quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Panegírico da Vida.

- Quero morrer e morrer bem morrido, dizia Carmem a seu cunhado Antônio José. Sabe daquelas mortes irreversíveis, porque, você sabe há mortes reversíveis, como o sono profundo e a anestesia que são uma espécie de morte, mas, que são reversíveis, se volta à vida. Quero esquecer-me de mim próprio e da vida com sua carga tão pesada, principalmente quando não se tem mais motivos...
- Mas, que loucura de pensamento. Nada de bom há na morte. Ela representa a finitude que nos deixa desazos em poder viver intensamente o que deve ser vivido. Pense bem. A nossa inépcia em compreendê-la torna tudo um pouco mais difícil, mas, depois de viver, se ter consciência, de se relacionar com objetos, seres e ser humano, que tipo de bondade pode haver na morte se nela estiver concentrado toda escuridão do nada? Existe ainda a possibilidade da morte em vida. Você se aniquila tanto que se torna um zumbi, um ser sem sentimentos e percepções, e, por quê? Porque quer ser reconhecido por outros semelhantes e acha que não está, não é correspondido? Porque tudo que você faz não é exatamente como o esperado? O que falta a um ser que tem tudo para ser feliz e não é, e, ainda por cima deseja a morte como solução para sua inépcia?...
- Você não entende. Creio que quando a gente morre, morre-se por inteiro, completamente. Nada há que fique a reclamar ou nos molestar. A vida cansa com seus altos e baixos, com todos os problemas diários, por isso a desejo, pois, para mim é descanso total...
- Veja, Nietzsche, em “Origem da Tragédia”, fala em algum canto, que nossas ações, sejam quais forem, requerem uma outra idêntica em outro lugar, este totalmente desconhecido, dando idéia de que há continuidade, constante da vida em ação. O mesmo ocorre, no clássico da física quântica, da árvore que cai na mata e não é vista, nem percebida por alguém. Este fato diz que apesar da não percepção a realidade existe. A árvore caiu na floresta, não houve percepção da queda, mas, ela caiu, isto é, o não perceber-se do fato não o exclui. O simples fato de você morrer não anula a possibilidade real de continuidade da vida...
- Não diga isso...
- Assim, o ser humano tem que aprender a conviver e viver intensamente o momento que está vivendo agora, ad infinito, mesmo que tenha problemas, como todos outros nove bilhões de seres humanos no planeta terra. O que vale dizer que o maior tesouro que há é a vida, essa que a gente está vivendo agora, por isso curta-a o mais que puder, com seus filhos, seus amigos, seus ex, com ou sem dinheiro, sem esperar que os outros reconheçam seus dotes, seus dons, para o feedback ser inteiro. Com ou sem morte, viva o momento que Deus lhe dá agora, porque, o futuro ninguém sabe, ninguém há que tenha acesso a ele...
- Quer dizer que...
- Quer dizer que você tem que se reciclar. O que importa na vida é o invisível, o essencial, como dizia o pequeno príncipe, de Saint Exupéry. Temos que aprender com Jesus. Servir os outros é amar como se deve, isto é, como a si mesmo...
Este é um trecho do diálogo entre Antônio José e sua cunhada em um dos capítulos do livro vindouro. É para pensar...

Nenhum comentário:

Postar um comentário