terça-feira, 4 de outubro de 2011

O cabular a aula.

A aula transcorrera normalmente. D. Rosinha teimava em desasnar a turma toda. No meio da aula, por volta das nove e meia, os alunos não suportavam mais a espera da hora do lanche. Finalmente a hora chegara e agora a ansiedade virara para o término das aulas. As horas passavam lentamente. Meu olhar vagando, percorria toda sala, à procura não sei de que. Uma borboleta tentava desesperadamente sair por uma janela, mas, batia e rebatia no vidro fazendo um barulho, com suas asas, quase inaudível, porém, irritante. D. Rosinha, de costas para os alunos escrevia alguma coisa na lousa, talvez, o dever para casa. Amelinha, pequena terrivelmente danada, sentada à esquerda de minha cadeira, e, quase de frente, mostrava sua calcinha branca e fazia-me pensar coisas que já ouvira fala, mas, ainda não as praticara. Os seus dentes eram branquíssimos, evidência de tempos pueris.
A tarde chegara e a hora da aula particular se aproximava. A professora, d. Nely, nossa vizinha do lado esquerdo, já pronta conversava algo, através dos muros de nossas casas, e, terminando dissera:
- Está na hora... Até logo mais, Nadehyde.
- Tchau, Nely.
- Alé, era minha mãe, olha a hora da aula. A Nely já vai.
- Já vai, mamãe, respondera eu, pensando o quanto seria maravilhoso se pudesse não ir à aula.
Em Manaus o clima estava beirando os quarenta graus. O calor era insuportável. Irritado, saí à rua. De longe vi d. Nely saindo pelo portão de sua casa, e, instintivamente recuei, me escondendo no umbral do portão de nossa casa até sentir segurança de que não seria visto por ninguem. Corri até a esquina, onde existia o bar do "seu" Sandorval, onde comprávamos refrigerantes e outras mercadorias. Estúrdio, me sentindo o suprassumo da inteligência, corri para o grupo de garotos que embaixo de uma mangueira, em sua sombra, jogavam "bolinhas de gude". Retirei as minhas de minha bolsa e esperei aquela partida terminar para então começar a jogar. Jogavam ronda-mate. O jogo era simples. Consistia em depositar-se o número de bolinhas previamente apostadas em um círculo e atirar suas ponteiras, bolinhas de tamanho maior que as depositadas, o mais perto possível de uma linha desenhada a uns tres ou quatro metros do círculo, depósito das bolinhas. A ponteira parada o mais perto da linha era a primeira a ser usada, a segunda mais perto a segunda e assim por diante.
As horas foram passando e à tardinha, por volta das seis horas, dezoito na verdade, senti que extrapolara o tempo, pois, aquela altura d. Nely já voltara e minha mãe devia estar desconfiada de que alguma coisa acontecera comigo. Recolhi as minha petecas e corri para casa.
Não sabia que d. Nely, ao chegar em sua casa, antes de mais nada, lá do fundo do quintal, gritara por minha mãe:
- Nadehydeeee..., e, repetia o grito.
E, assim, o meu cabular da aula, daquela tarde, fora descorberto, e, eu, inocente, entrando pelo corredor.
- Alé, como foi a aula hoje?
Bronca, surra e a jura de nunca mais cabular aula alguma.

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