sábado, 10 de outubro de 2009

Arari, cidade de meu pai.

Desde a minha mais tenra puerícia que ouço as histórias de meu pai, relatadas por ele mesmo. Eram histórias impressionantes que marcaram tanto a vida dele quanto a minha e de meus irmãos. Sempre o centro das histórias era a cidade de Arari, sua terra natal e município do Estado do Maranhão, e, dista 162 km de São Luiz, capital do estado.
Arari é uma palavra tupi-guarani que significa arara pequena. É uma cidade com cerca de 27.000 habitantes e que recebe turistas, passantes na BR-222, e, também freqüentadores das festas da cidade, recebendo também os que são calorífugos que nos bares beira rio descasam na brisa que o rio empresta à orla do Mearim, o rio que corta a cidade.
A cidade vive da plantação de melancias e de arroz, e, também dos festejos de Nossa Senhora das Graças, protetora da cidade, no dia 15 de agosto, também da festa do Bom Jesus dos Aflitos no di 14 de setembro, mês que também se comemora o Festival da Melancia, época na qual ararienses que moram em outras plagas costumam par lá irem a se encontrar com os conterrâneos. No mês de Abril há o Campeonato de Surf da Pororoca, fenômeno ocorrido do encontro das águas doces do Mearim e salgado do mar, produzindo ondas enormes.
Meu pai cresceu na alegria interiorana desta cidade, cheia de histórias como a da catedral no centro da praça, possível local de nascimento da cidade, o caudaloso e de forte correnteza Mearim, que data aproximadamente de 1728.
Acontecera episódios incríveis como emparedamentos de negros escravos, antes da abolição, na casa de uma mulher muito má que por lá residira. Tinha também a de outra mulher sem cabeça, em uma carruagem a apavorar a cidade depois da meia noite e a quem ousasse sair às ruas depois dessa hora.
As pescarias, dele com meu bisavô Rafael, eram garantidas pelos braços fortes e compactos do avô a remar o ir e vir contra a correnteza. A alegria da pescaria residia nos peixes pescados e nas conversas quase monossilabáticas entre eles.
Cresci ouvindo essas histórias. Resolvi, um dia, ir lá, in loco, ver e sentir no ar o que restou da história daqueles tempos e principalmente conhecer a casa de nascimento dele.
Entrei na estrada de entrada da cidade e imediatamente, de pronto, dirigi-me à praça, local de muitas brincadeiras pueris de meu pai. Estacionei o carro ao lado esquerdo, na descida a rua, de quem vai em direção ao rio. Desci e me deparei com a Igreja. Não tinha o nem o tamanho, nem o brilho da catedral que eu esperava, era ao contrário, uma igrejola. A expectativa criada pela história frustrou minha visão, assim também a do Mearim, que a mim mais pareceu um riacho com uma correnteza maior, não era como nossos rios daqui.
Imaginei, então, quando se é criança e pequeno a medida das coisas que vemos ganham proporções de enormidade, e, imediatamente, entendi que nada daquilo tinha algum significado considerando que o tempo em sua temporalidade, provisório que é nos dá a interpretação da realidade daquele momento em que estamos vivendo. A casa onde nascera não existia mais levada que fora pelas impetuosas águas do Mearim e ali naquele momento não tive outra opção senão abençoar e agradecer o local e a terra de nascimento e crescimento de meu pai.

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