segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A liberdade do Amor.

Felipe Nogueira era um rapaz alto para a segunda geração de migrantes paulistas chegados, no meio do século XIX, no Amazonas, estado bem ao norte do país. Em seus dezesseis anos de idade, Felipe, seguia fielmente uma igreja protestante, com toda sinceridade de seu ser. Observava religiosamente os preceitos e dogmas da sua religião. Seus ascendentes tinham escolhido para a fixação da família a capital do estado e tinham prosperado muito nesses anos de um trabalho quase colonizador, e, preocupados com a condição humana do local faziam de tudo que podiam para ajudar na educação, saúde e na abertura das mentes dos habitantes da região. A ajuda sincera provocou uma rápida aproximação política dos mais velhos, do clã dos Nogueiras, aos ambiciosos olhos da liderança estadual, o que provocou a eleição de senador e deputado estadual e depois federal, de alguns de seus membros, como o próprio Felipe, depois, conto a história.
Como dizia, em seus dezesseis anos, a família achou por bem prepará-lo melhor e tendo condições favoráveis, mandou-o a estudar em um colégio, acho que batista, no Rio de Janeiro, para abrir-lhe os horizontes e dá-lhe um amanhã melhorado com educação e a sólida base educacional que eles tentavam deixar para ele e seus irmãos, pois, Felipe tinha três outros irmãos, sendo um garoto, mais novo, e duas irmãs.
Ele chegou ao internato em final de fevereiro. Era um prédio incrustado na montanha, na subida para Teresópolis de maneira que seus lados e seu fundo eram circuncidados pelo paredão do morro. Uma obra arquitetônica de muita beleza principalmente porque fora idealizado por volta de 1897. Tinha, nesta época por volta de 40 anos. As salas de aula e o anfiteatro eram alocados em sua parte inferior, assim como a cozinha e toda administração. Os quartos, banheiros e salas de estudo e de recreação ladeavam os compridos corredores superiores.
A diretoria se esforçava para manter os jovens, moças e rapazes, longe uns dos outros, pois, a procura entre eles no afã de namorar era intensa e impressionante. O proprioceptor era rigoroso, pois, sabia que se o colégio adotasse medidas mais frouxas, com rédeas mais afrouxadas, o resultado seria catastrófico, assim, a ala feminina era separada da masculina fisicamente por paredes e portas e também pela presença maciça dos bedéis por toda parte. Era, diria, quase impossível haver qualquer tipo de relacionamento mais íntimo entre os jovens. O engraçado era que na hora das refeições as aproximações eram permitidas e a versatilidade de formas de relacionamento aflorava na criatividade que só a juventude premida pela repressão sabe resolver. Numa dessas refeições, olhares cheios de corações e promessas, Felipe e Sandra, uma potiguar de quatorze anos, com seus olhos verdes, cheios de vida e amor, se encontraram e ali naquele ínfimo espaço de tempo sabiam que algo de novo e interessante nascera em ambos e que deveriam, realmente, caminhar juntos na direção do futuro, este impulsionado pela enorme paixão que nascera instintivamente entre eles. Marcaram um encontro a noite na clareira, da trilha das árvores, trilha que assim chamada pela quantidade e qualidade das árvores ali existentes, e, que serviam de estudos aos jovens.
A noite era densa, mas, o combinado era que os dois deixassem os amigos e colegas de quarto dormirem e então descendo janelas abaixo entrassem mata adentro e se encontrassem numa espécie de clareira, não muito distante, onde se tinha instalado alguns bancos de madeira, largos e fortes, dando ao lugar um laivo romântico de extremado bom gosto.
Oh! Meu Deus como ela é bonita e vale o esforço, pensava Felipe, tremendo de medo ao deixar o corpo dependurar-se no espaço, para logo mais com seus pés à parede começar a baixá-lo até o chão. O problema agora era não ser visto, nem pego por quaisquer dos bedéis. O vento frio da serra batia francamente em seu rosto e por um momento pensou em desistir, mas, o lembrar olhar tão convidativo e provocativo de Sandra o fez prosseguir. Lá do outro do prédio, Sandra fazia a mesma manobra, excitada com o encontro, logo chegou ao chão e correu em direção à orla da floresta, onde sabia ter uma trilha que a levaria para a clareira.
Felipe, cuidadoso, andava, e, rapidamente chegou à clareira. Ela já estava lá. Estava vestida com um roupão que cobria totalmente a camisola de seda rosa. O roupão era trabalhado em apliques japoneses que davam um ar gracioso ao manequim. Seu colo arfava pela excitação do encontro clandestino. Não falaram nada, simplesmente se abraçaram e se beijaram apaixonadamente, e, fizeram amor até de madrugada.
O amor não pode ser enclausurado, preso, existe por ele mesmo, numa liberdade sem fim.

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