o pastor, enfim, todos os do círculo de amizade dela e de papai. Nesse tempo, papai se metera a estudar conversação de inglês, e, contratara um barbadiano para tal fim. Estávamos todos brincando, correndo, numa interminável brincadeira, quando ele chegou. Era um desses negros altos, da colônia, e, vestido de paletó, coisa não muito normal para a época, pois, fazia muito calor naquela noite. Lembro de um botão de rosa, cuidadosamente aposto na lapela de seu paletó e o que mais chamou atenção, um enorme buquê de rosas, vermelhas, brancas. Paramos todos de brincar para admirarmos a figura elegante do barbadiano, que inclinado, depois, de entregar o buquê de flores, beijava o dorso da mão de minha mãe.
De repente, não sei bem de onde veio tal alergia, meu rosto começou a edemaciar-se. Todos se alegrando, com minha mãe e meu pai, as crianças, endiabradas, a correr e brincar de todo tipo de brincadeiras e eu ali, sentado numa cadeira, num canto da sala. Os olhos quase fechados pelo edema, meio embaçados não me deixavam enxergar direito, e, quando em vez, minha mãe:
- Alé, não sai daí que estás doente.
Antes, me dera uma colher de um remédio, um desses medicamentos anti-alérgicos. De onde estava tinha uma visão privilegiada de quase todos os convidados. De longe via o secretário de segurança de nosso Estado, Dr. Moacir, conversando algo com meu pai, o pastor e o barbadiano que eu não conseguia ouvir. As mulheres ao lado, colocando as novidades em dia, numa alegria imensa e as bandejas de salgadinho e refrigerantes passando entre eles. Virando minha cabeça para o lado direito um bando de meninos e meninas corriam numa disparada disforme, isto é, cada um correndo em direções diversas, acho que tentando achar um lugar melhor para servir de esconderijo.
Ao piano, animando a festa, um velho conhecido da família, o Petrolisses, enlevava a todos com o som incrível que conseguia tirar do piano. Era um Essenfelder, um piano que papai comprara para incentivar a Necil, minha irmã a aprender a tocá-lo. Era um som magnífico.
O jantar servido, as conversas animadas, a sobremesa, e, um por um, os convidados foram saindo, sorridentes, alegres. Quando o último saiu, eu ainda estava sentado, com olhos, o rosto menos inchado, mas, ainda inchado.
Querida mamães, onde você estiver, feliz aniversário, e, que Deus, em sua infinita bondade, incline Seu rosto sobre você, lhe paz e lhe guarde em Amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário