quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Invenções.

“... E, certamente, no dia que dela comeres serás igual a Deus”. Comemos, e, então, o homem agigantou-se, conheceu o bem e mal. Domínio quase completo de todos os elementos a ponto de fazer criações impossíveis de se imaginar, como o avião, bem mais pesado voando, singrando os ares, o navio, singrando os mares, as vacinas, a escrita, os artefatos de guerra, a roda, o fogo, a informática, a física quântica, o deslumbre dos componentes químicos, o genoma, a célula tronco, as comodidades caseiras, como as TVs e seus controles, a leitura ótica, as comunicações, o armazenamento de informações, a velocidade em informação, a medicina e suas descobertas mirabolantes, e, agora o Kindle, uma espécie de livro que tem uma capacidade de armazenar simplesmente, parece-me, 300.000 títulos de livros. Uma biblioteca ambulante. Borges relata um sujeito em Alexandria que possuía uma biblioteca com cem livros e a pergunta que corria entre os conhecidos era como pode uma pessoa ler tantos livros? Ele ficaria abismado com as novas formas, ininteligível para ele, de livros. Formas sem a peculiaridade dos tomos, dos volumes que ocupam tanto espaço em nossas estantes, mas, sempre amigas, pois, tem livros que convivem conosco a vida toda, são os livros de cabeceira, que passam a ser imprescindíveis em nossas vidas, de maneira que quando um assunto vem, imediatamente recorremos a eles sempre prontos, em seus devidos lugares, a nos fazerem sonhar ou entendê-lo.
Concordo, em parte, com ele. A mesma imagem criada quando da leitura dos tomos vai acontecer, certamente, na leitura dos livros nos Kindles, mas, o manuseio será totalmente diferente, pois, parece que o contato com o papel é uma espécie de momento mágico, onde o tato tem influência comparável ao carinho em uma pele lisinha, quando o papel é de boa qualidade é claro.
Por outro lado, nos Kindles, há a conveniência de não ter que virar folhas já que há um mecanismo de a tela “correr”, mais ou menos lenta de acordo com a vontade do leitor; também a marcação da página que estamos lendo é automática e segura; o Kindle é um volume único com a capacidade quase infinita de armazenagem, e, como na biblioteca de Alexandria vale a pergunta: Alguém lê tudo isso?
O fato é que a forma vai mudando assim como a dinâmica e o ritmo dos livros. O áudio livro é uma conseqüência disso. Livros relatados, cantados, com toda dramaticidade, assim querem seus inventores, mas, como filmes também, não atingem o cerne do objetivo dos livros, qual seja estimular a imaginação de quem lê, porque quem lê cria imagens e vivencia a história junto com o autor e quem vê filmes ou ouve histórias recebe-as prontas, a imaginação já recebe o produto na arte final.
A realidade é que precisamos nos adaptar às novas descobertas e estarmos com nossas mentes abertas para apreciá-las. Tomara que os livros, logo mais, criem a imagem, relatada na história, junto com nossos pensamentos, isto é, à medida que lêssemos a imagem formada apareceria em nossos cérebros e também na tela, tal e qual a vemos na imaginação, e, aí não precisaríamos ir ao cinema, nem ter salas com sons tão altos e ficarmos no escuro para podermos melhor para melhor perceber a imagem. Teríamos o nosso próprio filme.

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