segunda-feira, 12 de abril de 2010

Meu Rottweiller. Solidão.

Estava saindo de um trauma por conta de um enorme fila que atacava a tudo e a todos nos momentos mais inesperados possíveis. Este fila era um puro sangue, mas, de um temperamento exagerado. Sua enorme cabeça sobressaia de um corpo grosso e sólido, apoiados em umas patas firmes e grandes. Sua postura era de ataque puro, constante, na hora que fosse. Não suportava a ninguém e a nada. Dilacerara os músculos e carnes da coxa de uma moçoila que trabalhava em casa e também os de um pintor de paredes que por lá trabalhara. Chegara a ponto onde não respeitava a ninguém. Algo acontecera em sua personalidade que não o deixava mais a vontade com a gente da casa. Estava decepcionado e triste com a raça. O Brutus como o nome sugeria era por demais e exageradamente violento. Resolvi mudar de fila para rottweiller. Li e pesquisei a raça. Aprendi, lendo e depois na prática que o rottweiller é um cão de guarda, pesado, com uma mordida fantástica, amigo das crianças e muito inteligente. Na pesquisa achei um canil que me pareceu muito bom o Thunderstorm. D. Clarice Paes, sua dona, proprietária consciente e extremamente profissional no trato com os animais, me indicou um filhote que além de bonito, apto para exposição, também transparecia uma boa índole, o que significava que guardaria minha casa e cuidaria das crianças.
Ele chegou numa sexta-feira à tardinha, logo após meu expediente do consultório. Fui ao aeroporto buscá-lo. Tinha noventa dias de vida e viajara em uma casinha de madeira e me pareceu assim que a depositei no chão ouvir um grunhido como de um urso pequeno. Quando abri a porta e ele saiu meu coração acelerou e senti, naquele momento, que a vinda daquele cão em minha, e, a de minha família, vida mudaria para sempre.
A cabeça de um rottweiller é grande, incrustada em um pescoço forte o bastante para assegurar um volume que impressiona a quem o olha de frente, pois, parece que ele segue para baixo unindo-se quase na largura do peito largo o que confere uma espécie de emanação de poder potencializado por um olhar extremamente penetrante, tudo apoiado por potentes patas que mais parecem patas de urso tal o tamanho. Olhando aquele magnífico espécime da raça canina senti a segurança que a raça costuma passar e me tranqüilizei, certamente estaríamos seguros com ele por ali, vigiando e brincando com nossas crianças.
Um dia ao chegarmos em nossa casa vindos do sítio, como sempre, logo gritei o seu nome, procurando-o. Não houvera resposta e então o vi lá no fundo do quintal imóvel como morto. Aproximei-me e constatei o pulsar cadenciado da respiração e vi sangue escorrendo de sua boca. Observando mais reparei que seu pescoço sofrera estrangulamento, pois, estava muito edemaciado e com sinal de ter sido usado uma corda para tal prática. Respirava, mas, não havia sinal algum de que estivesse consciente. Talvez algumas pessoas tivessem tentados invadir a nossa casa e foram repelidos por ele, Xandir, e, não tinham alcançado seus objetivos, não tinham conseguido entrar em casa.
Comprei alguns antibióticos e antiinflamatórios e comecei um tratamento que terminou quase um mês depois, mas, salvou a vida de meu amigo, porque, no décimo quinto dia, quando levantei a pele do seu quadril para injetar o medicamento houve uma contração muscular na região o que me deu certeza de que ele escaparia daquele tremendo sofrimento. Ficou mais amigo ainda. Quando me sentava no enorme pátio, em uma cadeira de balanço, ele gostava de se posicionar de maneira que sua pata dianteira descansasse sobre minha coxa e então para chamar atenção deslocava a cabeça de um lado para outro como se quisesse ou pudesse entabular uma boa conversa e assim ficávamos horas ali naquele aconchego vespertino, enquanto o sol se punha e a noite chegava.
Fiquei grato a ele por tão precioso sacrifício de ter lutado com quem quer que tenha tentado entrar em casa e ter quase morrido por esta questão, sua missão maior. Lembro da última vez que o vi. Foi uma despedida emocionante. Ele, nobremente, como se entendesse o que se passava, estendeu sua pata como se me desse uma mão que eu tratei de segurar com a minha e balançou a cabeça como que querendo me dar uma chance de voltar atrás na decisão que tivera que tomar, pois, agora íamos morar em um apartamento e ele não poderia ir. Meu olhar seguiu-o até a pickup dobrar a esquina da rua, lá em cima, tentei correr atrás e gritar que eu tentaria levá-lo para o apartamento mas minha voz não saiu e meus pés não correram atrás do carro. Fiquei ali amargando a dor da separação, sozinho com a mão estendida. 

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