terça-feira, 12 de maio de 2009

O passado não deve ser melhor que o presente; mas, dá uma saudade.

Estou na varanda de meu apartamento, como é no décimo sexto andar, vejo ao longe, uma nesga do Rio Negro, ainda assim majestoso, pois, ele está situado no local mais alto da cidade, o Aleixo. A tarde é bonita, anunciando o pôr do sol, que multicolore a cena. Vejo o grande radar do que era o aeroporto Ponta Pelada, hoje transformado em aeroporto da Base Aérea de Manaus, quase no centro da minha visão, e, mais à esquerda os prédios do centro da cidade, sombras cinzas, clamando por uma busca de sentido, de estilo. Minha mente automaticamente retorna ao passado, nostalgicamente. Lembro das pizzas comidas  à noite, lá pelas nove horas, num encontro obrigatório da juventude da época que literalmente amava-as. Realmente era uma pizza gostosa, massa grossinha, um molho delicioso, o queijo, as calabresas, tudo embalado por um bom atendimento, que aumentava a vontade de voltar. Era quase obrigatória a passagem pelo aeroporto para se deliciar com uma boa pizza e com um bom papo entre amigos e amigas. Diz respeito a uma época, pós guerra, de muitos questionamentos, de colocação em xeque os valores morais, como casamento, o viver bem às custas dos outros, a corrupção, o mal, o sonho de um mundo novo sob a era de Aquários, valores esses cantados e recantados em música como as dos Beatles, dos Rolling Stones, as bênçãos do despontar de uma nova era, uma nova filosofia de vida. Aqui no Brasil, a jovem guarda tomava conta, como nova idéia nos canais de TV, nos rádios, nas vestimentas, no modo de cortar os cabelos ou não, tudo apontando para um nascer de uma nova civilização, pura, sem dogmas, sem leis, sem hipocrisia, na verdade uma grande ansiedade de mudanças era demandada, a anarquia. O tempo mostrou que o sonho acabou, ou foi acabado e resumido por uma canção de um cearense:

- Apesar de termos feito tudo, tudo o que fizemos ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais...

A mudança não existiu, o sonho, portanto, acabou. A semente ficou não germinou nem floresceu. A corrupção desta geração ficou pior do que a reclamada, a negação de tudo o que foi pregado e tentado viver se quebrou como uma taça de cristal. A hipocrisia campeia nessa geração mais que em qualquer outra, pois, se busca primeiro o eu, o egoísmo, depois o que se pode distorcer do que se vê como o próximo. Falhou, quebrou, porque, as fundações eram premissas erradas, lages feitas só de areia, a transformação por transformação, onde não há parâmetro correto.

A noite começou. O colorido do sol é agora sombra acinzentada, sem definição tal como a geração pós guerra. Por outro lado lembro, que nem o Dr. Rogelio Casado, meu amigo psiquiatra, que escreveu em seu blog um conto sobre O Guarani, um dos cines de nossa época, muito bem escrito e que nos lembra o quanto, aqui em Manaus, nessa época, éramos ainda puros e com sonhos e esperanças.  Época boa de viver sem as preocupações de adultos que somos hoje. Somos preocupados com  distribuição de renda mal feita, as injustiças, a degeneração de nossas instituições, o caminho que a humanidade está tomando, o clamor de nossos políticos bem intencionados, mas, nunca ouvidos, enfim, o massacre financeiro e social das potências aos outros países,  e os problemas principais da humanidade como a fome, a proteção às crianças, a obrigação do estado na educação de todos, na saúde, e, assim, não vivemos mais como quando éramos crianças, tornando o viver uma luta, uma batalha invencível, onde os grandes perdedores somos nós mesmos, os homens. Por isso, quando terminei de ler o conto do Rogélio, postei o título dessa crônica:

- O passado não deve ser melhor que o presente; mas, que dá saudade, isso lá, dá.

Um comentário:

  1. Uma coisa sobressai nas entrelinhas do texto. Que seja qual for a ideologia, por mais completa e bem intencionada que seja, vai esbarrar na limitação da humanidade caída. Por isso que nosso sonho deve ser estabelecido em uma base maior que nós mesmos: a promessa de um Reino que vai transcender todos esses aqui da terra. Um Reino de paz, alegria e justiça para sempre. Um sonho que nunca acabará e que se cumprirá efetivamente na história dos homens!
    Gostei muito do texto!

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