quinta-feira, 7 de maio de 2009

Filhos e Netos – 1ª parte.

Natássia e Alexandre Filho    Alexandre Neto e Enzo

Estou em Boa Vista desde dia 25/02/09. Não vim como das outras vezes. Agora, de uma forma mais formal, pois, estou com a missão de tomar conta dos meninos, meus netos, enquanto seus pais viajam até São Paulo. É uma missão cheia de incertezas, pois, não sei se eles, os pequenos, me aceitarão no comando da casa. Uma coisa é você estar com eles na presença dos pais, outra, é estar sozinho, com toda a responsabilidade de alimentá-los, dar banho e levar e buscar na escola, fazê-los comer na hora certa e corretamente, acordar a tempo de realizar o que tem que ser feito. Gosto da idéia, mas, sei que é muito importante a aceitação incondicional deles a uma nova realidade de comando. Tive dois dias antes da viagem de seus pais para observar e vê se me sairia bem na missão.

- Você vai ficar legal com seu avô, meu filho? Era sua mãe, Natássia, minha nora, perguntando para o Enzo, o menor, se pelo menos teoricamente ele, aceitaria ficar comido durante cinco dias.

- Vô, ele é legal. Vai me dar presentes. Eu quero um lego, e, quero que você traga um naruto, uma arma do naruto e, uma infinidade de trocas. O mais velho também, numa escala menor, se contentou de, em recebendo alguns presentes, ficar cooperativo.

 Quinta-feira chegou, sexta também e no sábado, dia da viagem, a manhã transcorreu sem novidades, mas, quando chegou mais perto da hora do check-in, dos pais, no aeroporto, o Enzo começou a chorar muito, e, dizia que queria ir viajar com a mãe. Um choro compulsivo. Nada parecia fazê-lo calar. A idéia de ficar longe do seu “shelter”, de sua redoma, dava-lhe mais e mais vontade de gritar ao mundo que ele não queria ficar com ninguém que não fosse sua proteção maior, sua mãe. O pai lógico se colocou à disposição para ficar, mas, ele só queria a mãe de seu lado.O problema que ela iria à São Paulo a serviço de uma empresa, para reposição de estoque. A empresa é uma de vendas de móveis. Não tinha mais como evitar a ida. A dona da loja estava na mesma hora indo se encontrar com ela na feira de móveis, evento que reunia as últimas tendências na área. E o Enzo a gritar. Resolvemos o problema em uma conturbada estratégia, que consistia no seguinte: entramos em uma loja de brinquedos e compramos um lego, caríssimo, que parou o choro imediato do menino. Estávamos em dois carros. Em um deles a mãe, voltou para casa, para se aprontar para viajar e, enquanto ela se aprontava,  fomos, eu, o pai e os meninos, no outro carro,  à um restaurante, localizado em uma rua passagem para o aeroporto, e, enquanto, eu conversava com os meninos acerca do brinquedo, o lego, o quão era difícil de montar, o pai saiu e encontrando a mãe, seguiram para o aeroporto, me deixando na árdua missão de cuidar dos dois capetas.

                Fiquei surpreso quando na saída do restaurante, só nós, eu e eles, o Enzo me disse:

- Vô, minha mãe já viajou?

- Sim, disse eu, esperando uma reação mais violenta.

                Qual nada.

- Ela vai trazer um bocado de presente para mim e para o mano.

Fomos direto para casa. A casa se situa no bairro de Paraviana. É uma casa conjugada com outras no mesmo estilo e todas cercadas e protegidas com cerca elétrica. O portão da garagem, para dois carros, obedece a um comando que pode ser ativado de um controle.

Boa Vista esta época está muito quente. O calor é suavizado por uma leve brisa que nos socorre. Atrás da casa tem um terreno, ainda virgem, que por não ter sido ainda usado, é ponto de encontro de vários pássaros, entre eles, periquitos, araras, papagaios, rolinhas, sabiás e outros que acabam por tirar a nostalgia da tarde quente. A casa está longe do rio que banha a cidade, o Rio Branco. É um rio largo, mas, não como seu primo, o Rio Negro, no Amazonas. O governo construiu na margem, na orla, uma estrutura muito usada por quem chega e por quem mora em Boa Vista. E atravessando este rio o governo construiu uma ponte que une a cidade à fronteira com a Guiana Inglesa. Quem está na orla estruturada vê o quanto embelezou a cidade, o empreendimento.

Entramos em casa e, então, senti todo peso da responsabilidade embutida na missão.

- Minha nossa, pensei, comigo mesmo e agora?

Não tinha mais como voltar atrás. Fechei a porta e disse:

- Enzo, vamos montar o lego?

- Vamos, vô.

Alexandre Neto pode nos ajudar, pois, ele é o montador oficial e também o mais rápido na montagem de legos.

Começamos a montar. Devagar as peças foram se encaixando e lá estava ele. Um enorme robô. Na parte superior, o que seria a cabeça, um lugar para a personagem principal ficar sentado e controlando o robô. Como é lindo, disse eu.

- Vô, estou me comportando. Disse o Enzo.

- Sim, sei que você está se comportando bem e é merecedor dos presentes que seus pais vão trazer, não é?

Resolvi jogar futebol com eles, na garagem. Convidei-os e convite aceito fomos ao futebol. De repente, eles, unissonamente, resolveram jogar beisebol. Com um taco e uma bola, na rua, fomos ao beisebol. Rapidamente, outras crianças, agregaram-se ao jogo. Mais tarde, lá pela noite, fomos, cansados, comer suchi e pizza, na orla, aproveitando o vento que vem do rio e que ameniza muito o calor. O suchi era vontade do Alexandre e a pizza do Enzo. Comemos e voltamos para casa prontos para dormir. Assim foi o primeiro dia de nossa missão.

O segundo foi domingo. Acordei cedo e fiz uma vitaminada para o Enzo, pois, ele só tem quatro anos e tem tomar, de mamadeira, este alimento tão precioso nesta idade. A vitaminada consistia de água, banana, mamão, leite em pó, tudo batido em um liquidificador. Ele tomou-a, ainda dormindo, mas, segurando com suas próprias mãos a mamadeira. O Alexandre acordou e fez para ele uma vitaminada incluindo farinha láctea. Recebi uma mensagem, via telefone, de minha nora, Natássia, dizendo que o Sr. Paulo, esposo da Leninha, a dona da loja para qual estava fazendo compras, estava nos esperando para banho de piscina em sua residência. O Alexandre disse que sabia chegar até lá e, assim, fomos para lá. Eu sabia que estava esquecendo alguma coisa, mas, não sabia o que era. Foi uma manhã e começo de tarde, quente e monótona. Quando voltamos para casa, percebi o que esquecera: o filtro solar, os meninos estavam bem vermelhos. O Sr. Paulo estava muito preocupado com o estado de saúde de seu sogro. No entender dele pessoa mais completa no mundo não existia. Impressionava a ele a forma como ele tinha conseguido com muito trabalho criar uma família enorme, como era a dele. A preocupação era um tumor que tinha sido diagnosticado como câncer e que ao ser retirado fora prognosticado como letal, para desespero da família, em dois meses. Daí em diante houvera a formação de grupos de oração, diários. O fato é que, ou por erro de diagnóstico, ou por interferência divina, o homem acabou por se levantar do leito hospitalar. Enquanto conversamos sobre a fé houve um telefonema dos parentes de Leninha, avisando que o sogro acabara de sair do estado comatoso e se levantara em seus próprios pés e dizia que estava bem e que queria sair dali.

- Deus é tremendo – dizia o Sr. Paulo.

Depois do almoço resolvi que estava na hora de deixá-lo a sós com suas crianças, pois, também ele ficara tomando conta das crianças deles. Voltamos para casa e depois de um bom banho nos deitamos para um descanso. Ninguém dormiu. Lá pelas sete da noite, resolvemos sair para um lanche. Saímos de casa e paramos no banco do Brasil, para que eu pudesse sacar algum dinheiro. O Alexandre Neto, não definiu o que e onde poderíamos lanchar e por isso voltamos para casa. Parei em uma fruteria e  comprei, pães, e algumas frutas, como laranjas e mamão. Comprei também um queijo, chamado de manteiguinha. Chegados em casa, fizemos sanduíches e quando vi o Enzo já estava dormindo. Fiz rapidamente outra vitaminada a qual ele engoliu rapidamente. Estou me saindo bem, pensei. No outro dia, ao acordarmos os meninos eram só reclamação, pois, a ardência da pele vermelha era forte, a ponto da camisa não poder tocar nos ombros. Tratei de passar um creme hidratante e eles foram para a escola, reclamando. O telefone tocou era a Natássia minha nora avisando que o pai de Leninha tinha morrido.

O mais importante, disso tudo, não é sucesso da missão, mas, a convivência pessoal com o mais puro parentesco que existe: a sua continuidade genética neste mundo, tão perto, que se vislumbra, neste convívio, a idéia de eternidade. Deus é nosso guia, nosso elo, entre todas as gerações. Que enorme prazer é este de estar junto com sua continuidade, para sempre.

2 comentários:

  1. Gostei do texto. Me fez transportar para contexto, quase reproduzindo os cheiros, os sons e as imagens vivas das aventuras que vivenciaste nesses dias em Boa Vista com teus netinhos.

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  2. Tadinho dos meninos!!! Ficaram queimados!!! hehehe
    Mas tenho certeza que o senhor cuidou deles mto bem, pai! Saudades desses dois loirinhos!

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