terça-feira, 13 de abril de 2010

É melhor não saber.

Sentado, aqui na cafeteria, saboreando um bom café, só, imaginando o que escrever hoje em meu blog, vejo e ouço um grupo de senhoras japonesas conversando sobre algo que não sei o que é, pois, elas conversam em suas línguas. Riem bem alto, o que me desperta a curiosidade de saber exatamente o que falam, parece ser algo muito bom, pois, riem a valer. Uma delas leva as mãos ao rosto e o cobre com as mãos em concha e a risadagem continua e fico a imaginar, agora, mais vividamente o que seria o teor da conversa. Acho que a mais velha, uma senhora com o rosto bem enrugado, contara algo que levou as outras três ao paroxismo do riso. Não havia, aparentemente, veleidade alguma na ação das três. Pensei, só pode ser uma piada imoral, daquelas que numa rodada são comuns e acabam por potencializar o senso comum de alegria, onde a individualidade cede lugar ao grupo. Depois, imaginei que não podia ser uma piada imoral posto que a respeitabilidade imposta pela idade da senhora era evidente e demonstrada no rostinho angelical da idade e no sorriso de dentes postiços. Algo sério é que não seria senão não ririam tanto. Fiquei então com piadas como aquela do português que pulara de pára-quedas e o tal dissera a ele:
- Estou contigo e não abro.
Pararam de rir e estão, certamente, falando de algum assunto de suma importância. Todas sérias e compenetradas. A velhinha como sempre é quem falava. Explicava com certeza algo de grande importância, pois, atraia a atenção das outras três. Os rostos mostravam claramente a importância do assunto. Imaginei então que ela ensinava às outras técnicas de fazer amor e o benefício desta na vida diária das mulheres. Irritei-me, comigo mesmo, só conseguia pensar “naquilo”, é claro que a mulher estava discorrendo sobre algo transcendental, algo que ao contrário do que eu imaginava resolveria as questões básicas da vida, daria veredas de discernimento e sabedoria na vida, falava do amor, da família e sua sustentabilidade neste mundo cruel, esse que vivemos coisas assim desse tipo, sem o laivo da maldade, certamente estaria com suas histórias engrossando o préstito da mais pura religiosidade, e, eu teimando em maldar transgredindo a natureza porquanto a senhora não devia ou não efetivamente pensava mais “naquilo”.
A porta principal abriu-se e entraram dois senhores de terno conversando animadamente, em português, acerca da chuva intensa no país e a catástrofe em alguns estados. Sentaram em uma mesa mais isolada no fundo do salão.
As japonesas se levantaram e endereçaram-se para a saída. Saíram solenemente. Lá fora os carros passam velozes na artéria principal do bairro onde está localizado o café. A vida continua sem parar numa enorme velocidade com uma música tipo rock tocando insistentemente nas caixas de som do café. Quem pode saber o que acontece ou acontecerá, ou que se passa na mente das pessoas ou o pensamento bom ou mal que está ao seu redor? Quem pode saber exatamente o que se passa ao seu lado? É melhor não saber. Pode decepcionar. 

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