quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Amazonas.

O grande estado do Amazonas, ainda é um grande desafio para o preenchimento demográfico de todo seu território, este, prioritário do ponto de vista estratégico para a conservação de seu enorme território fronteiriço. Possui aproximadamente 1.570.745.680 km² e é um pouco menor que o tamanho dos nove estados do nordeste brasileiro. Faz fronteira, ao norte com a Venezuela e Roraima, com o Pará a leste, com o Mato Grosso a sudeste, Rondônia ao sul, e o Acre a sudoeste, com o Peru a oeste e Colômbia a noroeste. Possui a maior bacia hidrográfica e o maior rio do mundo, tanto em volume quanto em tamanho, o rio Amazonas. Esse nome Amazonas é de origem indígena, amassunu, que quer dizer “ruído de águas, águas que retumba”. Em 1541, Francisco Orellana descendo o rio deparou-se com uma tribo guerreira composta por mulheres com a qual lutou e associando-a com as amazonas do Termodonte, da mitologia grega, deu-lhes o mesmo nome, ou seja, Amazonas. Foi frei Gaspar de Carvajal que relatou a luta de Orellana com as amazonas, as icamiabas, que das margens do rio Marañon disparavam-lhes flechas e dardos, as zarabatanas.
É essa imensidão de terra que composta por floresta, com toda sua diversidade, sua flora e fauna que o caboclo, teimoso, tenaz, sobrevive à custa de sua força de vontade e ocasionalmente do favor tecnológico de alguma fundação, governo, ONGs, que fazem incursões a essas bases dando-lhes algum alento nas doenças, provisões e ações preventivas. Normalmente o caboclo, para sua sobrevivência, escolhe as barrancas, os beiradões, para fixarem suas casas e dali invadir a terra, a floresta, desbravando-a numa luta insana, porém, possível, dominando a natureza bravia.
As grandes distâncias entre uma casa e outras nos beirados do rio e a lonjura das vilas e cidades, dão ao destemido caboclo, uma paciência desmesurada de enorme valia quando têm que remar quilômetros e quilômetros, rio acima ou rio abaixo, para ir de encontro a um auxílio, ou para que possa vender seus produtos, ou de plantio, ou de pesca, trocando-os normalmente por produtos comestíveis e todo o necessário para seu trabalho com a terra e com o rio, enlatados, carnes, linhas de pesca, redes, arpão, zagaia, anzol, espingardas, balas de chumbo, machadinhas, enxadas, facões, fósforos, lanternas, querosene, e, todo tipo de produto que ajude-o a sobreviver nesse paraíso e ao mesmo tempo infernal lugar.
Lá vai ele, sob o forte sol amazonense, causticante, queimando sua pele, já totalmente abrasada, tanto faz se pelos raios ultravioletas ou por infravermelhos, remando em sua cadência constante, beirando o rio, pois, subia-o, evitando o talvegue, onde a correnteza é maior, alerta aos movimentos das aves, do vento, as nuvens, a posição do sol. Está indo a uma vila, a mais próxima comprar e trocar mantimentos. Sua esposa está grávida de sete meses, senão, teria vindo junto, ajudar na remada. Ela argumentara com ele, querendo ir, mas, ele irredutível dissera que não, pois, demandaria um nímio esforço. Saíra bem cedinho, pela manhã, com a alva ainda escondida, e, agora, os fulvos raios do sol começavam a aparecer e ele ainda não atingira nem um terço da viagem.
Chegou com o sol a pino. Depois de fechar negócios, dirigiu-se a uma taverna e pediu uma pinga. Tomou de uma vez. Sentiu o ardor da bebida descendo e queimando em direção ao estômago e pediu uma água. Depois outra pinga...
Resolveu que sairia uma hora depois e arrumando tudo na canoa começou a viagem de volta. Comprara um vestido para ela, para quando ela tivesse o neném e o corpo voltando à forma habitual. Lhano, ele tinha se controlado ao ver, em uma das passarelas da vila, uma moça que lhe dera sinal de simpatia, um verdadeiro convite ao amor, o que ele delicadamente negara se obrigando a desviar a atenção para outra coisa. Não queria que sua amada viesse a sofrer qualquer constrangimento se soubesse de algo assim, pois, era na própria vila que vez em quando vinham passear. Nas primeiras horas de viagem aproveitou a correnteza do talvegue e quando alargou preferiu seguir o barranco onde a correnteza diminuía, mas, era de grande ajuda na velocidade da canoa. Planejou chegar logo ao anoitecer. O dia era muito cansativo, mas, o rosto de alegria que ela faria vendo o vestido florido, animou-o a remar numa cadência maior. Pensou em sua vida, sua chegada a este lugar ermo e monótono, o conhecimento com sua esposa, o patrão, dono das terras, a pretensão de ganhar uma estrada na colheita da borracha, nas seringueiras nativas, mas, o patrão dissera-lhe para ficar mais dois anos limpando e cuidando deste lugar onde tinha a veleidade de mais tarde de executar um projeto, financiado pelo BASA, e, aí sim ele poderia ter sua própria estrada e melhorar sua vida e de sua família. Estava trabalhando duro.
Caro leitor, este pensamento do nosso caboclo é outra história, que prometo conto de outra vez, em outro capítulo, assim, por causa do tempo, voltemos a nossa história.
Chegou e por sorte a lua, com seus raios iluminava o íngreme caminho, do pequeno porto até o platô onde estava sua casa. Lá estava ela, a esperar. A barriga grande a dá-lhe um contorno roliço, mas, logo seu sorriso em sua face redonda revelou-se e ele ficou ali a esperar o abraço de boas vindas. Estava com o presente às costas e depois do abraço e beijo:
- Trôxe prá cê, querida.
- Num carece num, brigada.
Todo pensamento maldoso, acometido oito meses atrás, quando seu compadre viera visitar-lhe desanuviou e o carinho preencheu-lhe todo ser. A felicidade era total. O luar, os sons da floresta, grunhidos e piados, gritos e sussurros misturam-se naquele momento infinito em que seus corpo se tornaram mais uma vez um só com a natureza e com o universo.

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