sexta-feira, 31 de julho de 2009

Colégios.

    Estou de volta à Boa Vista, essa magnífica cidade, situada mais ao norte do país, e, por onde meus sentimentos moram, pois, aqui moram meu filho mais velho e minha nora, juntamente, com os meus dois netos que talvez por morarem longe de nós outros fazem com que nossas almas sintam mais saudades e nos fazem jorrar ternuras de nossos corações, às lembranças de quando moramos juntos, isso, por volta de mais ou menos dez anos consecutivos. Não há menosprezo por outros filhos e neto, mas, confesso que a saudade ganha conotação de potencializador de sentimentos, os amo do mesmo jeito destes. Já vim aqui outras vezes, mas, apenas duas com a mesma missão: tomar conta de netos. Não é tarefa fácil. Os meninos cresceram tão rapidamente que confesso não acompanhei tal ação do tempo e da natureza. Percebi isso logo de manhã cedo ao deixá-los na escola. Acordamos no horário e depois de um café bem quentinho, saímos, e, quando chegamos à escola, tentei em vão levar o mais novo no colo como sempre fiz, e, ele ia tão grudado em meu ombro que eu tinha que pisar mais leve de modo a não acordá-lo, à sua sala de aula, mas, qual o que, ele me falou:

- Vovô, o senhor pode me colocar no chão? Não sou mais criancinha.

Prontamente obedeci em respeito à entonação do pedido, tão sério que julguei estivesse cometendo um grande erro. Tentei, ele já no chão, segurar sua mãozinha, mas, ele recusou. Chegamos à porta de sua sala de aula e ele então me disse:

- Tchau, vovô; e, entrou no emaranhado, uma multidão de crianças que falavam ao mesmo tempo. A professora já chegara, mas, ainda não começara a aula.

Sorri e saí. Apressadamente, a tempo de ver meu outro neto, o mais velho, ainda no pátio, brincando, de uma maneira mais sutil, talvez, se exibindo para as meninas de suas respectivas salas e idade, enfim, todos querendo chamar a atenção feminina e, logicamente as meninas se exibindo e querendo chamar a atenção dos meninos. O tempo passa e a vida se repete, pensei, também brinquei assim no meu tempo de criança, começo de paqueras, esperanças ilimitadas, vida longa e rápida pela frente.

Ainda me vejo no pátio do colégio Batista Ida Nelson, na adolescência, querendo ter conversas sérias e impressionantes com meus amigos, o Beto Michiles, meu melhor amigo à época, sempre do meu lado me fazendo ver e entender as paqueras, pois, o mesmo tinha a capacidade de perceber quem estava paquerando quem de uma forma que só ele entendia. Tenho o prazer, depois de tanto tempo, a amizade preservada, de ainda poder conversar e aumentar a amizade consolidada no tempo pelo respeito mútuo e mesmos ideais. Os netos estão a repetir nossas histórias, e, as preocupações dos velhos continuam as mesmas: crescê-los sem que haja desvios muito fortes em suas personalidades, suas histórias e a idéia da continuidade da vida seja uma constante na preservação do núcleo familiar como base para uma sociedade melhor. Falar em Humberto Michiles me faz lembrar uma história vivida por nós dois em uma aula de desenho, cujo professor, sujeito iracundo, não permitia que conversássemos sobre nenhum assunto que não fosse sua matéria. Nesse dia, estávamos, Humberto, eu, Banana e Gambá, a bom conversar sobre temas os mais diversos possíveis, quando, o professor, percebendo nossa infantilidade e sendo muito severo determinou:

- Por favor, os quatro aqui na frente, agora, falou arregalando os olhos.

Fomos os quatro à frente e então ele fez uma única pergunta de sua matéria, valendo dez pontos, que deveriam ser somados aos da prova mensal e divididos por dois, o que geraria uma nota final:

- O que é uma linha, Sr. Banana?

O Banana era o mais tímido da classe, mas, estudioso, com o ar de quem fora pego em um delito muito sério disse:

- Linha, professor, é uma extensão de um ponto.

- E o Sr, perguntou o professor, para o Humberto, que acreditou na resposta do Banana e disse:

- É isso que o Banana falou, professor.

- E o Sr. Aí? E apontou para mim obtendo a mesma resposta, idem para o Gambá.

- Zero para os quatro. Linha é uma sucessão de pontos.

Tivemos que nos matar de estudar para tirarmos dez na nota do mês para que depois de dividida por dois alcançasse a média cinco, média de passe na matéria, passamos. O ensino é assim, percebo hoje, que ambas as respostas são corretas, mas, na interpretação do professor era uma sucessão de pontos, que fazer?

Temos feito, em nossas vidas, sucessões de pontos, deslocamentos de pontos, e, espero sinceramente que possamos continuar em nossos filhos e netos a sucederem na vida, é o que peço a Deus meu Senhor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário