segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Fonte de Alegria.

Hoje é o dia de lembranças aos mortos, de nossos mortos. Toda família, da mais abastada a mais simples, todas, tem um morto, defunto querido que um dia habitou entre nós e nos alegrou com sua presença. São bilhões de mortos no mundo todo a nos lembrar, silenciosamente, que nosso lugar de descanso real é aonde seremos enterrados ou colocados, como cinzas, pedaços, corpos inteiros nos cemitérios, enfim, o que fomos um dia e que necessita de entrar na grande cadeia de reciclagem universal, pois, Lavoisier com seu teorema sobre a vida diz que na natureza nada se cria e que tudo se transforma, o que vem de encontro ao pensamento bíblico, transformados seremos.
Aqui em Manaus, está enterrada a maior parte de minha família, talvez, o melhor dela. Minha mãe, minhas avós e avôs, tios, primos, um irmãozinho, minha sogra e sogro. Lá estão eles celebrando a vida, por nos lembrar constantemente as suas lembranças e suas vivências conosco, numa espécie de consolo cósmico, até o infinito. Lembro de minha mãe e seus bolos, tortas, panquecas, peixes, carnes e todo tipo de gostosuras que sedimentaram em mim a convicção que ninguém no mundo cozinharia melhor que ela. Principalmente, lembro dela me ninando:
- Oh! Que saudades que eu tenho
Da aurora de minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais...
Era Casimiro de Abreu. Dormia com o som de sua doce voz me acalentando até o sono, essa espécie de morte, chegar e me entorpecer.
Lembro do barco sendo combalido pelas vagas do rio mar, em um desses temporais tão comuns em nossos rios, e, ela ali, em um banco, cantando hinos, seus prediletos, invocando a proteção divina:
- Oh! Mestre o mar se revolta
As ondas me dão pavor
Os céus se revestem de trevas
Não temos um salvador...
As ondas atendem o seu mandar:
- Sossegai, sossegai.
Seja o encapelado mar
A ira dos homens, o gênio do mal
Tais águas não podem a nau tragar
Que leva o Senhor, rei dos céus e mar.
Pois, todos ouvem o seu mandar
Sossegai, sim, sossegai.
Ah! Que saudade dessa figura, criatura tão amada. Assim como de minhas avós. Cada uma com seu jeito próprio, mas, ambas amorosas, preocupadas em dar o melhor encaminhamento em nossas vidas. Os avôs, mais severos, mas, com corações cheios de bondade paciência a nos ensinarem a sermos homens. Faço um parêntese aqui para um panegírico à minha tia Branca. Pessoa incomum e amiga inseparável de minha mãe, sua irmã, também cozinheira de mão cheia nos deliciava com seus quitutes e sua meiguice nas soluções dos problemas que a vida armadilhava. Lembro que aos domingos, sempre à noite, depois dos cultos na primeira igreja batista de Manaus, íamos saborear a gostosura do filé alto com fritas e uma maionese que só ela sabia preparar. Os mortos fazem muita falta, pois, lacunas não são preenchidas.
Lá estão eles, como disse a nos lembrar de nossa pequena passagem pela vida, essa que vivemos em nível de consciência. Há uma esperança, pregada por quase todos os profetas, de um dia nos encontrarmos novamente, e, isso é uma questão de fé, e, fonte de alegria.

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